Essa marca está tentando fazer chuteiras do zero
Ben Chehebar e a Eleven Football ignoram Nike e adidas e tentam produzir o item mais desejado do futebol: as chuteiras

A gente é bombardeado de posts patrocinados nas redes sociais. De curas para a calvície até esquemas de pirâmides 2.0, tem muita coisa ruim. Mas de vez em quando surge algo que nos faz clicar naquilo, e geralmente são coisas além dessas que citei, e aí a gente vai atrás pra saber mais.
Foi assim que a Eleven Football apareceu para mim. A empresa de Ben Chehebar, que se propõe a fazer chuteiras de futebol, está no seu processo de pré-lançamento e ele teve uma estratégia ousada nas redes sociais: postar e impulsionar esse processo. Em vídeos que misturam ideias, design, inspirações e testes, Ben nos leva pela jornada de fazer uma marca de chuteiras do zero e passa um pouco do dia a dia do seu caminho criativo.
A gente trocou uma ideia com ele e, por mais que a marca ainda não esteja de fato na rua, fomos atrás pra saber um pouco mais sobre esse processo criativo em um estágio primário e entender se realmente tem espaço para mais uma marca de chuteiras no mundo do futebol.
Oi Ben! Fale um pouco de você e sobre seu seu relacionamento com o futebol.
Cresci em Nova York, mas não era um moleque descolado da cidade, eu era de Westchester, uma hora pro norte de Manhattan. Desde pequeno eu cresci às voltas com futebol! Minha mãe é de Manchester, na Inglaterra, e íamos para lá toda hora para visitar nossa família, íamos a jogos - obviamente somos torcedores do Manchester United.
Meu pai também tem uma relação com o esporte, ele nos treinava, era o dirigente da nossa liga quando éramos jovens. Eu e meus dois irmãos mais velhos jogávamos constantemente, jogamos em clubes, nível estadual, ensino médio, tudo isso. A paixão pelo esporte começou aí.
Minha outra paixão sempre foi a engenharia das coisas e sempre tive curiosidade para entender o que eu estava usando. Essa ideia de começar uma marca de futebol começou até no ensino médio, para mim. Pensei em juntar essas duas paixões e começou aí.
Você chegou a trabalhar com futebol fora a Eleven ou sempre foi mais um hobby?
O mais perto que trabalhei com futebol foi trabalhando com adidas no time de inovação americano, que fica em Portland, no QG da marca nos Estados Unidos. Trabalhávamos em toda a tecnologia que acabava indo em qualquer tênis, de qualquer uso. Por exemplo, a tecnologia BOOST FOAM foi feita no nosso laboratório.
Usávamos vários tipos de materiais, tínhamos visitas de atletas, usávamos sensores para saber como o tênis servia, sua funcionalidade… Isso com certeza solidificou meu amor por tênis. Eu comecei a apreciar mais quanto de engenharia tem num tênis e, claro, a gente pensa no lado visual do tênis também, tem que ser bonito, mas tênis de performance tem bastante engenharia, bastante pensamento em cima daquele produto. Foi aí que comecei a querer fazer tênis, mesmo.
Parece que existe uma cultura crescente de futebol nos Estados Unidos nos últimos anos. Para nós, olhando de fora, o esporte tem feito a transição de ser um esporte de escola, para crianças, para ser algo sério, que pessoas querem fazer como profissão. Eu vejo que tem alguns fatores que ajudam: Messi na MLS, Copa do Mundo ano que vem ser aí… Como você enxerga isso de dentro?
Acho que a primeira grande mudança que a gente teve enquanto futebol foi a Copa do Mundo de 94 que aconteceu aqui nos Estados Unidos. Aí foi quando o esporte realmente ficou forte, foi também perto disso que a MLS teve sua primeira temporada (a Major League Soccer começou em 1996) e foi um choque no sistema por aqui! Claro que tinham fãs do esporte, mas isso trouxe o futebol para frente.
O futebol tem crescido gradativamente desde então. Toda vez que o time americano vai bem na Copa do Mundo é um momento cultural, um ponto de orgulho nacional e acho que o que você diz sobre essas influências, acho que também tem o fator do futebol ter ficado mais global. Por exemplo, na Premier League só tinham jogadores britânicos, agora tem jogadores do mundo todo e a MLS tem ficado um pouco assim também, tem tido jogadores de vários lugares e vários americanos também jogam em outros lugares do mundo.
Esse mix de tudo tem criado esse aumento da cultura de futebol nos EUA. Nos últimos anos temos sentido que tem crescido mesmo, até o fenômeno dos jogos que você combina e vai jogar (os pick up games) tem crescido bastante, as pessoas estão achando mais legais, seguindo mais esses clubes.
Eu espero que a próxima Copa do Mundo seja um outro boom para o esporte por aqui.

