Beats2 traz o nome de um clássico com skatistas da atualidade
Cotinz apresenta a segunda edição do icônico vídeo da Antihorário 14 anos depois
O Beats, vídeo de skate brasileiro de 2011, foi um marco no audiovisual skatista da época, trazendo nomes como Daniel Marques, Klaus Bohms, Guilherme Trakinas, Akira Shiroma, entre vários outros, para manobrar nas lentes de Alexandre Cotinz. O diretor, que também é skatista profissional, esperou 14 anos para lançar uma nova edição e em 2025, o Beats2 finalmente está no ar.
Com partes de Davi Theobaldo, Traks e Ortiz, Johnny Freitas, Ben Koppl, Daniel Marques, Arthur Rodrigues, Cós e uma porrada de amigos nas partes coletivas, a segunda edição do clássico do Cotinz é uma releitura moderna, com novos skatistas e algumas pequenas homenagens ao primeiro vídeo.
A gente bateu um papo com o Alexandre pra saber sobre o vídeo novo, as lembranças do vídeo antigo e o skate que ficou e que fica nesse meio tempo.
O primeiro Beats foi de 2011 e esse segundo está saindo 14 anos depois. Como era o skate na época e como é o skate hoje?
Tem coisas que eram iguais e outras que mudaram muito. A minha experiência é basicamente a mesma, o que eu vivi para fazer cada um dos vídeos, a diferença é que, pra galera que não tinha patrocínio ou que não era tão conhecida no Beats 1, estar no vídeo era uma parada importante para a carreira, para possivelmente passar para profissional, ter patrocínios maiores e afins. Hoje não tem mais tanto essa perspectiva… Os moleques que andam comigo e que estão no vídeo, poucos tem patrocínio e os que têm, não tem a mesma dinâmica de carreira como era antigamente. Ter um pro model ou estar nas equipes ou nas marcas, não faz o mesmo sentido que antes.
Os moleques pensam mais na festa na hora da premiére do que a repercussão, que hoje é muito menor. Lembro que o Trakinas comentava que o vídeo ia ser bem falado, que todo mundo ia comprar o DVD - e o 2 a gente sabe que é coisa de um mês e tchau. Eu estou lutando para ter uma sequência no conteúdo, ter os raw files, criar uma longevidade, até pela importância do bagulho. Todo mundo colocou bastante esforço na parada, não só eu.
O primeiro Beats é de 2011
Fiz no modo antigo, o que vai na parte é o melhor que você pode fazer, não é qualquer trick, é um baita esforço e dedicação. Com a velocidade do consumo de mídia hoje, o consumo da galera é diferente, então estou tentando criar essa aura em torno da parada para valorizar o esforço de geral que participou do vídeo.
Essa é talvez a maior diferença, a forma como é consumido o conteúdo, mesmo isso não sendo a força motriz da gente fazer o vídeo, nem no primeiro nem agora no segundo. Faz parte, claro, mas é algo mais individual.

Por que ao invés de fazer um vídeo com outro nome, você escolheu ser uma continuação do Beats?
Eu precisava de uma motivação para fazer algo estruturado e não fazer qualquer coisa no meio do caminho. Se eu tivesse que responder pela parada, alcançar o padrão que eu mesmo alcancei, eu achei que me dedicaria mais. Fora que uma galera pedia pra fazer outro Beats, com partezonas dos caras mesmo e a gente se dedicou a isso, principalmente nessa formatação de ter 4, 5 minutos do cara andando de skate no seu melhor nível.
Os moleques que são menos conhecidos, tipo o Johnny ou o Cós, queriam fazer parte do vídeo nesse formato, eles queriam se dedicar a isso, então a coisa fluiu. Se eu fizesse algo novo, era outra história que eu teria que contar. Eu fiquei 2 anos e meio, quase 3 fazendo o vídeo, então muita coisa evoluiu dessa vontade de fazer um full length.
Uma coisa curiosa que rolou foi o pedido do Ben Koppl pra participar desse vídeo. Ele veio falar comigo no começo, quando eu estava pensando em fazer, mas ele que veio dar um salve pra participar de um novo Beats. Ele passou 20 dias aqui e filmamos 12, com ele rendendo pra caralho, tudo selecionado, com as melhores tricks, deu mais de 4 minutos de parte, é muita coisa! Tinha dia que ele acertava de primeira, eu ainda estava setando a câmera (risos).
E como é lidar com essas vontades de estar no vídeo e ainda assim ficar puxando a galera pra andar mais e dar manobras mais cabreiras? Quase um trampo de team manager…
Foram experiências diferentes nos dois Beats. No primeiro eu estava querendo chegar em algum lugar, estava usando também o vídeo para pensar no futuro. Hoje, nesse novo, é mais divertido, estou fazendo por querer construir algo relevante. O vídeo de skate mudou muito também e hoje a galera gosta de algo mais palpável e que a pessoa possa se ver ali, como os vídeo da Tired e Fancy Lad.
Quando eu comecei a ficar mais velho, comecei a andar com uma galera que não era do game ou não era exatamente boa, não tinha o maior skills do mundo, mas que consome muito skate, principalmente coisas que são mais aproximadas com o nível daquilo que a galera já anda. Então comparavelmente, do primeiro vídeo pro segundo, o nível de skate ser uma régua mudou bastante.
Vale falar aqui, um parênteses importante, é que nos dois vídeos eu escolhi pessoas que eu gosto para terem as maiores partes, porque é foda, você vai passar muito tempo junto, viajando, apertado num carro, apertado em quarto de hotel, na casa das pessoas… Tem que ter alguma afinidade e isso vai fluindo naturalmente, no fim tem bastante coisa de cada pessoa. Outra coisa que me impulsiona filmar a galera é ter pouca coisa daquele skatista X e eu curtiria ver mais daquela pessoa, ver o rolê dele, a personalidade… Eu gosto muito de skate, então tento sempre transcrever, do meu jeito, o que eu gosto no rolê desses caras.
O que você trouxe do primeiro Beats para esse segundo? Tem algum easter egg?
Eu queria referenciar, não reverenciar, mesmo que referenciando a gente acaba reverenciando (risos). Queria dar um senso de continuação, com uma câmera diferente, com sons diferentes, uma geração depois. Visualmente o vídeo é diferente, não dava pra dar a continuidade estética com outra câmera, então tentei trazer uns elementos e umas homenagens, coisas pequenas. Por exemplo, a música dos Tropicalients está ao contrário de novo, mas não é a mesma música, até pra não repetir a piada.
Mas tem outras coisas também, que eu não costumava fazer, tipo usar músicas mais populares, músicas de baladas, uns grime da vida. Usei uma música que tirei a ideia de um vídeo do Pontus Alv, uma ideia que ele teve, de usar músicas que já tinham sido usadas em outros vídeos que tinham marcado a vida dele. Usei uma do Boyish, uma música que tem no vídeo, feito pelo Jackson Casey, um dos vídeos que eram referência pra mim na época do primeiro Beats.
Outra coisa que rolou foi colocar uma brincadeira de “mesma trick, mesmo spot, mesmo ângulo”, com dois skatistas no mesmo vídeo, do Trakinas e o Renato Segato, um bigspin na Avenida Angélica.

