OSGEMEOS + Barry McGee: One More

Uma amizade de três décadas transformada em exposição no Japão

OSGEMEOS + Barry McGee: One More

No último dia 17 de outubro, o Watarium Museum of Contemporary Art, em Tóquio, abriu as portas para One More, a primeira grande exposição conjunta entre os brasileiros OSGEMEOS e o artista norte-americano Barry McGee. Mais do que uma mostra, a ocasião celebra trinta anos de amizade, troca e criação entre artistas que ajudaram a redefinir o lugar da arte de rua no mundo, e agora voltam a dialogar dentro de um museu que há décadas abriga algumas das experiências mais ousadas da arte contemporânea japonesa.

Do Cambuci a São Francisco

Os irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo, conhecidos como OSGEMEOS, começaram a pintar muros no fim dos anos 1980, nas ruas do Cambuci, em São Paulo. Misturando influências do hip-hop, da pichação e do folclore brasileiro, criaram um universo próprio, povoado por personagens amarelos, sonhos flutuantes e símbolos de resistência.

Do outro lado do mapa, em San Francisco, Barry McGee, também conhecido pelo pseudônimo Twist, surgia como um dos principais nomes da Mission School, movimento que misturava graffiti, skate, arte popular e crítica social, propondo uma estética urbana e crua, feita de colagens, retratos e padrões geométricos.

O encontro entre eles aconteceu em 1993, quando McGee viajou ao Brasil para uma residência artística. Foi o início de uma relação que atravessaria fronteiras e décadas. “Barry foi o primeiro artista de fora que conhecemos. Ele trouxe uma outra visão de mundo, mostrou o que estava acontecendo lá fora”, recordam OSGEMEOS em entrevistas.

Barry e OSGEMEOS | Tokio Art Beat

Conexão subterrânea

De lá pra cá, a amizade se transformou em cumplicidade artística. McGee introduziu os irmãos a novas técnicas e circuitos internacionais; OSGEMEOS, por sua vez, levaram ao norte-americano o calor, o improviso e o lirismo do graffiti brasileiro. Ambos mantiveram um compromisso com a rua, não apenas como suporte, mas como forma de vida. Suas obras falam sobre as pessoas invisíveis das cidades, a energia dos becos, a poesia que sobrevive entre os ruídos e rachaduras do concreto.

Mesmo quando adentraram galerias e instituições, levaram consigo essa ética do improviso e da colaboração. A rua sempre foi o estúdio, a matéria e o público.

One More: quando o museu se abre pra rua

Em One More, o Watarium se transforma em um território compartilhado, onde a linguagem de cada artista se mistura e se desafia. McGee leva suas paredes vibrantes, cheias de rostos anônimos, padrões, tipografias e detritos urbanos. OSGEMEOS constroem ambientes imersivos, com esculturas, animações e instalações que flutuam entre o sonho e o delírio.

A curadoria propõe a ideia de uma jam session visual: em vez de obras isoladas, as peças se encontram, improvisam e se contaminam. É pintura que vira escultura, mural que se torna instalação, grafite que ganha vida em projeções.

O título One More funciona como um aceno para quem já acompanha a história dessa amizade e parceria. Depois de três décadas, mais um projeto conjunto, mais um passo, mais um reencontro. A exposição ocupa todo o edifício do Watarium, dentro e fora, e segue em cartaz até 8 de fevereiro de 2026.

Entre o onírico e o urbano

O contraste entre os universos dos artistas é também o ponto de convergência. OSGEMEOS trabalham o imaginário, o sonho, a cor, a música e o tempo suspenso. McGee opera na ruína, na repetição e na cidade como corpo e cicatriz. No encontro, o espectador percebe uma conversa sobre memória, coletividade e resistência. Suas obras compartilham uma ética comum, a da arte feita fora dos circuitos, entre amigos, com as mãos sujas de tinta e o coração aberto ao erro e ao acaso.

Três décadas em movimento

Reunir os dois artistas em um museu japonês é também um gesto simbólico. São Paulo, São Francisco e Tóquio, três cidades com forte cultura de rua, cada uma marcada por sua própria luta contra a homogeneização urbana, agora se conectam sob o mesmo teto.

One More não é uma retrospectiva, mas um estado de continuidade. Um lembrete de que, mesmo dentro de instituições, a arte de rua ainda respira o mesmo ar das calçadas.

É claro que não podia faltar um trampo deles juntos na rua, em frente ao museu

Ao longo de mais de trinta anos, OSGEMEOS e Barry McGee provaram que a colaboração pode ser ainda mais poderosa que a expressão individual, e que o espírito da rua pode coexistir com o espaço do museu sem perder sua essência.

One More devolve à arte o que ela tem de mais humano: a capacidade de criar com o outro, de pintar juntos, errar juntos e seguir juntos, por mais um muro, mais uma cidade, mais uma década.

One More — OSGEMEOS + Barry McGee
Watarium Museum of Contemporary Art, Tóquio
17 de outubro de 2025 a 8 de fevereiro de 2026

watarium.co.jp


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