Joaquín Torres García desembarca em São Paulo
Com mais de 500 peças, a exposição no CCBB que celebra 150 anos do artista uruguaio é a maior já realizada no Brasil
Aberta nesta semana no CCBB São Paulo, a exposição Joaquín Torres García – 150 anos apresenta ao público brasileiro um panorama amplo e inédito da trajetória de um dos pilares da arte moderna latino-americana. Pela primeira vez no país, um conjunto tão diverso de obras e documentos do artista é reunido para revelar não apenas sua produção visual, mas também a dimensão pedagógica, editorial e intelectual de seu pensamento.
Nascido em Montevidéu em 1874, filho de pai catalão e mãe uruguaia, Joaquín Torres García teve formação majoritariamente autodidata e desde cedo rejeitou a pintura como mera representação da realidade. Após se mudar para Barcelona ainda jovem, entrou em contato com a cultura mediterrânea e com a antiguidade clássica, elementos que atravessariam sua obra. Nesse período inicial, desenvolveu a chamada Arte Mediterrânea, marcada por composições sintéticas, estrutura rigorosa e um senso construtivo que já apontava para seus desdobramentos futuros, além de realizar importantes murais em espaços públicos e privados.


Ao longo das décadas seguintes, sua trajetória acompanhou as transformações do mundo moderno. Em meio às tensões sociais do início do século XX, sua obra se volta para a cidade, o ritmo urbano e a vida cotidiana. Em Nova York, a partir de 1920, incorpora tipografia e elementos gráficos influenciados pela paisagem visual da metrópole industrial. Já em Paris, onde se estabelece em 1926, integra-se às vanguardas, funda o grupo Cercle et Carré e aprofunda sua pesquisa construtiva, organizando o espaço pictórico a partir de linhas ortogonais, proporções matemáticas e signos de caráter universal.
O retorno definitivo a Montevidéu, em 1934, marca a consolidação do Universalismo Construtivo, conceito central de sua obra e de sua atuação como pensador. Mais do que uma teoria estética, trata-se de uma forma de compreender a arte e a vida, propondo uma linguagem universal construída a partir das raízes culturais da América Latina. É nesse contexto que Torres García se torna também educador e articulador cultural, criando a Associação de Arte Construtiva e, posteriormente, o Taller Torres García, que formaria gerações de artistas a partir da defesa de uma produção autêntica, não subordinada aos modelos europeus ou norte-americanos.

A exposição reúne cerca de 500 itens, entre obras e documentos, incluindo pinturas, desenhos, manuscritos inéditos, maquetes e os célebres brinquedos de madeira produzidos pela família do artista. Muitas dessas peças deixam pela primeira vez as reservas técnicas do Museo Torres García, no Uruguai, revelando aspectos pouco conhecidos de sua produção e de seu processo de pensamento.
Com curadoria de Saulo di Tarso, em colaboração com o Museo Torres García, a mostra aprofunda o entendimento do universalismo construtivo e apresenta Torres García como um pensador de alcance global. Além do museu uruguaio, a exposição conta com empréstimos de instituições como o Museu d’Art Contemporani de Barcelona, o Institut Valencià d’Art Modern, o Museo de la Solidaridad Salvador Allende, no Chile, e de acervos brasileiros como o MASP e a Pinacoteca de São Paulo.

Ao articular obra, pedagogia e pensamento, a mostra no CCBB reafirma a atualidade de Joaquín Torres García e sua importância para compreender a arte moderna a partir do sul global. Mais do que revisitar um legado histórico, a exposição propõe um olhar crítico sobre identidade, linguagem e universalidade, temas que seguem centrais no debate artístico contemporâneo.
Joaquín Torres García – 150 anos
CCBB São Paulo – Rua Álvares Penteado, 112 – Centro
10 de dezembro de 2025 a 9 de março de 2026
Horário: das 9h às 20h, exceto às terças
Gratuito
Itinerância
CCBB SP (10 de dezembro de 2025 a 9 de março de 2026)
CCBB Brasília (31 de março a 21 de junho de 2026)
CCBB BH (15 de julho a 12 de outubro de 2026)