O backspin para o Brasil de ANTCONSTANTINO
Uma conversa sobre a Euro Tour do começo desse ano que mudou a trajetória do DJ caxiense

Antônio Constantino, DJ e produtor carioca mais conhecido pelo seu vulgo ANTCONSTANTINO, passou 3 meses em turnê pela Europa no começo deste ano. Passou, entre outras cidades, por Lisboa, Porto, Berlin, Braga, Londres, Bristol, onde tocou em diversos clubes, programas de rádio e festivais.
Essa viagem foi de extrema importância para a sua carreira, pois marca a sua primeira saída do país, permitindo incontáveis conexões e experiências com artistas do outro lado do mundo.
Além disso, Antônio, que é um dos principais responsáveis pela construção da cena do grime no Brasil, pôde tocar, produzir e conhecer em primeira mão alguns dos principais produtores, DJs e MCs de grime no berço do gênero, em Londres. Pensando na importância desse momento, tanto individualmente para ele, como coletivamente para a cena nacional, trocamos a ideia a seguir.
Qual é a sensação de voltar para casa depois desses 3 meses em Euro Tour?
Ir lá para fora é uma sensação muito libertadora, principalmente para quem não têm tanta facilidade em sair do país, tá ligado? Eu nunca tinha saído, e se não fosse pelo meu trampo, não sei quando iria. A sensação de você poder conhecer outros povos, outras culturas, por mais que seja caro, é uma sensação de desbloqueio de mente muito grande. Me deu uma vibe meio de que tudo é possível, assim, de territórios, de lugares que a gente pode acessar.
E é foda que, quando você vai para a Europa, você vê que, para a galera de lá, é muito mais fácil viajar de um país para o outro — que na verdade, é como se a gente viajasse de um país para o outro por aqui, porque o Brasil é enorme, né?
Tentei observar lá o máximo que eu pude — falando em grime, em Londres — seja o que a galera come, o que os velhos ouvem, o que o Uber ouve, como a galera toca, como o pessoal rima. Tudo isso porque têm coisas, que por mais que a gente ouça o bagulho 24 horas e pesquise, você só vai entender quando tiver ali. Porque eles nasceram com aquilo, falando de música eletrônica num sentido geral. Então às vezes eu pegava um Uber para casa e sei lá, o velho tava ouvindo um So Solid Crew porque estava tocando na rádio, que é um bagulho que ia ser doidera se acontecesse aqui, mas que em contrapartida acontece de outra forma. Deve ser muito doido para eles pegar Uber aqui e ouvir vários hits de TikTok, de funk, e é algo nosso que eles só vão entender vivendo aqui.

E o máximo que eu aprendi, eu estou tentando passar, ou trazer para o meu rolê aqui. Passar para os meus amigos, para a galera que trampa com isso, porque eu senti que essa minha ida para lá foi como se fosse uma Copa do Mundo. Eu recebi apoio de muita gente, uma galera muito empenhada. Porque eu acho que, por mais que já tenha ido outra galera para lá antes, além de eu ter ficado mais tempo e ter tirado uma vivência de morador — eu fiquei no bairro junto com a galera — eu sou produtor, então é diferente a vivência que um produtor vai tirar de um lugar, comparado com a vivência de um MC.
Mas é isso, voltei cheio de coisas para tentar me ajudar e ajudar meus amigos. Truques para tentar arrancar mais dinheiro dos gringos — de uma forma boa, seja em Bandcamp, dubplate — e ao mesmo tempo, muita ansiedade para voltar para lá. Porque é isso, vivi para caralho, mas era inverno, não estava acontecendo nada, a cidade estava morta. Então não vejo a hora de voltar no verão, fico imaginando, deve ser doidera.


ANTCONSTANTINO em Londres (Reprodução / Instagram / @novasfrequencias e @antconstantino)
Pareceu uma vitória coletiva, né? Eu vi muita gente tocada pela parada.
Ah, meio que foi, mano. O trampo que eu tenho, o nome que eu tenho, é obviamente porque eu estudo e vou atrás, mas é muito pelo apoio das pessoas também, a galera que vai em show, que tem a mesma linha de pensamento que eu, que se identifica comigo. E por eu apoiar, claramente assim, os produtores do meu rolê, a galera sabia que ia ter música deles sendo tocada ali, tá ligado?
