Sepultura lançou o primeiro EP há 40 anos
Bestial Devastation foi lançado em 1985 e foi o primeiro registro em gravadora da maior banda de metal da história brasileira
Em 1985 o hard rock e o metal estavam em alta, no Brasil e no mundo. Com a influência do heavy metal dos anos 70, começando pelo Black Sabbath e se moldando a novos subgêneros, como o thrash metal, novas bandas mais pesadas começaram a surgir e, em Minas Gerais, os irmãos Cavalera se juntaram com outros amigos para formar a maior banda de metal do Brasil, o Sepultura, em 1984.
Influenciados por Venom, que pirou a cabeça dos caras e fizeram eles irem para um caminho muito mais brutal do que o metal tradicional, o Sepultura foi moldando seu estilo em cima do que estava ouvindo na época, tipo Celtic Frost, Kreator, Megadeth e afins. Nos anos 80, já tinham outras bandas de metal no Brasil, tipo o Stress - a primeira do gênero a gravar algo - o Sarcófago e a Dorsal Atlântica, mas o Sepultura foi além.

Em 1985, depois da primeira troca de vocalista e agora com o Max Cavalera na voz, sai o EP Bestial Devastation, o primeiro registro de gravadora da banda. Lançado pela Cogumelo Records, de Belo Horizonte, o EP foi um divisor de águas no metal brasileiro, mesmo com sua produção limitada, sonoridade até um pouco embolada e letras em inglês que fazem o duolingo chorar no banho. Calma, nada disso é haterismo, é a pura realidade que fez o Sepultura ser cooptado por fãs do metal brutal do mundo inteiro.
O Bestial Devastation em 1985
O Bestial Devastation tinha o Max “Possessed” Cavalera no vocal e guitarra, Igor “Skullcrusher” Cavalera na bateria, Jairo “Tormentor” Guedes na outra guitarra e Paulo “Destructor” Jr. no baixo. Detalhes para os apelidos totalmente death metal e para a ainda não-presença do Andreas Kisser, que só se juntaria a banda em 1987, no lugar do Jairo.

Com 5 faixas e 15 minutos, o EP vendeu 8 mil cópias nos meses seguintes ao lançamento. Um outro ponto do sucesso instantâneo do Sepultura se deve ao Rock In Rio, realizado em 1985, onde assistimos shows de nomes como Ozzy Osbourne, Scorpions, Iron Maiden, entre outros - um lugar e época muito fértil para o metal proliferar e o Sepultura também se aproveitou disso.
Relançamento e importância
Em 2023, os irmão Cavalera, no projeto CAVALERA, relançaram o EP, com uma nova mix e nova master, tocando tudo de novo. O projeto também relançou outro clássico, o álbum Morbid Visions, o primeiro da banda, de 1986.
Para muitos, essas duas gravações são um embrião do death metal - o que nem sempre leva o título de pioneiros do subgênero, mas tudo bem - e de fato acontece antes de bandas como Death e Possessed. Um fato que eu acho muito louco pensar é que eles tinham na faixa de 15 e 16 anos quando lançaram isso!

Beleza, o Sepultura pode ser atrelado a muitos outros subgrupos do metal, influenciando até o New Metal com o Roots. E se a gente pegar o que veio depois de 87 com a entrada do Andreas, a gente vê uma banda muito mais madura, brutal e influente, mas fato é que o Bestial Devastation já colocava o Sepultura no mapa do metal extremo com uma maestria que levaria a banda ser a maior da história do metal do país e uma das maiores bandas do mundo.
Em relato, Igor Cavalera comenta que a ideia de regravar o Bestial Devastation e o Morbid Visions surgiu de uma vontade de mostrar realmente o que eles estavam tocando na época: “o som que a gente gravou ali não representava o que a gente estava tocando”. Vale ressaltar que em 1985 as gravadoras e estúdios no Brasil ainda estavam tentando entender como gravar a música pesada e os equipamentos eram ou limitados ou eram inferiores. O Max Cavalera comenta: “a gente entrou no estúdio sem saber o que fazer, mas essas músicas representam muito mais hoje do que quando éramos garotos”.
"Uma nova roupagem mas o mesmo espírito badass" - Max Cavalera
40 anos depois, o Sepultura ainda continua tocando, hoje com uma formação sem os irmãos Cavalera - com suas várias tretas e polêmicas, é verdade - mas com um legado de ser uma das bandas mais influentes do metal de todos os tempos, passando por várias gerações de metaleiros e sendo respeitada por onde passa. Em 2025/26, o Sepultura está fazendo sua turnê de despedida, marcando um hiato definitivo da banda, mas é legal lembrar que o seu primeiro registro de estúdio chegou nos "enta" com propriedade pra ser chamado de pioneiro em muitas coisas. Será que aqueles quatro moleques de Belo Horizonte imaginavam o tamanho e o peso que teriam na história do metal?