O primeiro disco do Jovens Ateus

Vol. 1 mistura pós punk, indie e outras sonoridades no primeiro lançamento full da banda paranaense.

O primeiro disco do Jovens Ateus
Foto: André Djanikian

O Jovens Ateus, banda do Paraná, mas que na verdade se divide em várias partes do Brasil atualmente, lançou seu primeiro álbum em 2025, intitulado "Vol. 1”, pelo selo Balaclava Records. 

A gente bateu um papo com os guitarristas João Manoel, Fernando Vallim e o baixista Bruno Deffune para saber mais sobre o processo criativo do álbum, sobre clipes e tudo mais que permeia o primeiro disco dos caras. 


Fala, manos! Como foi o processo criativo de vocês para esse primeiro álbum?

João: Fala, Filipe! Então, meio que a gente começou a pensar em álbum mesmo no meio da turnê com o Budang em 2024. A gente tinha uns sons gravados, umas demos e depois de tanto split e EP, a gente decidiu que era hora de algo mais sólido. Aí a gente começou a realmente pensar nas músicas, algumas ficaram de fora, mas pensamos em algumas que queríamos que fossem mais pesadas, outras com outra estética… Basicamente surgiu desse amontoado de demos e a vontade de querer consolidar o trabalho denso.  

Vi que vocês gravaram em dois estúdios nesse processo. Como foi isso? 

Fernando: A gente gravou o disco meio que inteiro umas duas vezes, né? Enquanto a gente tava sacando todas essas demos, a gente procurou terminar elas no estúdio, tipo, no Costella, mas mais ou menos daquela mesma forma que a gente fazia antes também, né? Tipo, as baterias são montadas meio que fora ou até longe, a gente se junta todo mundo e grava tudo de uma vez, as cordas e vozes, né? 

Quando chegou para fazer a mix, com o Roberto Kramer, o João foi testar algum sample de bateria e acabou gravando todas as baterias com aquela estética e entramos em outro processo de novo. 

Vocês já estavam com a Balaclava nesse processo? 

João: Então, a gente gravou a primeira versão do disco no Costella. Aí um dia eu saí a noite e encontrei o Roberto, mas nisso nem tinha nenhum papo de Balaclava e da gente juntos, nada. Mas ele falou que curtia a banda, achava nosso som legal e falou pra gente se conhecer melhor e eu achei bem legal essa ideia, porque já achava o Roberto muito bom. Honestamente, achei que esse convite era meio papo de bar (risos), mas foi real e uma semana depois a gente já estava na casa dele mostrando os sons! Esse contato com o Roberto levou a gente a trampar com a Balaclava. Ele foi levando nosso som pro pessoal e meio que tudo começou daí. 

Bruno: Outra parada que rolou nesse meio do caminho foi o Terno Rei convidar a gente para abrir o show deles no Terra, ano passado. Foi um combinado de coisas, do Roberto conhecer a gente, a gente abrir pros caras e aí rolou de entrar na Balaclava. 

Como é fazer parte desse selo? 

Bruno: Na verdade a gente nunca trabalhou tanto quanto agora. Eles conseguem abrir portas que, a gente por nós mesmo, não conseguiríamos. Mas por outro lado, a gente tem que mostrar trabalho. A gente não faz nada que não queremos fazer, mas eles chegam com ideias de como fazer, tipo propor clipes, fotos e afins para trabalhar a divulgação da banda. 

Em cima disso, a gente vai trabalhando. Tudo bem, a gente fazia isso de maneira independente, mas era de bem mais espaçado uma coisa da outra, por falta de contatos, de oportunidades, mesmo. A Balaclava nos ajuda bastante nisso e nos deixam com bastante liberdade criativa para sermos nós mesmos. 

João: Eu sinto que eles guiam o caminho de uma maneira que acaba se tornando uma responsabilidade maior. A partir do momento que a gente entrou ali, abriu mais oportunidades, mas esses convites acabam nos deixando com mais vontade de fazer bem feito. A gente já está ganhando esse espaço, sabe? Então vamos fazer valer! A gente trampa muito mais hoje em dia do que antes, mas ao mesmo tempo não queremos nos desvencilhar das nossas raízes. Eles sugerem coisas, mas não querem que nós perdemos nossas raízes. 

Foto: André Djanikian

Da hora, que bom, né? Legal que vocês conseguem manter a identidade de vocês! Mudando um pouco de assunto, mas relacionado a isso. Muita gente rotula vocês de post-punk, é realmente o gênero que vocês se rotulam? 

João: Eu acho que é justo falar que é pós punk por uma questão estética e acho que gótico a gente é um pouco feliz demais para sermos (risos). Brincadeiras à parte, a gente não bebe só dessa fonte, mas se for pra rotular, tudo bem ser isso, sim. 

