Test e Deafkids e a trilha sonora do fim do mundo

As duas bandas levam o experimental como bússola em "Sem Esperança" com diferentes sonoridades pesadas e percussões tribais

Test e Deafkids e a trilha sonora do fim do mundo
As duas bandas juntas

Celebrando 15 anos de existência, Test e Deafkids se reúnem mais uma vez mas, diferente de ser um projeto que existia só no ao vivo, como nos anos anteriores, dessa vez as bandas entraram em estúdio no final de 2024 e trouxeram à vida o álbum “Sem Esperanças”, programado para ser lançado fisicamente em novembro de 2025 - mas que já dá pra ouvir oficialmente no bandcamp (e por alguns envios não oficiais em outras plataformas).

A capa de "Sem Esperança" por Douglas Leal

As experimentações da junção de noise, grindcore e de ritmos que vão além do hardcore e do metal, foram o grande norte para as 10 músicas que saíram no álbum. Test, dupla formada por João Kombi e Barata, e Deafkids, composta por Douglas Leal e Marian Sarine trazem toda sua gama de elementos e de referências, mas aqui eu acredito que vão um pouco além - parece não ter limite pro que é “barulhento” ou “dissonante”, sendo realmente uma experiência ao-vivo-gravada. São duas guitarras, duas baterias, samples, vocais, sintetizadores e muita ideia diferente coexistindo. 

Tudo aquilo que você vê nas apresentações das bandas quando se apresentam juntas, você ouve no Sem Esperanças. Quando você começa a bangear, já existe um corte e outra coisa maluca entra em cena. Imagina você colar num show de grindcore e ter baterias de ritmos africanos e beats de música eletrônica se mesclando no mesmo palco. É meio que por aí. 

Sobre o Sem Esperança

O álbum começa com Selvagens, Demiurgo e A Marcha, com percussões tribais que levam a um grindcore quebrado de guitarra e bateria. Demiurgo traz o primeiro solo de bateria do álbum, mais pro fim da música, deixando claro que a percussão aqui tem um peso fundamental. Em A Cegueira, as bandas caminham pela música eletrônica depressiva e amedrontadora, tipo uma cena do filme do Blade em que você não sabe a hora que vai se fuder no meio da pista de dança. Por falar em dança, Dança Insana, a próxima música, traz mais um solo de bateria e uma performance digna de Bola de Ouro se o Barata jogasse com a 10 em algum time. Em Erro, uma brincadeira de sintetizadores faz uma pausa nas baterias tribais, mesmo elas voltando na sequência em Pó de Ferro. Paraísos Plásticos, Novos Métodos e Buraco completam o disco mesclando tudo isso em ritmos dissonantes e cheios de contrapontos, mas que no projeto funcionam de maneira curiosa.

O Barata por si só é um episódio à parte. Eu também, se tivesse um baterista como ele na banda, ia falar só “toca aí o que você quiser”, porque ele é muito embaçado. Os trechos onde a bateria imperam, na minha visão, são os pontos altos desse projeto.

Barata por Gil Inoué

Ouvir o álbum me fez lembrar de filmes do cineasta italiano Lucio Fulci, principalmente o “Zombie”, de 1979, trazendo um enredo de fim do mundo apocalíptico dominado por zumbis, mas com uma trama africana por trás, nessa pegada de magias voodoo e de macumba, ambos termos de origem de religiões como o Candomblé e do vodu haitiano, como aparece no filme. Até na trilha, os filmes também trazem fortes momentos de batidas tribais, o que me fez lembrar ao ouvir o Sem Esperança, do Test e do Deafkids - uma trilha sonora cheia de elementos de percussão e ancestralidade para um mundo sem salvação. 

O vinil 12 polegadas vai ser lançado pela Rapid Eye, na Europa, pela All Music Matters no Brasil, e em CD pela Cospe Fogo. A capa é feita por Douglas Leal e as fotos de divulgação são de Regis Bezerra. 

Ficha técnica:

Gravado em são Paulo por
Andre Leal e João Kombi

Gravado, mixado e masterizado por
Andre Leal e Kleber Mariano

Capa e Design por 
Douglas Leal

Fotos por 
Régis Bezerra

Produzido por DEAFKIDS & TEST

TEST
João Kombi: Guitarra, vocais
Barata: Bateria

DEAFKIDS
Douglas Leal: Guitarra, vocais
synths, percussão, sax tenor, berimbau
Marian Sarine: Baterias e percussões 


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