Greg Hawkins e a capa cósmica de Aquemini

Conheça o ilustrador que ajudou o OutKast a redefinir a estética do hip-hop nos anos 90

Greg Hawkins e a capa cósmica de Aquemini

Em 1998, o OutKast lançou Aquemini, um dos discos mais importantes da história do rap e da música negra estadunidense. Musicalmente ousado e esteticamente visionário, o álbum falava de dualidades, afrofuturismo, orgulho e liberdade criativa. A capa, por sua vez, condensava tudo isso em uma ilustração vibrante, mística e atemporal. O autor dela não era um nome badalado do design nem uma estrela do mercado fonográfico: era o então desconhecido Greg Hawkins, artista nascido em Columbus (Ohio) e formado no Columbus College of Art & Design.

O peso de Aquemini

Lançado em setembro de 1998, Aquemini consolidou o OutKast como um dos grupos mais inventivos da música americana. Até então, o hip-hop era dominado por Nova York e Califórnia; o duo de Atlanta, junto ao coletivo Dungeon Family, mostrou que o Sul tinha um tempero único, e não era somente na culinária.

O disco expandiu fronteiras sonoras ao misturar rap, funk setentista, gospel, blues e psicodelia. A participação de George Clinton em “Synthesizer” simbolizava essa ponte entre passado e futuro. Clássicos como “Rosa Parks”, “Skew It on the Bar-B” e “Da Art of Storytellin’” transformaram Aquemini em referência definitiva do rap dos anos 90. Não à toa, até hoje aparece em listas de melhores álbuns da história.

Das ruas de Columbus a Atlanta

Greg Hawkins cresceu no bairro Milo-Grogan, em Columbus, e desde cedo demonstrou talento. Ainda criança, teve uma obra exibida no Columbus Museum of Art. Formou-se na CCAD e estudou também na Ohio State, entrando no circuito musical como designer de logos e camisetas para grupos como Midnight Star e artistas como Babyface e L.A. Reid.

Foto analógica do Greg em sua prancheta dando vida a arte de Aquemini

Nos anos 1980 mudou-se para Atlanta, onde viveu de murais, camisetas bootleg e trabalhos gráficos para marcas de cosméticos. Foi nesse ambiente criativo que seu caminho cruzou com o de André 3000, e aqui entra uma curiosidade: reza a lenda que foi a própria mãe de André que ajudou a fazer a ponte entre o músico e Hawkins, garantindo que o artista tivesse em mãos a pessoa certa para traduzir em imagem o espírito de Aquemini.

Aquemini

Em 1998, Hawkins mergulhou de cabeça na atmosfera do álbum. Passou dias ouvindo Parliament-Funkadelic e absorvendo a estética psicodélica de George Clinton. Em apenas dois ou três dias, usando lápis de cor, deu vida a uma cena carregada de simbolismos: Big Boi aparece sentado em um trono luxuoso, como um rei moderno, enquanto André 3000 surge ao lado, descontraído, refletindo sua leveza e espiritualidade. Mulheres representam os signos de Aquário e Gêmeos, um Cadillac e uma nave espacial costuram tradição sulista e afrofuturismo, e detalhes remetem a estética gráfica do jazz cósmico de Sun Ra e a referências ancestrais. O primeiro rascunho já foi suficiente para André aprovar: “That’s it!”.

Um clássico visual e musical

Aquemini estreou em segundo lugar na Billboard 200 e foi certificado platina em apenas dois meses. A capa de Hawkins, no entanto, transcendeu as estatísticas: tornou-se um ícone visual do hip-hop, um retrato da identidade negra sulista e um lembrete de que música e imagem podem dialogar de forma poderosa.

Hoje, aos 65 anos, Hawkins segue recebendo mensagens de fãs do mundo inteiro sobre a importância e significado desse trabalho.

O nome de Greg Hawkins talvez não esteja na boca de todos, mas sua arte está gravada na história da música. Ao traduzir a visão de André 3000 e Big Boi em uma ilustração única, Hawkins eternizou não apenas um álbum, mas um momento crucial da cultura pop.

André e Greg em retrado da época em que trabalharam na capa de Aquemini


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