E eu fiz questão de tocar — principalmente na BBC, que o set foi 100% de tracks nacionais — porque é isso, eu sou apenas uma pessoa, que obviamente tenho talento, mas eu considero que tenho sorte, de às vezes estar no lugar certo, na hora certa. Mas à minha volta, o que mais tem é nerd talentoso. A maioria dos meus amigos tem muito mais técnica em FL, Ableton, sendo que essa facilidade que eu tenho de me comunicar, digamos assim — que é o que me ajuda a abrir portas — eles não têm. Então, eu tento usar isso que eu tenho ao meu favor, para ajudar eles também. Porque, por exemplo, para mim é fácil abrir os stories de manhã e fazer 10 vídeos divulgando qualquer coisa. Para eles é um sacrifício, mano! Em compensação, eu morro de preguiça de abrir o FL, por mais que eu goste de produzir, e os caras ficam fazendo beat 24 horas, parece que estão jogando baralho, sei lá, é o jogo deles [risos].
Tem muito disso também, além de ter tido essa vivência lá, você levou muita coisa daqui.
Ah, com certeza. Tentei, também, mostrar muito para a galera de lá a diferença que tem de acesso, tipo da gente ter muita dificuldade em ter acesso a uma CDJ. Que em São Paulo ainda é mais fácil, no Rio também, agora se tu for indo mais para Salvador, para a Baixada, indo para o Norte, Nordeste do país, só vai ficando mais difícil você ter acesso a esse tipo de equipamento. Acesso a um computador decente, à várias coisas, ao tempo.
Então o lance de você poder vender a sua música, e fazer um dinheiro com ela, é muito bom. Mas aqui, felizmente e infelizmente, a gente tem a cultura da pirataria, que é o que, graças a Deus, faz todo mundo existir enquanto produtor.
Então por isso que eu acho que a gente tem que mirar a venda das nossas tracks para os gringos, porque no Brasil, não adianta. Tipo, obviamente eu vendo tracks aqui, a galera vende, mas é outro bagulho. Lá é que o pessoal compra de fato, eles não baixam músicas do SoundCloud, muito por qualidade também. Tem, por exemplo, o VIANA PROD aqui no Brasil, que todo rolê eu vejo tocar música dele, e se fosse lá fora, ele claramente faria uma moeda com a galera comprando as suas músicas.

Falando de grime, você se conectou com muitos nomes grandes lá da cena. Como foi o link com esse pessoal?
Cara, foi algo meio que natural, porque, por mais que a minha primeira ida para lá tenha sido agora, eu cavei um contato com esses caras há muito tempo. Quando começou o rolê do BGS aqui, ia saindo as músicas de grime e eu mandava email para os caras, falando para eles ouvirem. E a gente também faz muito número, comparado aos gringos. Eu tenho, sei lá, 38 mil seguidores no Instagram, é número, mas comparado ao Brasil, não é nada. Lá fora, ter essa quantidade é um número do caralho, porque o Brasil é muito mais populoso.
Os caras viam o PURGATORIUM lá, com 100 mil views, e ficavam malucos, porque às vezes um set com o Skepta vai ficar em 50, 40 mil views. Então eu sempre mandei email para esses caras, quando eu via que alguma música estourava lá, eu mandava mensagem para o produtor, contando dos meus projetos e eles sempre se surpreendiam. Porque geral gosta do Brasil — principalmente os ingleses, por causa do futebol, DJ Marky, Sepultura, várias coisas que fazem eles olharem para cá — então eles já dão essa brecha. E foi passando anos com essa troca, o Sir Spyro já tocou várias vezes música minha na BBC. Mas eu não encho ele de música, para não queimar o cartucho. Eu mando as músicas que eu imagino que é a cara dele tocar — tipo quando saiu F800 do Dimsan, eu sabia que ele ia curtir o remix, e não deu outra, mandei e ele tocou em uns 3 programas eu acho.
E é isso, foi um contato que eu fiz de anos com os caras, faço até hoje, e eles reconhecem o que eu faço aqui. Seja de catalogar — porque acaba que eu faço um catálogo não só da cena nacional, faço daqui e de lá, porque dá um número para eles. E eles veem que eu gosto do bagulho, devem se identificar porque a gente faz, se pá, a mesma parada em lugares diferentes e em épocas diferentes. Sou um DJ bom, e aí ajuda [risos].
Eles sempre acompanharam, então, a cena daqui?
Sim! Grandmixxer, Sir Spyro, Spooky Bizzle, esses são os maiores caras que eu tenho contato, até com o Maximum eu tenho contato. Mas de menor, Lolingo eu sempre troquei ideia, Boss Mischief. E é isso, os caras são muito de boa, mano.
E ainda sim, foi diferente se conectar com eles lá?
