Livrarias de nicho vão salvar o mercado editorial?

Listamos algumas livrarias que decidiram focar em temas específicos e estão fazendo a diferença em um momento de crise

Livrarias de nicho vão salvar o mercado editorial?
Reprodução: Internet (Adriano Vizoni)

Você curte ler livros? Prefere livro físico ou digital? Se a resposta para primeira pergunta for sim, saiba que você já está ajudando a melhorar nossa colocação no “ranking de leitura global”, onde hoje a gente ocupa a 52ª posição entre 57 países. E se prefere ler livros físicos, e principalmente compra em livrarias, está dando um help enorme para um mercado que tem sofrido bastante nos últimos anos.

É verdade que tecnologias têm grande influência nisso, e a praticidade de carregar uma biblioteca inteira no Kindle, ou conhecer alguma história através de audiobooks narrados pelo seu artista preferido influenciam muito. Mas o interesse em conteúdos densos e mais complexos parece ter diminuído e consequentemente impactado a economia editorial.

No Brasil, nos últimos anos vimos grandes projetos editoriais encerrarem as atividades, como Cosac Naify, Olho d'Água e Book Partners, além de livrarias como a Saraiva, player gigante do mercado e que chegou a ter mais de 100 lojas espalhadas pelo país, declarar falência e sair do mapa. A Livraria Cultura, uma das mais antigas redes do Brasil, também declarou falência em 2023 e até hoje briga com as dívidas para se manter em pé.

Lá fora a New Yorker já falava sobre isso há quase 20 anos - Capa por Adrian Tomine

Nesse cenário, vale lembrar do que Darwin nos ensinou - e alguns até tentam negar - que adaptação é fundamental para sobreviver às crises, e o caminho que alguns encontraram foi focar. Ao invés de querer abraçar o mundo e vender tudo para todo mundo, algumas livrarias entenderam que direcionar seu produto para um público específico seria a melhor forma de garantir a sobrevivência em um mercado cada vez mais difícil.

E assim surgem as livrarias de nicho, que em um momento super conturbado e aparentemente contraditório, em um país que tem como um dos grandes desafios o analfabetismo funcional, decidem abrir as portas para vender livros. Não podemos dizer que essa é a resposta para o problema, afinal o mercado ainda está caminhando com dificuldades e projetos como a Malasartes, livraria especializada em literatura infantil fundada em 1979, fechou as portas no ano passado.

Então, pra trazer boas notícias e divulgar quem tá no corre, aqui a gente lista algumas livrarias que podem ser interessantes e vão facilitar a sua vida, já que ao invés de entrar e ficar rodando que nem barata tonta sem saber o que escolher, pode ir direto em uma que trabalhe temas que te interessem.

Reprodução: Instagram

Gato sem rabo
(R. Amaral Gurgel, 352 - Vila Buarque, São Paulo)

Cria do pós-pandemia, a Gato sem Rabo foi fundada em 2021 por Johanna Stein e tem como objetivo fomentar a literatura escrita por mulheres. O nome, que vem emprestado do clássico “Um quarto só seu”, de Virginia Woolf, se refere ao estranhamento que mulheres causam quando estão em ambientes que pouco as valorizam, como o da produção cultural. Quem passa por lá, encontra apenas livros escritos por mulheres, dos mais diferentes gêneros, de clássicos à ciência, filosofia à literatura infantil, e ainda consegue tomar um cafezinho do Café POR ELAS, projeto de torrefação de cafés especiais também feito só por mulheres. Vale à visita.

Barrilete
(R. Dr. Luís Barreto, 103 - Bela Vista, São Paulo)

Passando rápido na frente ou mesmo olhando com um pouquinho de atenção, pode parecer um boteco, mas a Barrilete, localizada no bairro do Bixiga em São Paulo, é um lugar de encontro para amantes de livros e do futebol. Voltada para literatura do esporte, o ambiente acompanha a temática, todo decorado com cachecóis e camisas, quadros de momentos históricos do esporte, cervejinha gelada - quem achou que era um bar até que não se enganou tanto assim - e claro, muitos livros. A iniciativa é de dois advogados que amam ler e tem no futebol uma paixão que os fez largar a carreira jurídica para investir no nicho. Seja para assistir um jogo tomando uma gelada, ou conhecer um pouco mais sobre a história do esporte, estando por perto, dê um pulo na Barrilete.

