Skepta e outras vezes que artistas de grime vieram para o Brasil
Relembrando algumas passagens de DJs e MCs de grime em nosso país
Amanhã, domingo 23/11, Skepta irá se apresentar pela primeira vez no Brasil, no festival CENA 2k25, em São Paulo.
O artista é o principal nome associado a cena do grime, e será o representante do gênero no festival que é 100% focado em trap. Skepta é um dos responsáveis por popularizar o gênero para além do nicho, com seu grande impacto na moda e na cultura.
Aproveitando essa ocasião especial, contei a ajuda do meu amigo ANTCONSTANTINO para elencar algumas vezes que artistas de grime vieram aqui para o Brasil, se liga na lista!

2005:
Dizzee Rascal
Pouco tempo depois de ter lançado Boy In Da Corner, tido por muitos como o álbum mais importante da história do grime, Dizzee veio para o Brasil se apresentar no Tim Festival em 2005, no Rio de Janeiro.
Essa foi a primeira vez que um artista de grime se apresentou em solo brasileiro (até onde conseguimos encontrar), mas o gênero já havia chegado aqui anos antes. Em seu álbum Declaração de Guerra, lançado em 2002, MV Bill se inspirou na sonoridade de Dizzee para a construção das faixas "Cidadão Comum Refém" e "Dizem Que Sou Louco", os primeiros registros de grime feito no Brasil.
Uma reportagem da Omelete da época descreveu o show como "irregular e cansativo, apesar da sua impressionante capacidade de gritar frases gigantescas com pouco fôlego e muita raiva", e acrescentou: "o rapper tocou boas músicas, como 'I Luv U' e 'Stop Dat', de Boy In da corner, mas passou despercebido.”
É curioso ver como a sonoridade incomodava o público, nesse momento em que ainda estava começando a se consolidar enquanto gênero, ao mesmo tempo que já gerava interesse nos artistas daqui. A relação do Brasil com o grime foi intensa nesse começo, com alguns artistas experimentando a sonoridade por aqui e essa passagem do Dizzee, momento que se seguiu de um hiato de quase dez anos até o próximo retorno.

2013:
Lady Chann
Lady Chann é uma das vozes mais importantes da cena do grime, sendo a responsável por um dos versos mais marcantes da história recente do gênero, com sua participação em Topper Top, ao lado de Sir Spyro, Killa P e Teddy Bruckshot (R.I.P Stormin MC).
A vinda dela para o Brasil fez parte do projeto chamado Bass Culture Clash, uma conexão entre a Bahia e Londres. Numa espécie de intercâmbio cultural, os ingleses Lady Chann, Heatwave e Natty se juntaram aos grupos brasileiros OQuadro e Os Nelsons. Aqui no Brasil, essa seleção passou por Salvador e Ilhéus, e depois foram até a Inglaterra, passando por Londres e Brighton.
Nessa época, Chann fazia coisas muito mais ligadas ao dancehall, mas logo depois o grime começou a aparecer na sua sonoridade. Nos vídeos produzidos na época do projeto é possível ver a MC se apresentando junto com OQuadro, e falando um pouco sobre o projeto. O mini-doc completo está disponível aqui, e linkado aqui embaixo, a passagem do projeto por Salvador.
Bass Culture Clash @ Salvador - Bahia
2014:
Plastician
O DJ britânico responsável por uma das sonoridades mais singulares dentro do dubstep e do grime esteve por aqui na época da Copa do Mundo e fez alguns sets pela Wobble.
O seu disco de 2007, Beg To Differ, foi um verdadeiro divisor de águas, contando com feats de Skepta, Frisco, Tempa T, Chronik e Esco em cima de batidas que viriam a redefinir as distâncias entre o grime e o dubstep.
Aqui no Brasil, ele se empolgou tanto com a energia da Copa do Mundo que pediu uma camisa da Seleção Brasileira para tocar, como conta Heloisa Tolipan em matéria da época. As fotos dos eventos ainda estão disponíveis no site I Hate Flash, para quem quiser ter uma imersão maior na época pode entrar aqui e aqui.


