Novo disco do Desalmado tem formação nova e uma volta pro hardcore
Caio Augusttus fala sobre Monopoly of Violence e suas influências diversas

Desalmado é uma banda de grindcore e metal com mais de 20 anos de existência e em 2025 está lançando o Monopoly of Violence, seu sexto álbum de estúdio. Teve troca de membros da banda, saindo o Estevam Romera e o Alemão (Ricardo Nützmann) e entrando o Marcelo Liam e o João Limeira, tiveram novos desafios e tiveram também muitas novas ideias.
Entre um jogo do Corinthians, trampos com tecnologia e releases do novo disco, o Caio Augusttus, vocal da banda, arrumou um tempo e trocou uma ideia com a gente pra falar sobre o processo criativo do álbum.
Monopoly of Violence é o mais novo álbum do Desalmado. Conta um pouco sobre o processo criativo desse álbum.
Caio: Esse trampo, de certa forma, foi diferente porque foi relativamente muito rápido. O Desalmado completou 20 anos e teve uma mudança estrutural, o Alemão saiu e depois o Estevam saiu. O Marcelo e o João, que entraram, tem uma pegada muito similar à minha: tem um lance que, em uma determinada época do ano, eu tenho que produzir algo.
E quando eles entraram, combinamos de compor um disco e lançar em 2025. O nosso acordo, de pra onde o Desalmado ia, é que a banda tinha que para uma linha mais dedicada ao hardcore. No último trabalho, o Mass Mental Devolution, a gente foi para um lado mais pós-metal, mais experimental e, na verdade, o Desalmado, pra mim, sempre foi mais conectado com o hardcore.
O Marcelo e o João tem uma linha de pensamento que é uma escola mais moderna, baseada no hardcore, mas com mais death metal, mais brutal. A gente foi trocando uns sons e o Marcelo foi começando a trabalhar na estrutura, o João colocava um elemento de bateria e ia fazendo os cortes que a gente entendia que era melhor.
A gente começou esse trabalho em julho de 2024, e desse período para dezembro, foi tudo muito rápido. Entramos para o estúdio no final de outubro, foi tudo muito intenso, as músicas iam fluindo muito bem e o que mais pegou, mesmo, foi a parte do vocal, que não teve tempo de fazer pré-gravação de vozes. Eu me fodi (risos), porque estava de frente para uma estrutura musical relativamente nova e ouvindo as músicas, me senti na obrigação de trazer algo novo também! Para o meu processo criativo funcionar, ou eu tenho que estar mal, ou eu tenho que estar indignado com a política atual. Duas coisas que me fazem criar. Comecei a criar e, de repente, eu travei. O João me ajudou bastante nas linhas de voz e a gente conseguiu tudo muito rápido. A única coisa que me arrependo um pouco é de não ter feito essa pré.

Que bandas ou sons influenciaram nesse som que vocês chegaram agora?
Uma banda chamada End, dos Estados Unidos, bem xarope, bem moderna. Particularmente, eu ouvi bastante hardcore nesses últimos tempos e foi o que passei pra galera. Jesus Piece eu estava ouvindo pra caralho.
O Marcelo tem a escola dele e é bastante apegado a Slam, Brutal Death Metal… Ele gosta muito de Analepsy e coisas do tipo. Essas influências também estão dentro do disco.
O Rotten Sound também foi uma base. Tem um disco deles, que não vou lembrar, mas é o mais pop, que as construções são muito boas, com nuances do hardcore com riffs bem caóticos e foi um lugar que a gente conseguiu flutuar bem.
A nossa escola é a norte-americana, desde sempre, e nos mantivemos nela, mas com coisas mais modernas.
Tem membros novos nesse álbum. Isso muda também o jeito de trampar nas músicas?
O Marcelo gravou o EP Inquisition e foi uma ótima ideia do que viria ser esse novo disco.
A parada é que muda tudo, mano. É foda o que vou dizer, mas é uma das primeiras vezes que tenho uma gravação que é tranquila no estúdio, que todo mundo está seguro. Essa dinâmica de todo mundo conseguir gravar de boas, que a insegurança veio pra mim, porque os caras me fizeram querer fazer algo ainda mais incrível, eles conseguiram dar essa estrutura. Chegaram e gravaram, sem perrengue.
Para se fazer um disco de qualidade, tem que estar conectado com o que está acontecendo. Por sorte, ouvi bastante coisa uns anos antes, mas tive que correr atrás aos 49 do segundo tempo, porque eu estava ouvindo outras coisas, uns jazz, rap e afins, totalmente fora do rolê. Eu não acho isso positivo pra quem faz metal, você tem que estar conectado com aquilo que você cria. Mas no final das contas, conseguimos fazer acontecer.
Mas quem trouxe esses novos desafios foram o Marcelo e o João. Depois de todo tempo de banda, esse foi mais redondo que o Mass Mental, que já foi bem redondo! Eu me senti desafiado com uma nova estrutura e, cara, ainda bem! Eu e o Bruno ficamos de frente com um problema positivo (risos).

