DJ Makō e DJ A.S.M.A. na estreia do TILT Sessions

Membros do coletivo HAI!, DJ Makō e DJ A.S.M.A. mantêm a chama da cultura do DJ acesa em uma sessão intimista no QG da TILT Rec

DJ Makō e DJ A.S.M.A. na estreia do TILT Sessions
DJ Makō e DJ A.S.M.A. estão em casa na Tilt Rec

A TILT Rec é uma produtora audiovisual baseada em São Paulo, fundada por Beto Macedo e Tiago Berbare. Com uma forte conexão com cultura, a produtora realiza videoclipes, campanhas publicitárias, documentários, séries de entretenimento e filmes.

A mais nova iniciativa da produtora - que a ISMO teve a honra de ser convidada para lançar o primeiro episódio em primeira mão por aqui - é o projeto TILT Sessions, uma nova série de vídeos de encontros musicais que misturam uma abordagem documental com apresentações ao vivo, de forma livre e despretensiosa, sempre nos espaços da produtora.

No episódio de estreia, os convidados são os DJs Makō e DJ A.S.M.A., integrantes do coletivo HAI!, que, agora ao lado dos parceiros DJ PG e DJ Marc-T, mantém viva a essência da cultura do DJ — um dos pilares do movimento hip-hop — por meio do turntablism: a arte de transformar toca-discos e mixer em instrumento musical.

TILT Sessions #01 estrelando DJ's Mako e A.S.M.A., do coletivo HAI!

Aproveitando o barulho do lançamento, fizemos um back-to-back com os dois samurais das pickups para entender melhor a proposta do coletivo, como anda a cena atual e como foi a experiência da participação deles no projeto TILT Sessions.


Falem um pouco sobre o HAI!, quem faz parte do coletivo hoje e qual a proposta?

A.S.M.A: O Hai nasceu da vontade de se expressar através dos toca discos. Sentíamos a falta de scratchs e colagens nas músicas e decidimos fazer isso em respeito e honra a cultura Hip Hop. No inicio eu e DJ Makō produzimos alguns singles e na sequência chegaram DJ PG e DJ Marc T pra formar a banda.

Makō: Nós estávamos sentindo que a noite estava “estranha”: vários DJs tocando as mesmas músicas, fazendo até as mesmas viradas, e o público querendo ouvir apenas os hits — diferente de uns anos atrás, em que o pessoal colava para conhecer músicas novas e ouvir a pesquisa de cada DJ. Aí, trocando essas ideias, decidimos fazer um projeto para tentar resgatar a essência daquela época, tanto nas discotecagens quanto nas produções, utilizando os toca-discos como instrumento.

O “ser DJ” meio que deu uma banalizada nos últimos tempos, né? Muita gente tocando por aí sem nem ao menos saber o básico de mixagem…o que pensam sobre isso?

Makō: Sim, eu acredito que tem vários tipos de DJs. Hoje em dia, com o acesso mais fácil às músicas e aos equipamentos, é inevitável o aparecimento de DJs — muitos músicos, atores, atrizes e personalidades querendo “atacar de DJ” — e, quando isso acontece, a qualidade cai, até essas pessoas se ligarem que têm que estudar as técnicas, os fundamentos e até mesmo a cultura (falando de Hip Hop/Rap). Se se identificarem mesmo, vão virar bons DJs daqui a alguns anos, assim espero. Eu acho da hora ter bastante gente tocando, mas tem que estudar, treinar — é o mínimo.

A.S.M.A: Deve ser relacionado ao fetiche, sei lá. Mas, sinceramente, é um desrespeito sair pra tocar sem saber o básico da mixagem. Diversas pessoas se dizem DJs sem respeitar o básico, e isso também acontece devido à curadoria, que abandonou qualquer critério.

Makō e A.S.M.A conversando pelos toca-discos

O hip-hop também vive um momento um pouco estranho, parece que essa nova geração está um pouco desconectada da história, dos valores e dos elementos que são os pilares da cultura. Como vocês enxergam esse momento?

Makō:
O acesso fácil deixa as pessoas mais preguiçosas, e cada vez mais estão dando valor apenas para a estética — muito valor para roupas e estilo — e a música e os versos são o de menos. Felizmente, tem uma molecada que estuda e mantém a real cultura viva. Acredito que, no passado, quem estava fazendo, fazia por amor. A partir do momento em que o foco vira a grana, na maioria das vezes, acaba o amor, e a preocupação passa a ser fazer um produto que todos gostem. A indústria percebeu que o Hip Hop, por ser um movimento que contém arte, dança, rap e DJ, pode ser um produto rentável.