Vamos falar um pouco sobre a Eleven. Por que fazer calçados?
Parte disso porque, pessoalmente, é muito mais legal fazer chuteiras, mas eu também adoro a engenharia que vai no produto, porque é algo que as pessoas realmente usam na performance. No meu tempo trabalhando pra adidas eu criei essa paixão por tênis.
Outra coisa foi pensando em criar uma marca, um produto… Eu pensei em começar com meias, camisetas, shorts, coisas mais fáceis, de menor custo, mas eventualmente eu ia querer fazer chuteiras! Esse era o meu objetivo, sempre pensei que era o produto-chave que as empresas gostariam de fazer.
Então por que não fazer isso desde o começo?
Justo! Na Eleven é só você ou tem mais pessoas trabalhando junto?
Eu faço a maior parte de tudo. Faço os planos, os contratos com os fornecedores, trabalho com pessoas em diferentes áreas no mundo todo.
Mas quero deixar um salve para nosso designer e consultor, Tom Rushbrook. Ele teve uma carreira de mais de 15 anos na Nike e na Puma antes de abrir sua própria consultoria, a Sko Lab – não estaríamos onde estamos sem ele.

Há pouco tempo, era raro a gente ver marcas diferentes de Nike e adidas nos campos, mas hoje parece que as pessoas tem mais curiosidade para experimentar novas marcas, tipo Skechers, New Balance e até marcas menores. Como você vê isso? Existe espaço para outras marcas ou Nike e adidas ainda são preferência?
Parte da minha inspiração para a Eleven foi olhar para outros esportes. Em corrida, adidas e Nike são os top players também, mas você tem a Hoka tendo protagonismo, a On também, como exemplos. Em ciclismo você tem outras marcas mais grassroots tipo Rafa… Em outros esportes tem essas marcas desafiando os cachorros grandes do mercado. Acho que, em partes, isso pode acontecer no futebol e acho que está acontecendo.
Na Eleven a gente realmente tem o foco no futebol e só no futebol. Ser uma marca de futebol, mesmo, isso já é um grande diferencial, porque as outras marcas fazem de tudo e o futebol é só um departamento.
Não queremos perseguir Nike e adidas, mas queremos fazer nossa própria parada. Por exemplo, eles não usam mais couro de canguru e nós aqui ainda decidimos usar. Não tentamos ir atrás das cores mais brilhantes, vamos atrás de um design mais clássico, cores mais tradicionais, tipo preto, algo mais nostálgico, clássico e minimalista.
Existe a inspiração de competir no nível deles, é um sonho, mas no começo é mais sobre achar seu próprio nicho e seguir comunicando o que você é para as pessoas entenderem o que você quer fazer.
Existe toda uma preocupação hoje em dia de falar do futebol como uma cultura. Ir em estádios, comprar camisas, lembrar de relíquias como chuteiras e times antigos… Como essa cultura do futebol influencia no seu processo criativo?
Acho que o que tentamos fazer agora é empacotar a paixão que as pessoas que realmente ligam para futebol têm. A gente tenta colocar isso na nossa marca de uma forma mais nostálgica no design, com uma estética que nos remete ao que sentimos que foi o ponto alto do futebol. Tipo a era do Ronaldo, Roberto Carlos, Ronaldinho… Esse é o sentimento que tentamos colocar.
Claro que somos influenciados pela cultura, mas não sei se foi algo intencional, foi mais algo puxado de experiências pessoais. Claro que o futebol está tendo o seu momento e acho que é ótimo para o esporte, desde que continue autêntico. Sinto que existem marcas que não são autênticas chegando no futebol, querendo beber dessa fonte e claro que isso ia acontecer.
Então a gente tenta ser autenticamente futebolistas. No processo que estamos agora é mais sobre design e como os produtos se saem em campo. Talvez no estágio dois é mais sobre cultura, sobre como vender a ideia. Eu estou colocando minhas próprias experiências na marca e depois quando lançarmos, como nos encaixamos na cultura, vai ser mais fácil de vislumbrar.
Eu vi umas fotos de uma galera jogando com as chuteiras. Como estão os feedbacks dos últimos samples?
Estamos no ponto de desenvolvimento que é um wear test. A gente tenta fazer um par de chuteiras de cada vez, pensar em um design por vez. Fizemos 20 pares e acabei de voltar de Nova York, deixei os pares com uma galera que se junta para jogar - um dos clubes chama Secret e o outro o FTFC.
Em termos de feedback, tem bons e ruins e isso é totalmente normal nesse estágio de desenvolvimento. O que tem sido constante é que as pessoas amam o conforto, tentei colocar uma palmilha bem confortável neles no começo, mas com uma estabilidade que você precisa em uma chuteira de futebol. Outra parte é que o couro de canguru é fácil de laciar, da caixa pro uso. Os maiores feedbacks são esses.
Precisamos trabalhar no fit e nos tamanhos, os tênis acabam ficando um pouco grande… Mas é um momento empolgante para mim nesse processo, de finalmente ter os tênis para as pessoas usarem e não só eu e as pessoas próximas.

