Brian Jackson e o álbum Of Corners and Bridges
Quando a esquina vira ponte entre culturas

Com Of Corners and Bridges, Brian Jackson entrega mais do que um disco — apresenta uma carta de amor à música, à cultura e à conexão entre mundos que, à primeira vista, podem parecer distantes. Conhecido por sua colaboração histórica com Gil Scott-Heron em álbuns marcantes dos anos 1970, Jackson retorna com um trabalho que celebra as esquinas e pontes que conectam histórias de resistência, beleza e ancestralidade.
O título do álbum carrega um simbolismo potente. Jackson relembra seu trabalho com Gil Scott-Heron no disco Bridges, e associa esse conceito à canção “Travessia”, de Milton Nascimento — cuja tradução literal é “crossing” ou “bridge”. A referência se aprofunda com o álbum Clube da Esquina, de Milton e Lô Borges, que em inglês seria algo como “The Corner Club”. A esquina, nesse contexto, representa um lugar de encontro, de troca, de formação de identidade — um ponto de partida para cruzar novas pontes culturais.
A conexão com Milton Nascimento não é apenas simbólica: Of Corners and Bridges é, em grande parte, um tributo ao artista mineiro e à sua importância na construção de uma musicalidade que dialoga com as dores e esperanças de povos oprimidos. Jackson destaca que tanto ele quanto Milton usaram a música como ferramenta de resistência, canalizando beleza e cultura para oferecer conforto e força em tempos sombrios.

O disco conta com colaborações de peso, que ajudam a traduzir esse espírito de comunhão e troca. Estão presentes nomes como Paulo Santos Uakti, Ivan Conti, Alberto Continentino, Robertinho Silva, Rodrigo Brandão (em uma criativa versão spoken word de “Ponta de Areia”) e o próprio Bituca, entre outros. Em vez de soar como uma colagem dispersa, o álbum se mantém coeso, guiado pela curadoria musical de Jackson e pela estética refinada que combina jazz, soul, spoken word e elementos contemporâneos.
A capa foi criada pela dupla de artistas brasileiros OSGEMEOS, que traduziram visualmente a essência do álbum — uma obra que conecta passado e presente, o sagrado e o cotidiano, as esquinas do mundo com as pontes da imaginação.
Ao longo de suas faixas, Of Corners and Bridges reafirma a ideia de que a música é uma linguagem universal, capaz de atravessar fronteiras geográficas, sociais e temporais. É um disco que se escuta com os ouvidos e com o coração — um encontro de gerações, culturas e trajetórias marcadas pela luta, pela beleza e pelo desejo de um mundo mais conectado e consciente.