Stefanie lança “BUNMI” e transforma sua história em presente para o rap nacional

Produzido por Daniel Ganjaman e Grou, álbum de estreia celebra 21 anos de trajetória com rimas de coragem, ancestralidade e afeto coletivo

Stefanie lança “BUNMI” e transforma sua história em presente para o rap nacional
Stefanie por Thales Côrtes

No jogo do rap desde 2004, reverenciada por sua entrega lírica e pioneirismo, Stefanie estreia oficialmente com BUNMI, um disco que carrega muito mais do que beats e versos — carrega um ciclo de 21 anos, de estrada, de enfrentamentos e de fé no que se constrói com verdade. Lançado nesta sexta-feira (25) pela Jambox Records, com produção dividida entre Daniel Ganjaman e Grou, e apoio do edital Natura Musical, BUNMI é uma obra densa, afetiva e espiritual. É o reflexo de uma artista que não só sobreviveu a muitas marés, mas que aprendeu a transformar suas ondas internas em som.

Nascida e criada em Santo André, na região do ABC paulista, Stefanie é uma das mulheres pioneiras da cena do rap brasileiro. Influenciada por nomes clássicos dos anos 90, fez parte de grupos marcantes como Simples, Pau-de-Dá-em-Doido e Rimas & Melodias, onde se destacou por sua escrita precisa, sensível e por seu flow firme. Ao longo dessa caminhada, foi reconhecida por sua postura, sua caneta afiada e sua capacidade de versar com identidade — sempre com o cuidado de quem sabe o peso e a potência da palavra.

Capa de BUNMI. Arte por P. Von Haggen

O título do disco, BUNMI, vem do iorubá e significa “meu presente”. E é exatamente assim que Stefanie o define: uma celebração da sua história, um oferecimento de tudo o que a fez chegar até aqui. Em suas palavras:

“BUNMI é a celebração de cada passo que dei, das batalhas que venci e dos sonhos que ainda estou conquistando. Conseguir chegar até aqui, com certeza, é uma das minhas maiores vitórias. Este álbum é meu presente para o mundo, fruto da minha história e da minha alma. Cada verso carrega um pedaço de mim, e eu espero que ele toque quem ouvir, assim como ele me tocou ao ser feito.”

Mais do que contar sua própria história, Stefanie convida o mundo para dentro de BUNMI. O álbum abre com a atmosfera luminosa e crescente de “Fugir Não Adianta”, faixa que conta com a presença doce e firme de Mahmundi. A partir daí, o disco passa por diferentes tons — do íntimo ao político, do soul ao boombap, da ferida à cura. Em “Por um Fio”, Stefanie e Rodrigo Ogi versam sobre situações em que viveram no limite entre a vida e a morte. Depressão, queda e a busca por forças e motivos para seguir em frente.

“Não Pirar” fala sobre saúde mental e a importância de se manter em equilíbrio e conta com o reforço da chilena Ana Tijoux, lenda do rap latino, na ativa desde os anos 1990, quando estreiou com seu grupo Makiza. “Desconforto” foi o primeiro single lançado do disco há uma semana quando Stefanie já chegou com os dois pés na porta, cutucando a ferida aberta do racismo estrutural.

“Mundo Dual” é um mergulho autobiográfico que conta com a beleza, sofisticação e espiritualidade do piano de Jonathan Ferr. Em “Nada Pessoal”, Stefanie fala da importância de se tirar um tempo pra si, dos espaços para colocar a cabeça no lugar para poder seguir em frente.

A faixa “Outra Realidade” é um marco: une três gerações de mulheres negras do rap — Cris SNJ, Nega Gizza e Iza Sabino — em um verdadeiro rito de força e continuidade.

“MAAT” talvez seja o momento mais simbólico do respeito conquistado por Stefanie no disco: ao seu lado estão ninguém menos que Rashid, Kamau, Emicida e Rincon Sapiência, reverenciando o peso da voz e da caminhada da MC. Em “Puro Love”, Luedji Luna canta como se soprasse esperança sobre as feridas, transformando cicatrizes em poesia. E em "Plenitude", a música que fecha o disco, ela reflete sobre a maturidade que só o tempo é capaz de trazer.

Com produção dividida entre Daniel Ganjaman — mestre em criar atmosferas que ampliam sentidos — e Grou, conhecido por sua sensibilidade e inventividade sonora, o disco equilibra boom bap, soul, jazz e elementos eletrônicos com um propósito: valorizar a palavra. O instrumental nunca se sobrepõe — ele respira com Stefanie, dá ritmo ao que ela precisa dizer, cria o ambiente exato para cada verdade se manifestar.

BUNMI certamente já é um dos lançamentos mais importantes do rap brasileiro em 2025. Não apenas por sua qualidade musical, mas pela história que ele representa. É o disco que chega quando é tempo. Que honra a caminhada. Que reverencia quem veio antes e abre espaço para o que vem depois. Como o Ganjaman já falou sobre, esse disco é sobre reparação histórica.

Stefanie entrega aqui um trabalho que é seu dom, mas também é sua cura — e que agora pode curar quem escuta. Porque BUNMI, mais do que estreia como álbum solo, é permanência. É tempo, memória e fé em forma de verso.


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