Quais as temáticas principais do Monopoly of Violence?
O nome vem de uma visão sobre como a nossa sociedade foi absorvida pelas grandes empresas de tecnologias e como essas empresas tem uma política de algoritmo que tratam de dividir todos nós e, ao mesmo tempo, trazem uma sensação falsa de unidade.
No pós-pandemia, a gente foi para uma outra etapa de redes sociais, estando imersos nos nossos narcisismos, tornando ciências em religião. Quem introduz esses elementos de ódios e manifestações agressivas, são essas empresas e elas são grandes monopólios, com capitais maiores que estados e nações, com um poder brutal de manipulação das massas. Eles são parte de uma engrenagem que produz mais ódio e violência na sociedade, tanto na articulação política, quanto na elaboração dos sentimentos.
O disco passa por problemas, uma fotografia do que a gente vive no pós-pandemia. Em termos líricos, é uma continuação do último álbum, dos problemas da tecnologia e dessas grandes empresas, que passaram a programar a nossa mente, que é um problema que não vejo saída. Esse disco é um extrato disso tudo.
Vocês lançaram dois clipes do álbum até agora. O que quiseram contar na história de cada um deles? Eles tem alguma sequência ou são clipes individuais?
Dei uma leve brifada no Estevam e ele pegou as letras e filmou um personagem, no primeiro momento perdido, em busca de uma máscara, em busca de uma identidade, mesmo que falsa, para conseguir dar vazão à sua solidão.
Ele filmou nos Estados Unidos e estava nevando. Essa ideia ia casar pra caralho, porque não é só uma questão de ficar bonito, mas também trazer o frio do personagem, o lado obscuro.
A gente poderia ter dividido em três clipes, o primeiro - No Peace Only Death - como uma busca de identidade e que desdobra na Blood Thorns, com o personagem se refazendo. A ideia da quebra da casa, de estar numa casa destruída, é o processo de construção do próprio personagem. Tem uma ideia de solidão, em busca de uma relevação. Quando a gente está solitário, passamos por momentos gelados, sentindo vazio e raiva.
Nos clipes, a cenografia da banda muda. Na Blood Thorns, estamos numa casa, já com uma perspectiva de mais vida. No início, na No Peace, a cenografia da banda é caótica, trazendo a mentalidade do personagem, como se a banda estivesse tocando na cabeça do personagem. Nesse primeiro, é um incômodo, mesmo.
O último clipe, que ainda não saiu, não tem uma história, mas é a gente tocando e vai ficar muito legal. Bem modernão (risos).
Fala um pouco sobre a capa do álbum novo.
A gente sempre se preocupou em fazer algo um pouco orgânico. Para esse, tive uma ideia de uma máquina industrial escorrendo sangue, mas era pra ser uma foto. Diante das dificuldade de conseguir isso, comecei a pesquisar artistas e precisava alguém que conseguisse reproduzir num quadro uma estrutura que reproduzisse esse sangue, algo nessa linha que tinha pensado.
Pesquisando, encontrei o Gabriel Augusto e fui atrás dele, porque tinha que ser ele! Mandei a ideia e ele conseguiu traduzir de uma forma muito única! É um elemento que lembra duas coisas, um rosto e um coração, tudo desfigurado, num processo já de alquimia, com a ideia do vermelho de sangue predominante.
Quando eu olho, a capa condiz muito com o nome do álbum, em termos artísticos! O Gabriel mandou bem pra caralho.
A obra original tem um lance de profundidade / Vídeo: instagram Desalmado
Ouça o Monopoly of Violence aqui na íntegra