Hoje eu vejo que tem gente que fala que, por exemplo, o Idles é pós punk, mas a minha referência do gênero não é essa, mas beleza, é um rótulo que é válido, se for colocar numa prateleira, a gente é sim. 

Bruno: Às vezes vejo o pós punk rotulando banda que não tem muito gênero, sabe? (risos). Essas bandas tipo Idles e Viagra Boys, sonoramente talvez não seja, mas talvez sejam? Não sei, tem bandas que não conversam mas que estão nesse rótulo. 

Fernando: Talvez esse disco nosso seja mais dream pop, indie, do que qualquer outra coisa. Mas tudo entra no bolo, né? 

Vamos falar sobre isso então. Quais as maiores influências que podem ser percebidas no álbum?

Bruno: Tem sim. Tem algumas bandas que a gente até fez uma playlist e está disponível no Spotify no perfil nosso. Highschool, Borninmay, essa sonoridade meio indie, meio melancólico e moderno. Foram algumas coisas que a gente pegou deles, a bateria mais orgânica, guitarras mais limpas, questão de sonorização mesmo, de como misturar as músicas.

Fernando: Um cara comentou um dia num post nosso que a gente parece Motorama (risos). A gente não falou sobre isso, mas é verdade! Tem essa pegada, sim. 

João: No nosso caso, como a gente fazia as coisas bem separados um do outros, porque tinha uma distância física, o Bruno morava na época em Curitiba, o Fernando em Maringá e eu em São Paulo. Se a gente não segmentasse algum tipo de referência para seguir, não ia dar, sabe? Ia demorar muito para ter um consenso. As composições são livres, mas a sonoridade a gente meio que definiu por conta das referências. 

Fernando: A gente mal ensaia, não tem muito tempo de sentar junto e criar com tempo, sabe? A gente grava as coisas e vai mandando um pro outro. 

Sei que vocês fizeram três clipes nesse álbum, mas o de Correntes é em animação. Como que foi isso? A historinha vocês que fizeram? Fazer clipe em animação é muito foda. 

Bruno: Quando a gente estava planejando o anúncio da Balaclava, precisávamos bolar uma parada de anunciar a banda no casting e logo em seguida anunciar o disco. Em cima disso, o Chaves, um amigo nosso que faz visual de palco e trabalha com 3D, me apresentou o Lobin, que fez a animação do clipe pra gente, que faz nesse estilo de Playstation. 

Na época pensei em algo da gente animado para anunciar nossa entrada no selo e surgiu esse primeiro vídeo, que era essa ideia do bolo na padaria. Em seguida desse post, que repercutiu de uma maneira grande, o pessoal da Balaclava trouxe um direcionamento da gente fazer um clipe com a mesma pegada de animação, até para ter esse sucesso.

Cara, financeiramente fazia mais sentido fazer um clipe de animação do que abrir câmera de novo, ter equipe, diária sabe? Nisso eu bolei um roteiro básico, mas foi o Lobin mesmo que montou e mostrou pra gente. Tem uma referência enorme de Californication, que é o clipe mais legal do mundo, né? (risos). Ficou super engraçado a gente versão Playstation. 

Fico pensando que é algo que eu gostaria de ver em outra banda, se outra banda lançasse um clipe de animação eu ia ficar amarradão de ver. 

Vocês comentaram do bolo. Por que um bolo na capa do álbum? 

Bruno: A gente já tinha gravado a primeira parte do disco no Costella e eu já tinha combinado com o André de fazer as fotos de promoção da banda. A gente pensou juntos no conceito da capa e pensamos no bolo com o nome da banda, tira as fotos e cada single é uma parte do bolo, enquanto o lançamento do disco não vem. Por exemplo, em "Mágoas", é a fatia que falta do bolo. 

Não dá pra ver tanto nas fotos, mas o bolo tem um monte de pentagramas em volta, uma cruzes invertidas e em cima o nome da banda. Foram dois bolos que comemos em um dia e foi muito foda (risos). 

Realmente... (foto: André Djanikian)

Que massa. Para a gente terminar, quais os próximos passos da banda? 

João: Agora é trabalhar o disco, mesmo. A gente tem vontade de trabalhar sons novos mas não sabemos se vai ser single, EP, disco… Nosso foco mesmo é trabalhar o disco. Agora é hora de fazer turnê e a gente vai anunciar em breve uma grande, que vai passar por bastante cidade no país. 

No segundo semestre a gente pensa em lançar algum outro som, mas agora é tocar! 

Ouça o primeiro álbum do Jovens Ateus aqui


ISMO
Cultura em movimento

Assine nossa newsletter e receba
as últimas notícias em 1ª mão!

Assine agora