A.S.M.A: Desde que o rap gangsta e com letras voltadas à luxúria ganhou força, a história do hip-hop acabou sendo ofuscada, gerando uma certa desconexão com a cultura original. O DJ passou a ser confundido com o produtor, e muitos MCs abandonaram a valorização da arte do DJ — justamente o elemento que deu origem ao movimento.

A cultura do turntablism apesar de nichada sempre foi muito forte aqui no Brasil, né? Mesmo com todas as dificuldades, o alto preço dos equipamentos e dos discos, a gente acaba produzindo fenômenos como o de um Erick Jay, por exemplo. Ao que vocês atribuem isso?

A.S.M.A: Somos muito fortes! Raylan, Erick, RM...E para manter viva uma história temos grandes personagens que vivem o Hip Hop longe do holofote da indústria. Acredito que é cíclico, e em breve essa onda de ostentação cai e abre espaço pra outros caminhos. Agora é lindo no terceiro mundo existir djs que representam a arte seja na pesquisa, mixagem ou performance e não apenas reproduzem o mesmo set com hits eternos.

Makō: Graças a Deus, o brasileiro tem raça, aí a gente sempre dá um jeito de fazer as coisas acontecerem. Muito respeito ao Erik Jay, Raylan, Shinpa, que estão representando o BR lá fora ultimamente! Aqui, os equipamentos são o triplo do valor comparado com lá fora e, além disso, os DJs aqui, pra conseguirem se manter, têm que trampar com outras coisas no começo. Aí chegam em casa cansados de ter trampado o dia todo e, mesmo assim, treinam. Eu tive o privilégio de acompanhar o DJ Cia no começo — carregava os toca-discos dele, passava os discos pra ele nos shows. Aprendi muito com ele, acompanhando e vendo ele tocar e treinar, lembrando que na época nem internet existia. Temos que passar o conhecimento pra frente, pra não acabar a cultura.

Makō e A.S.M.A fazendo o crossfade chorar na estreia do TILT Sessions

O que vocês acham que os DJs de turntablism brasileiros trazem de diferente pra cultura hip-hop global e que faz com que se destaquem?

Makō: Eu acredito que os brasileiros são bem criativos — não só nos toca-discos, mas em todos os aspectos: na arte em geral, música, publicidade, design. Como as coisas são mais caras pra gente e temos que dar um jeito, a gente acaba inventando um jeito novo de fazer as coisas, é uma parada cultural nossa. Acho louco quando utilizam instrumentos brasileiros pra riscar, música regional etc.

A.S.M.A: Quando você ouve e vê um DJ com técnica e pesquisa, é aí que está a magia e arte, construir um set e não soltar sons aleatoriamente, surpreender e manter a batida faz a diferença, em respeito ao público.

No episódio vocês trouxeram uma comparação interessante do turntablism com as artes marciais. Falem um pouco mais sobre isso.

A.S.M.A: A arte formada do scratch e batida exige prática e comparamos com arte marcial que necessita de prática e treino igual a uma performance nos toca discos, mesmo foco e concentração. A filosofia das artes marciais também cruzam na filosofia do DJ, pesquisa, estudo e respeito formam o bom DJ e o bom lutador.

Makō: Essa comparação sempre fazemos, pois, como nas artes marciais, os lutadores treinam muito para não utilizar — não é para sair por aí arrumando briga ou para aparecer. Treinamos muito para fazer os riscos precisos e quando a música pede, não sair riscando toda hora e tudo torto só para aparecer. Exige uma disciplina.

Como foi pra vocês participar desse episódio de estreia do TILT Sessions?

A.S.M.A: Foi uma honra estar com a TILT nessa, admiramos e somos fã do cuidado que eles tem com a obra audiovisual e montamos uma apresentação especialmente pra eles. Quando gravamos ainda éramos em dois mas representamos a essência.

Makō: Uma grande honra. Conheço o Beto desde pivete, sempre respeitei muito e sempre fizemos uns trabalhos juntos, tocamos juntos também. Gosto muito dos trampos e do conceito da TILT, e do pessoal que trabalha lá. Ele tinha comentado que queria iniciar um projeto com música, nos convidou para gravar e aceitamos sem pensar. Espero que esse projeto tenha vida longa e faça chegar música boa para quem procura.


ISMO
Cultura em movimento

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