Fotos: Eduardo Magalhães/Francisco Costa/Gabriel Gonçalvez/ I Hate Flash
Bok Bok
Bok Bok é um DJ e produtor inglês de grime, além de co-fundador do selo inglês Night Slugs. O seu som é recheado de influências de outros gêneros da música eletrônica, como electro, R&B, house e dubstep, e por meio de seu selo, fomentou e segue fomentando uma nova onda de produtores da bass music.
Ele veio para o Brasil em 2014 para tocar no festival No Ar Coquetel Molotov, em Recife, no palco Red Bull Music Academy, voltado para DJs e projetos live, que contava apenas com ele e FaltyDL, dos Estados Unidos, como atrações internacionais.


Bok Bok e lineup do festival
2016:
Plastician (de novo)
O DJ voltou para o Brasil dois anos depois de sua primeira passagem, e dessa vez, foi flagrado tomando uma cervejinha. Ele veio novamente para tocar na Wobble, em um rolê que contou com a presença de um jovem BK, na época em que ele se preparava para soltar Castelos e Ruínas.


Fotos: Fernando Schlaepfer/Francisco Costa/ I Hate Flash
Logan Sama, Blakie e Elf Kid
O trio composto por Logan Sama (DJ) e os MCs Blakie e Elf Kid veio para o Brasil para tocar em um evento das Olimpíadas que aconteceram no Rio de Janeiro.
O evento London's Soundtrack foi realizado no interior da British House — no espaço do Parque Laje —, que foi o centro oficial dos atletas britânicos na ocasião. Se tratou de uma celebração da música que rolava na Inglaterra em uma festa para os atletas e equipe. Foi produzido um mini documentário com trechos do show e falas dos artistas, se liga:
Rio gets a taste of British grime
Swindle
O produtor inglês veio ao Brasil para o lançamento de seu projeto Connecta, que foi a primeira parte de um trio de EPs. O EP contou com uma faixa em colaboração com o cantor Ricardo China, que ganhou um clipe e ainda um remix de DJ Q.
O projeto, que é recheado de influências da nossa música, foi todo composto e gravado no estúdio FLAPC4, durante a passagem de Swindle pelo Brasil, que ainda contou com apresentações junto com a Wobble pelo Rio de Janeiro, Curitiba e São Paulo.
Swindle - Connecta Ft. Ricardo China
2020:
Oblig
Em 2020, o Brasil Grime Show já existia e estava levando a sonoridade do grime para outro patamar. A maioria das pessoas que fazem e consomem grime no Brasil hoje em dia conheceram o gênero por meio do projeto, e claro que teriam gringos olhando e se conectando.
Oblig vem se consolidando como um dos DJs mais importantes da última década na cena do grime. Ele é responsável por movimentar bastante o underground com a sua residência semanal na Rinse FM e o seu selo Obligated Records.
Quando veio para o BGS, gravou três programas: Destravalt e Dimsan; D R O P E & KBrum; Baller Rich e HT — além de um DJ set gravado no evento de Carnaval que aconteceu na mesma época.
Brasil Grime Show: OBLIG DJ SET
Buggsy
No mesmo ano, veio também o Buggsy, MC de Bristol que tem uma das vozes mais marcantes e cheias de personalidade do cenário. O seu álbum The Great Escape de 2011 traz uma sonoridade muito singular e conectada com a raiz jamaicana.
No Brasil, participou do Brasil Grime Show, em um episódio junto com VND e diniBoy, que chamou muita atenção na época por contar com um MC de fora.
2022:
Jammz
Jammz é um dos artistas mais completos da segunda geração do grime britânico. DJ, MC e produtor, ele vem construindo a sua trajetória com excelência nos últimos anos. Seu último álbum, No Remorse, celebra a sua caminhada, resgatando as suas influências e com feats de grandes nomes da cena.
