Um olhar sobre os vídeos de skate da Supreme
Como uma das marcas mais famosas de streetwear do mundo enxerga a necessidade de amplificar suas raízes
Se você acompanha o streetwear ou o skate mundial, você conhece a Supreme. A loja norte-americana, criada em 1994 em Manhattan, em Nova Iorque, por James Jebbia, é uma das mais famosas skateshops do mundo - e hoje dá até pra dizer que é muito mais que isso. Mas o fato de ter nascido uma skateshop e ter em seu DNA o skate, é o que deu e dá muito da estética de suas criações até hoje.
A Supreme sempre teve um time de skate, desde o seu começo. A primeira crew de patrocinados contava com Ryan Hickey, Justin Pierce, Gio Estevez, Paul Leung, Chris Keefe, Jones Keefe, Peter Bici, e Mike Hernandez, trazendo o skate nova iorquino como protagonista. Elenco foda, cheio de skatista bom, então o que fazer com isso? Um vídeo, é claro.

A Love Supreme, de Thomas Campbell, foi o primeiro vídeo de skate da Supreme e saiu em 1995, trazendo a necessidade de mostrar não só produto, mas também manobras, lifestyle e cultura do skate em outras plataformas. O vídeo foi tudo isso, mesclando Jazz e fazendo uma brincadeira com o álbum de mesmo nome do John Coltrane, lançado em 1965, mostrando uma vivência skatística de uma forma mais artística e bastante urbana de Nova York. Esse vídeo depois se tornaria referência para um skate mais solto e intrínseco à cidade - características presentes no skate da costa leste americana - e também influenciando outros videomakers e skatistas a gostarem e colocarem jazz em suas produções.
De fato, depois do A Love Supreme, a marca se viu num hiato de vídeos grandes de skate, tendo uma ou outra propaganda nos 411VM e olhe lá. Seu segundo full lenght só sairia em 2014, mas viraria, novamente, um marco geracional. O Cherry, de Bill Strobeck, mudou o game do audiovisual do skate na década.
Dylan Rieder e Alex Olson no Cherry
O Cherry contava com um elenco de peso: Mark Gonzales, Eric Koston, Paulo Diaz, Brian Anderson, Jason Dill, Harry Jumonji, Guy Mariano, Stefan Janoski… A lista não para e todos ou eram patrocinados ou tinham alguma relação com a loja. Alex Olson e Dylan Rieder dividiram uma parte, sendo uma das mais icônicas do século XXI, uma que fez muita gente querer ser bonito igual os caras (impossível).

Outro ponto que fez diferença foi ter reunido uma molecada muito talentosa da cidade para manobrar e ganhar protagonismo no vídeo: Tyshawn Jones, Kevin Bradley, Ben Kadow, Na-Kel Smith, Sage Elsesser e Sean Pablo — nomes que se tornariam alguns dos principais skatistas da nova geração. Tyshawn, inclusive, seria eleito skatista do ano pela Thrasher em duas ocasiões.

Esse vídeo trouxe manobra, estética local, product placement em diversos momentos, lendas e novas caras, ícones culturais além do skate tipo a Chloe Sevigny (mesmo ela tendo relação com o skate, ela vai além, né?) e trilha sonora muito boa. Um vídeo completo, cheio de elemento pra depois ficar lembrando, revisitando e curtindo uma nostalgia da época que foi lançado.
Depois, a Supreme foi numa toada boa de lançar vários vídeos grandes, quase um por ano, trazendo a estética do "”zoom in na cara - zoom out na manobra” que o Bill Strobeck usou tanto e ficou tão associado. Destaques para Blessed (2018), Candyland (2019), Play Dead (2022) e HEADBANGER (2025), todos vídeos grandes e com skatistas referências nos anos em que os vídeos saíram.

A Supreme entendeu a importância de se ter produções audiovisuais corroborando sua estética e sua origem, isso é um fato. Principalmente depois do Cherry, estar criando junto do time de skatistas foi algo além de só uma ode à cidade de Nova Iorque - era mostrar que skatistas lançavam tendências e que a loja é uma referência no assunto. Não é só filmar para mostrar produto, mas para se manter na atualidade daquilo que estava acontecendo em um dos seus maiores pilares, o do skate de rua.
No documentário Empire Skate, de 2025, produzido pela ESPN na série 30 for 30, dos Estados Unidos, o documentarista Josh Swade explora a o crescimento do streetwear pela lente do skate e das skatehops, com grande foco na Supreme nos anos 90 e sua importância para a cultura. Ele afirma: “Com o Empire Skate, queríamos fazer uma homenagem a essa energia e contar a história de como uma pequena skateshop ajudou a impulsionar uma cultura global.”
Trecho sobre a Supreme extraído de Empire Skate
Em 2025, a Supreme é muito maior do que era nos anos 1990, sendo operada pela VF Corporation desde 2020 (comprada por 2.1 bilhões de dólares). Porém, seu compromisso com a cultura do skate e sua devolutiva em projetos audiovisuais continua intacta - e até mais frequente que nas décadas passadas.
O vídeo full lenght mais recente, HEADBANGER, conta com 30+ minutos filmados e editados por Bill Strobeck, sendo fechado por Zion Effs, mais um jovem que brilha em um dos vídeos da loja. Marcas registradas, boas trilhas sonoras, vivências de Nova Iorque... Assim caminha o skate nos vídeos da Supreme.