Como é olhar pra baixo jogando bola e ver seu próprio tênis?
Isso adiciona uma motivação extra para continuar fazendo! Eu usando o meu produto ou outra pessoa, é uma motivação gigante. Não imagino como vai ser quando realmente lançarmos o produto e ver pessoas aleatórias usando as chuteiras nos campos, isso vai ser especial.
São as coisas mais empolgantes de se começar um projeto: lançar o produto e vê-lo ter uma vida própria fora de você. Isso faz parte da motivação do que eu faço.
Existe uma onda do fashion agora usando chuteiras dentro e fora das quadras, nas passarelas e afins. Acha que as Eleven boots podem estar nesse cenário em breve?
Quando pensamos no design dos tênis no começo, estávamos esperando ter um design que ultrapassasse o gap entre performance e lifestyle, algo tipo “do campo para o asfalto”, algo que desse pra usar jogando e no bar depois.
Na prática, fazer isso é bem difícil, especialmente com uma chuteira com cravos. A gente pode tentar fazer isso com uma chuteira de quadra, mas também pode ser difícil. Mas acho que pode ser que as pessoas enxerguem assim, sim. Parte do design é um pouco mais largo, mais casual, não é tanto ultra performance, que você se sente desconfortável usando na rua.
Nós queremos sim ter um apelo fashion, mas não é só sobre isso.

Qual a maior dificuldade de fazer chuteiras em 2025?
Nesse momento, são as tarifas. Nós fabricamos na China, então esse é o maior desafio para mim agora. Mas tirando isso, trazer um produto físico para a vida, ainda mais algo que você realmente usa e que tem que ser funcional, é algo bem difícil. Existe um monte de detalhe que você tem que pensar, é bastante trabalho e isso toma maior parte do meu tempo.
Quais os próximos objetivos da marca?
Agora temos uma galera fazendo weartest e isso vai tomar mais ou menos um mês e depois vamos pegar os feedbacks. Vamos usar isso para ajustar o design e melhorar cada vez mais. Vamos começar a produção nos próximos meses e tentar lançar em setembro ou outubro desse ano.
Em segundo é espalhar a palavra do produto e da marca por aí. Esses são os maiores objetivos. Uma marca que começa do zero é bem difícil crescer organicamente. E a Eleven está em pré-lançamento, algo que ainda não está em linha, na rua, então meu pensamento foi colocar na rua a ideia, ver a reação, receber DMs com ideias e sugestões, isso tem sido ótimo.
Quero gastar dinheiro com mídias sociais? Não tanto, mas isso ajudou bastante e, em algum ponto, quando lançarmos, acho que não vou precisar forçar tanto a mensagem, mas estamos nesse estágio de desenvolvimento e isso tem sido bom. Me ajuda a ter conexões que talvez não teria.



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