Pô, foi, mano. E foi maneiro, porque o primeiro encontro que eu tive com produtor, foi com o Boss Mischief e o Lolingo. A gente ficou no PC, cada um botava uma música para tocar, um ouvindo a música do outro, e foi maneiro porque eles tocaram várias músicas que se pá eles não aguentam mais ouvir, e que eu nunca ouvi, e eu toquei várias minhas que não aguento mais ouvir e eles nunca ouviram.
Porque tem isso também, da gente divulgar a parada. Se mal chega para as pessoas aqui no Brasil, o algoritmo atrasa muito para chegar lá. Então foi maneiro estar em um rolê que quase meu pen-drive todo estava ali, tá ligado? Muito doido, tava o Boss Mischief lá, e eu troquei uma ideia com ele sobre ele ter gerado uma geração de produtores no Brasil, uma galera que começou a fazer refix por causa dele, e hoje em dia são produtores absurdos, tá ligado? Os caras trouxeram auto-estima para vários jovens no Brasil, para pessoas que eles nem imaginam, nem tem noção. Ao mesmo tempo que muitos brasileiros foram influenciados por eles, mas não sabem quem são eles também, então é uma via de mão dupla.


Flyers de divulgação da Euro Tour e de evento em Lisboa (Reprodução / Instagram / @chicodub e @xaparecords)
Como eles enxergam a cena brasileira? Eles tem noção de como é?
Cara, não sei. Eles devem ter, principalmente agora, porque pipoca muita coisa de grime no Brasil, e da mesma forma que eu me comuniquei com eles, tem outros que se comunicam muito. Tem os moleques lá da Raridade Records, que estão sempre interagindo com os gringos, então eles sabem que algo acontece aqui.
Eu acho que eles podem ter noção da cena, mas não devem ter noção da proporção do Brasil, do tamanho do Brasil comparado com eles. Ou podem, não sei. Mas é isso, hoje em dia, se a gente parar para olhar o Brasil, existe um projeto de grime, seja uma label ou um canal, em cada ponto do país, que era algo muito difícil de ter antigamente. Até quando surgiu o BGS, era bem contado, até as músicas de grime que tinham sido lançadas. É, eu não sei, eles têm noção obviamente porque eles veem a galera interagindo.
Qualquer corte do LEALL que tem beat deles, não por eles, mas pelo LEALL, é 1 milhão de visualizações, eles não têm esses números lá. Esses dias eu vi até um bagulho doido, que os caras acharam umas paradas do Roblox, e os caras não imaginavam, é a mesma coisa. Se os caras pararem para olhar as páginas de TikTok daqui, é muito beat deles que rola, que eu que tocava, né? [risos].
E a sua percepção sobre a cena de lá? Quem era o público desses rolês que você colava?
Pô, no dia que eu fui no show do Grime Scene Saviours, a maioria do público era velho, mano. Os coroas de 40, 50 anos, cantando tudo, fazendo gun finger, e tu fica “caralho, como assim!”. E a parada doida é que, independente do bagulho ser underground, os caras fizeram e fazem dinheiro com isso. Então todas as vezes que eles minimamente pensam “ah, vamos fazer um revival de grime”, eles conseguem fazer um evento grande, com estrutura, tem apoio da Nike, vários apoios.
Mas é isso, é uma parada que já tá fixada lá há 20 anos, e para o pessoal é normal consumir esse tipo de música eletrônica. No Brasil, a gente consome outro tipo de música eletrônica de forma massiva, é o caso do funk. Aqui, seja uma festa grande ou uma festa em casa, quando chega a hora que todo mundo dança, é quando toca funk, que é meio que o coringa. Lá não tem, para eles é UK garage, house, techno… Eu andava na rua lá em Peckham e via vários pôsteres de rolê de UK garage gigantescos, sendo que dava para notar claramente que era rolê de velho, mano.
E a cena lá está em um momento diferente, né?
Cara, eu acho que está tendo esse revival, que de tempos em tempos tem. Já teve um tempo atrás, e está tendo de novo. O Chip lançou um álbum muito bom, e acho que ele está ajudando a trazer esse revival, e está sendo apoiado pelos caras. Pensando em underground, tem os moleques lá do Travs Presents, que eu acho que é o melhor projeto de set que tem atualmente, seja em pesquisa de beat, escolha de DJs, porque apesar dos caras serem underground, eles conseguem fazer set com Skepta, D Double. E isso é maneiro porque mesmo os caras sendo mainstream, eles ainda fazem essas paradas, acho foda.