Na intro do Johnny tem uma homenagem pro Arto Saari, da parte dele do vídeo Flip Sorry, que ele cai, se arrebenta e depois vomita, numa animaçãozinha. O Johnny caiu um dia de moto, foi pro hospital, mas não tinha o capote pra botar então botei essa referência.
Coloquei todo mundo do primeiro em uma parte, para ser uma homenagem. Usei os mesmos nomes que usei no primeiro, mesmo que a galera não use mais - tipo o Mário Hermani, que colocamos Mário Romário, que nem no primeiro vídeo.
Na parte do Daniel, no primeiro vídeo a música está em 50% do tempo e no 2 é a música em tempo normal e funcionou bastante! O Daniel Marques era pra ter umas quatro manobras, mas ele é imparável (risos). A ética de trabalho do cara é impecável.

O Dani é foda, mesmo! Um dos favoritos. Mas falando em favoritos e em skatistas, você é skatista profissional e concilia essa parada de filmar e andar. Dá certo conciliar isso tudo?
Cara, o motivo de ter demorado 14 anos entre um vídeo e outro é porque eu passei pra pro no meio disso tudo! Hoje, filmando, eu não ando tem uns meses, nos últimos dois anos eu filmei uns 6, 7 clipes, algo que eu fazia em dois meses quando era pro.
Hoje eu sou pai, moro com a minha família, concilio a vida nessas novas dinâmicas. No Beats 2, uns 40% são imagens doadas de outros videomakers no vídeo todo - no primeiro era bem menos, uns 20%.
Eu até conseguia conciliar mais antes, mas foi por pouco tempo. Quando eu comecei a filmar pro Uni.Versus, da Agacê Skateboards, eu fiquei só andando de skate e depois fiz minha videoparte de profissional - foi nessa época que eu aprendi a andar de skate na rua, mesmo!
O Cotinz passou para profissional com essa parte
O primeiro Beats teve alguns patrocínios, Crail Trucks, Emerica, HAHAHA e Evolution Skateshop. Esse é produção independente?
É Penka Arquitetura, porque o Mário tirou dinheiro do bolso! Ninguém tem patrocínio; os que têm, não rolou uma ajuda. Eu até queria, mas não contava com isso. É foda, sabe? No vídeo, não são os caras que estão nos campeonatos ou que fazem publi no instagram, manja? É difícil ter um olhar hoje em dia pra quem não está botando as caras pra fazer esse tipo de coisa.
Então acaba sendo uma parada por amor, né? For the culture.
Ah, e também um pouco pra mostrar meu trampo, para outras marcas que quiserem ter um vídeo com conteúdo e embasamento cultural verem que existe alguém fazendo e que tem mais de 30 anos dedicados ao bagulho, sabe?
Mas com certeza é for the culture. Eu estava vendo os moleques andando e fiquei pensando que eles estão no auge e que eles tinham que ter 5 minutos do melhor skate da vida deles filmado, gravado e editado, tá ligado?


Pode crer. Beleza, Beats 2 entregue, premiéres feitas, vídeo online no ar. Você vai voltar a ser só skatista (risos)?
Não, a minha ideia é continuar fazendo vídeos, mas coisas menores. Pegar um ou dois caras e focar neles, sabe? Pretendo transformar numa série menor, propostas diferentes, uma parada mais de crew, meio GX1000, Delivery ou Atlantic Drift, algo do tipo. Minha ideia é fazer com alguma mídia ou com alguma marca e conseguir viabilizar viagens para fazer acontecer vídeos muito legais.
Assista ao Beats2 agora