Em dupla com Peroli — DJ que é uma das personalidades mais importantes para a construção da cena do grime no Brasil —, eles têm movimentado as produções nacionais com força no exterior. Recentemente, tocaram um set recheado de pérolas do grime brasileiro no Outlook Festival, um dos maiores de bass music no mundo.
Em 2022, passaram pelo Brasil Grime Show, juntos, no quadro QUARTO, que foca nos DJ sets sem MCs, mas não por isso Jammz deixou de soltar umas barras ali no final. No ano seguinte, em 2023, o MC participou de um episódio do BGS rimando ao lado de SD9, com diniBoy na selectah, e de tempos em tempos aparece aqui pelo Brasil seja para cantar ou tocar em algum evento.
Brasil Grime Show: QUARTO com Peroli & Jammz
2023:
Elijah
Elijah, DJ e comunicador, é uma das figuras mais excêntricas na cena do grime, e responsável por algumas movimentações muito importantes para a nossa cena. Foi por meio do seu selo, Butterz, que o BRIME!, de 2020, foi lançado. O EP foi prensado em vinil e enviado pela Butterz em 2021, com frete grátis para o Brasil.
Em 2023, ele veio para presenciar os shows do projeto de Fleezus, Febem e CESRV, além de ministrar uma palestra do seu projeto Make The Ting. Na ocasião, ele contou com a ajuda da braba Peroli, que traduziu as falas ao vivo e possibilitou uma conexão entre ele e o público presente.
A palestra foi gravada e está disponível no YouTube do Elijah, que na época também fez uns sets pela Wobble no Rio de Janeiro e pelo BRIME em São Paulo.
Elijah Lecture in São Paulo, Brazil at State
Blay Vision
O DJ e produtor esteve no Brasil na época que rolou o evento Joga Bonito, colaboração entre o Boiler Room e a COMO VOCÊ. Responsável pelo instrumental Cammy Riddim — que ficou muito famoso na cena nacional, em grande parte por causa do remix do Antônio — o britânico integrou o time que cantou no set do diniBoy com Korsain, ao lado de nomes como Bruno Kroz, Sodomita, Scarlett Wolf e o seu conterrâneo Jammz.
COMO VOCÊ All Stars | Boiler Room x COMO VOCÊ: Joga Bonito
2024:
Big Zuu e Capo Lee
A dupla de MCs veio para o Brasil em setembro do ano passado para produzir e gravar o clipe da faixa "Rio Riddim", produzida por Crafty 893, que foi incrementada com um toque de brasilidade pelo ANTCONSTANTINO.
Além do clipe, dirigido por Wander Scheeffer, a conexão resultou na gravação de um episódio do programa A Prova de Nada, na Ocupação IBORU, junto com Maui — um dos registros mais substanciosos feitos entre artistas de grime daqui e de fora.
A Prova de Nada: ANTCONSTANTINO DJ SET c/ Big Zuu, Capo Lee & Maui @ Ocupação Iboru - RJ
Agora, em 2025, nos preparamos para receber Skepta pela primeira vez em terras brasileiras. O momento não é relevante apenas por ser um artista de grime se apresentando no Brasil, mas também por isso se dar dentro de um festival de trap, que foca muito mais na cultura estadunidense, tanto sonora como esteticamente.
É importante, também, para fechar com chave de ouro esse ano que têm sido especial para a nossa cena do grime. Pela primeira vez, estamos vendo de fato a criação de uma comunidade multidisciplinar que passa por todas as regiões do país. O mainstream, e os gringos, estão começando a olhar e entender a potência que a nossa cena tem, e estão cada vez mais interessados em vir e se conectar com aqui.
Frente à isso, precisamos nos organizar e fortalecer o momento que tem se construído. Vem com calma, Skepta. E viva o grime nacional.
Agradecimentos especiais à Peroli, Pedro Fontes e Jef Rodriguez que ajudaram a fazer esse mapeamento. Sem eles, muitas informações aqui não teriam chegado até nós.