E é isso, AJ Tracey lançou essa música com a Jorja Smith que acho que traz uma visibilidade, porque o bagulho é mó musicão, mais por causa dela do que por ele. D Double E lançou um EP, se bobear o Skepta vai lançar algum bagulho também. E é isso, vai chegando o verão e os caras vão fazendo show, rolê, e quando você vê, estão fazendo o bagulho de novo. Vai ver é isso, eles enjoam, vão fazer outra coisa, mas como não é algo que é moda, é algo que é deles, eles voltam.
A cultura de rádio lá é muito doida, eu pegava carro com os caras, eles ouvindo os programas mais doidos, tocando uns drills absurdos, e para eles é normal. E tem muito DJ também, é muito difícil a peteca cair. Tem sempre alguém jogando para o alto, tem sempre MC abraçando o bagulho também. Mas é isso, eles estão vivendo um momento bom, e achei maneiro ter conseguido ir para lá justamente nesse momento. Esse evento do Chip, eu já estava olhando antes de ir para lá, ele não tinha anunciado line mas eu sabia que ia estar todo mundo da música. Faltou eu ver assim, para fechar a conta, de grande, o Ghetts e o Wiley, que faltou estarem nesse dia, aí eu teria visto todo mundo já.
Em questão de produtores, você se relacionou com todo mundo ali, então?
É, eu estava pensando nisso mano, eu encontrei as pessoas que eu considero as maiores, assim. O Spyro para mim é o melhor produtor/DJ disparado, e o Grandmixxer age numa parte doida da minha cabeça, acho ele muito único. Enfim, são meus produtores preferidos.
Com o Spyro eu fiz um set para o programa dele na BBC, foda para caralho, e o Grandmixxer eu toquei B2B com ele, com MCs, também algo que nunca imaginei. E poder também, ir para a Europa e tocar de igual com os caras, tá ligado, foi muito bom. Você não sentir que está jogando videogame com o controle desligado, isso é muito bom.


Antônio no Berghain e flyer de evento em Londres (Reprodução / Instagram / @antconstantino e @demolish2ascend)
E voltando naquele ponto, nesses momentos você tocou muitas tracks de muita gente que talvez nunca imaginaria que fosse tocada lá.
Pô, até track minha, até hoje, quando toca na BBC, eu fico maluco. E é isso, em outros rolês lá eu não toquei só música nacional, não, até porque eu não sou só música nacional, sou música de vários lugares. Mas na BBC eu fiz questão de tocar só grime nacional, porque a gente tem agora uma pasta de grime nacional muito boa, seja de produtor, MC, homem, mulher, a gente tem muitos artistas bons e acho que ali era o melhor lugar para mostrar o bagulho deles, tá ligado? Acho que, atualmente, o programa do Spyro deve ser o maior programa que tem de grime, assim.
Como foi a reação da galera lá com você tocando?
Cara, um bagulho que eu percebia, é que às vezes a galera não entende a letra, né, o idioma, mas se a vibe for boa, o pessoal compra. Que é igual eu com o grime de lá, não entendo muito o que está sendo cantado, eu pego a vibe. Mas por exemplo, a I Shot The Refix, do Sucateiro, o pessoal passava mal, passava mal.
E eu me considero muito melhor DJ do que beatmaker, então tinha várias situações que eu terminava de tocar, ou durante o set, e dava para ver uma galera meio embasbacada assim, com técnica, tá ligado? Eu acho que o fato deles terem as coisas mais fáceis, o acesso mais fácil, faz eles não darem tão duro quanto os brasileiros.
Eu lembro que na pandemia, eu tinha um dinheiro guardado que eu estava juntando, e aí um dia eu vi o Sir Spyro tocar com a CDJ 3000, assim que lançou, com o visor tapado. E aí eu falei: “caralho, se o maluco que já é bom há anos, toca de vinil, e está tocando numa 3000 com o visor tapado, eu não posso ficar para trás, mano”. E eu lembro que comprei um par de 350, que é umas das primeiras assim, e eu só tocava com o visor tapado em casa. Fiquei treinando mó tempão, porque eu ficava pensando que no dia que eu fosse tocar com esses caras, eu queria deixar eles soltos, para eu ver eles fazerem o que eles fazem em set, não para eles ficarem preocupados em me auxiliar em algo.
Então é isso, tinha vários rolês que a galera sempre ficava em choque, principalmente quando era o Chediak tocando, o Rassi, acho que brasileiro em geral tira um pouco da noção dos gringos, tanto que eles vêm para cá para pesquisar direto, esses puto.
