Casual Football traz a atitude punk pra dentro do futebol
Pedro Santos e a Casual mostram como o futebol é uma conexão entre assuntos, momentos e personalidades históricas

O esporte é um terreno fértil para reinterpretações além de sua atividade corporal. Extra campos e quadras, as pessoas os vivem de diferentes formas, umas mais intensas que outras é verdade, mas todas de algum jeito que ligam suas vidas pessoais aos times e atletas.
Com a Casual Football, essa ligação tem vários caminhos que se cruzam. Pedro Santos, o cara por trás da Casual, trouxe sua experiência de vida trampando com futebol e pegando muitos insumos nas horas vagas de suas jornadas, para dentro de um lugar de conteúdo e produtos que misturam futebol, política e música.
A gente trocou uma ideia com ele para saber mais sobre essas ligações, sobre os caminhos que a marca percorre e sobre os desafios de se misturar assuntos que nem sempre são os mais corriqueiros no futebol.
Fala Pedro, beleza? O que de fato é a Casual Football? Uma marca, uma crew, uma ideia? Como você define?
Salve! Casual Football nasce em 2015 quando fui mandado embora do meu trabalho na época - trabalhei 13 anos n ESPN - e para não ficar parado, resolvi que ia fazer uns vídeos e um Instagram para colocar histórias de clubes que pouco se falavam, junto do que eu trazia das viagens que fazia a trabalho. Nelas eu sempre trazia umas camisas de futebol, livros e discos de Punk, música Jamaicana e Rap. Era uma parada mais de conteúdo, mesmo.
Comecei a fazer os videos em parceria com a Atrox e o Clayton em 2015 e, tempo depois, acabei querendo tocar sozinho o projeto. Essa transição entre algo mais de conteúdo para uma marca foi acontecendo naturalmente, porque os vídeos acabaram ficando difíceis de fazer por falta de tempo e a marca acabou tomando conta.
As pessoas gostavam do logo do Casual Football e na época tinha uns amigos que tinham a Colex, que faziam merch de uma galera, e fizeram umas camisetas pra mim. Esse foi o começo da marca, mesmo, depois vieram outros produtos como canecas e ímãs.
Como surgiu esse interesse de misturar futebol, política e música?
Na real já gostava dos temas só não sabia direito que todos tinham muita ligação. Viajando a trabalho fui vendo esse submundo do futebol, principalmente na Europa com os times St. Pauli, o Rayo Vallecano e o Livorno.

Ali fui entrando de cabeça mesmo, comprando livros, revistas, pesquisas na Internet e aí fui ligando uma coisa a outra. Por exemplo, falava de um clube X que tem uma torcida politizada que curte um som e aí sempre tentava trazer o máximo de coisas possíveis relacionadas a esses temas: futebol, torcidas, música e política.
Através do Casual Football achei fazendo alguns amigos que ajudam nessa curadoria e sempre compram livros, revistas ou mandam matérias na Internet pra mim, em especial Ivan que mora em Madrid viciado em virou um irmão e me ajuda demais.
O futebol, apesar da gente fazer nosso melhor enquanto pessoas, é um lugar que ainda o machismo, homofobia e preconceito imperam. Como você vê isso e como posiciona a Casual nisso?
Esse futebol da TV, o que chega para a maioria, com certeza tem muito para melhorar. Tento mostrar o outro futebol, mais inclusivo, politizado, de clubes pequenos que muitas vezes usam o futebol também como uma ferramenta para tirar crianças da rua por exemplo, ou coletivos que usam a bancada para concietizar as pessoas. Só que essas ações, times e torcidas não aparecem para maioria. Por isso uso o Futebol Além do Mainstream, porque tem um uderground do futebol que é bem interessante também.
Isso é muito semelhante ao que rola em shows de punk, hardcore, SxE, pra mim é muito parecido.
Quais momentos, clubes ou personagens históricos do futebol que mais fazem essa junção desses elementos que a Casual Football se inspira?
Vou responder por partes essa (risos). O primeiro momento por ser Corinthiano é a Democracia Corinthiana, de ouvir as histórias, eu era pequeno na época, então logo que começo me interessar pela história do meu time a Democracia Corinthiana me pega.
Depois, o primeiro time que me trás para relação com o punk foi o West Ham com Cockney Rejects e, bem no começo do Casual Football, fui bastante atrás dessa relação de bandas com futebol.
A torcida do West Ham escolheu essa da banda como um hino
Agora, em questão de personagens, vou citar alguns, porque são muitos: Sócrates, Afonsinho, Reinaldo com seu punho erguido, Almir Pernambuquinho, Heleno, Maradona, Darío Dúbios, Cantona, Higuita, Valderrama, Sissi, Pretinha, Rapinoe, Paul Gascoigne, Mágico González, George Best, Robin Friday, entre outros (risos). Tem muita gente que faz essa ligação desses assuntos que a gente gosta e que viram temas pra nós na Casual Football.
E isso se reflete nos produtos também, né? Esses momentos e personagens. Quais são os produtos de vocês que mais fazem sucesso e por que você acha que eles são tão queridos?
A mais querida disparada é a La Mano de Dios (offwhite), a galera pira muito no Maradona (risos). Os mashups a galera também curte demais - Cantona Bad Brains, NWA com jogadores latinos, Suffer Bad Religion contra VAR - e a do Sócrates também sempre me pedem.









Algumas das artes da Casual Football inspiradas em clássicos do punk-rock e do rap
Mas às vezes a gente lança uma estampa achando que vai ser um estouro e chega na hora e não é. Acontece (risos).
Na visão de vocês, a galera que curte as ideias e os produtos são mais do futebol, da música ou a galera de esquerda de maneira geral?
Os dois, na real, tanto a galera da música quanto a galera da esquerda. E na maioria das vezes, são a mesma pessoa (risos). Uma parada muito importante que fez uma galera conhecer e curtir mais a Casual Football foi nossos produtos terem sido usados por uma galera da música. Fábio e Rogério do Paura foram os primeiros a usar uma camiseta do Casual Football, Rodrigo Lima do Dead Fish, Badaui tem mais produtos do Casual que eu, Rodrigo Sonesso do Skamoondongos e Marzela, Canibal Devotos, Jão do RDP, Adriano (Joselito) do Hermes e Renato e Thiago DJ. Essa galera fortaleceu e fortalece muito a gente.

Nas feiras de colecionadores de camisas de futebol mais comuns, a galera, na maioria, não curte os produtos do Casual Football. Até por isso sempre faço uma feira - hoje em dia é a Feira La Pelota - com produtores independentes de futebol para fortalecer essa cena. Tem bastante gente fazendo coisa legal, só que cada um de um lado, todos na internet, então é muito bom quando junta todo mundo e a gente se ajuda. Trago essa parada do punk, do underground, de fazer a cena acontecer em feiras, encontros e afins, para o futebol.