Foto: divulgação (Natalie Artaxo)

Aigo
(R. Ribeiro de Lima, 453 - loja 73 - Bom Retiro, São Paulo)

O bairro do Bom Retiro, na região central de São Paulo, já foi eleito o bairro mais cool do Brasil, muito por conta da diversidade cultural, reflexo de diferentes comunidades imigrantes que escolheram o local para se estabelecerem. E para acolher não só esses grupos étnicos mas potencializar seus criadores que Agatha Kim, Paulina Cho e Yara Hwang, todas de ascendência coreana, decidiram abrir a Aigo, livraria com foco em publicações de escritores imigrantes. O nome da livraria vem de uma expressão coreana usada para expressar surpresa, e em uma visita ao espaço essa com certeza é uma das sensações iniciais. Longe dos best sellers tipo “Café com Deus Pai”, aqui a organização das prateleiras, curadoria de livros e até os idiomas - as sinalizações estão em português, espanhol, coreano e hebraico - mostram que a ideia é comunicar para um público diverso culturalmente. 

Reprodução: Instagram

Eiffel
(Praça da República, 183 - República, São Paulo)

Essa é para quem anda pelas ruas olhando a cidade, os prédios, casas, esquinas e transformações dos espaços. A Eiffel é uma livraria especializada em arquitetura, urbanismo e design, cheia daqueles livros enormes, que geralmente a galera coloca na mesa de centro da sala, para folhear e admirar. O espaço fica no térreo do Edifício Eiffel, projetado por Oscar Niemeyer e Carlos Lemos, então realmente nada mais justo que abrigar obras que dialoguem com esse universo. No catálogo super seleto tem uma porrada de livros raros, daqueles esgotados há anos e que ou você garimpa em algum sebo, ou dá a sorte de encontrar no marketplace do grupo de arquitetos do Facebook, ou seja, se tu curte esse mundo, dá uma chance pra Eiffel.

Reprodução: Instagram

Livraria Gráfica
(R. Barão de Tatuí, 509 - Santa Cecilia, São Paulo)

Essa é quase a metafísica das livrarias porque o foco da Gráfica é ser uma livraria sobre livros. Sim, é isso, a iniciativa da Editora Lote 42 - que já também toca a irmã mais velha da Gráfica, a Banca Tatuí - é promover livros que falem sobre produção gráfica, criação literária, teoria do livro, design, diagramação, enfim, todo esse ecossistema que no começo do texto falamos estar mal das pernas? Então, a Cecília Arbolave e o João Varella, sócios e fundadores da Gráfica não só foram corajosos de há uns anos lançarem a Lote 42, como hoje querem reunir e possibilitar que mais gente possa escrever e publicar. Fisicamente, de preferência. O espaço também funciona como ponto de encontro para oficinas, cursos e palestras sobre a produção de livros e impressos. 

Reprodução: Instagram

Kitabu
(R. Visc. de Abaeté, 123 - Vila Isabel, Rio de Janeiro)

Bora sair um pouco de São Paulo para molhar os pés no mar do Rio de Janeiro e conhecer a Kitabu, “livraria que valoriza a história e memória da população negra” e foca em publicações de autores africanos e/ou afrodescendentes e livros dentro da temática racial, principalmente afro-brasileira. Lélia Gonzalez, Ana Maria Gonçalves, Maria Carolina de Jesus recebem o merecido destaque e dividem as prateleiras com novos nomes da literatura afro-brasileira. Um ponto legal é que diferente das outras livrarias aqui da lista, a Kitabu opera dentro de outro espaço, a Kaza 123, um complexo que mistura gastronomia, arte e claro, os livros, fazendo com que em uma única visita você consiga amassar uma feijoada, adquirir cultura e conhecimento e ainda garantir um mimo pra você ou alguém que você gosta. 

Reprodução: Instagram

Itiban
(Av. Silva Jardim, 845 - Rebouças, Curitiba)

Para fechar, a gente vai pra Curitiba conhecer a mais antiga das livrarias aqui da lista, a Itiban Comic Shop, que desde de 1989 fortalece a cena dos quadrinhos e mangás no Brasil. A 9ª arte no Brasil tem uma história gigante e um peso fundamental quando falamos de alfabetização de crianças e adolescentes, mas nos últimos anos o nicho também foi impactado negativamente. Apesar dos sufocos, a livraria é muito ativa com a comunidade, promovendo eventos e encontros para lançamento de publicações e pra quem acha que quadrinho não é coisa séria, eles realizam até um clube de leitura pra galera discutir mensalmente.


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