ANTCONSTANTINO tocando em Londres (Reprodução / Instagram / @demolish2ascend)
Você diria então que foi a realização de uma parada que você veio preparando há muitos anos?
Ah mano, foi. Quando eu fui para Europa, Londres era o lugar que eu estava mais ansioso para ir. Eu estava com muito medo de ser barrado, porque lá não é mais da União Europeia, é mó burocracia para entrar, e eu sempre acho que os bagulhos vão dar ruim. Por mais que eu pense positivamente, eu espero o negativo. E é isso, é como se fosse uma formação, como se eu tivesse me formando, mano.
Meu inglês é muito ruim, mas quando eu fui para lá, eu falava muito menos, quase nada, e eu aprendi a falar inglês com os caras na raça. E era algo que eu sempre pensei, que só ia aprender a falar inglês, se um dia eu pudesse fazer um intercâmbio, ficar 3 meses lá. E foi o que aconteceu. Eu não tenho o inglês perfeito, não sei conjugar verbo, mas era o suficiente para eu me comunicar com os caras e me divertir lá no meio deles.
Mas foi muito bom, mano, uma realização muito doida. Ir em uns lugares e ser reconhecido por uns gringos que eu nunca vi na minha vida. O mano que me abrigou lá, eu não fazia a mínima quem era antes, ele era meu fã e falou que eu podia ficar na casa dele. Eu queria ir para Londres e não tinha onde ficar, não tinha festas grandes lá na minha agenda, e pô, maluco virou meu parceirão, Chinua. Me apresentou para várias pessoas fodas, toquei com o Grandmixxer por causa dele, que é um mano influente lá, e falou que ia me colocar em um B2B com o Grandmixxer. A música me traz várias paradas, eu encontro várias pessoas doidas igual a mim.


Antônio com Chinua e Grandmixxer (Reprodução / Instagram / @antconstantino)
E o que fica disso tudo agora? O que isso vai mudar na sua trajetória aqui em terras brasileiras?
Ah, o que fica, se pá, é mais gás para continuar. Mas até agora, antes de ir para lá, meu gás não tinha acabado ainda, tá ligado? Independente de ir para Europa ou não, aqui no Brasil eu tenho muita coisa, nós temos muita coisa acontecendo aqui, então, só o Brasil já é um gás para continuar gigantesco. Mas poder ir para fora, encontrar os caras, ser tratado de igual e produzir com eles, é mais um gás para continuar fazendo esse bagulho que a gente faz.
Porque seja eu produzir música ou fazer show, ou você estar fazendo uma matéria sobre grime, eu sei claramente que você faz mais pensando na cena ou em você, do que em dinheiro. Hoje em dia eu faço dinheiro, consigo viver disso, mas é algo que eu faço muito mais pela minha realização própria, do que por dinheiro. Então acho que é isso, mais lenha na fogueira. E pensar em uma forma de voltar de novo, mano [risos].
E agora eu quero voltar com os meus amigos, porque como eu já entendi lá, agora eu quero ver como eles vão se comportar, por exemplo, com o Bruno Kroz no meio deles em um set, tá ligado? Porque eu sei que eles não vão entender nada do que o Bruno vai falar, mas eles vão ficar malucos. Por exemplo, quando o Big Zuu veio para cá, eu sabia que eu precisava juntar ele e o Maui, porque é tudo a ver, e não deu outra. Têm vários artistas de lá que são em comum com os artistas daqui, tipo botar o Riko Dan para dar uma volta com o KBrum, eles vão virar melhores amigos.
E é isso, eu quero voltar, tipo, com o KBrum, porque ele tem uma linha de conhecimento, de vivência, de reggae, cultura jamaicana, cultura preta, que eu não tenho. Então várias coisas que para mim passaram despercebidas, ou interpretei de uma forma, ele vai me fazer ver com outro campo de visão. Então é isso, acho que todos meus amigos têm potencial para estarem lá, colaborar com os artistas de lá, e a gente só não está porque o dinheiro impede. Mas vai chegar a hora de todo mundo, vai todo mundo conseguir ir para lá, porque é tudo nosso também, vamos roubar os ouros [risos].
Conheça e acompanhe o trabalho de Antônio no Instagram, Bandcamp, Spotify, Youtube e SoundCloud.
Se hoje temos uma cena de grime em escala nacional, muito disso é por causa do cuidado e potência da sua atuação na música e na arte. Vida longa ao grime brasileiro, à Leigo Records, e a todos que fazem parte desse movimento.