Balanço e Fúria - de podcasts online para encontros olho no olho
O podcast completa 5 anos e tem feito uma transição gradativa do virtual para encontros presenciais e trocas entre pessoas

O Balanço e Fúria, projeto independente do Rodrigo Corrêa (Sobinfluência) é um projeto que nasceu em 2020 com a ideia de podcasts dedicados a interpretarem as relações entre cultura e política no decorrer da história, tendo a música como objeto principal, passando também por outras vertentes da arte, como fotografia, cinema, pixo e afins.
Agora em setembro de 2025, o projeto completa 5 anos e vem tendo uma transição gradativa dos papos via podcast, apresentados pelo Rodrigo e/ou colaboradores diversos, para encontros presenciais que tenham como tema a música, política, urbanismo, arte e afins.
A gente trocou uma ideia com o Rodrigo para saber de onde veio e para onde vai o Balanço e Fúria e quais os desejos por trás da transformação analógica e offline que o projeto está tomando.
Uma vez, em outra plataforma, a gente conversou sobre seus projetos, dentre eles o Balanço e Fúria e você me disse que o começou porque ouvia histórias cabulosas e essa era uma fagulha para uma investigação mais profunda sobre esses fatos. 5 anos depois, você ainda tem bastante história pra cobrir, tem bastante relação pra fazer ou tem ficado mais difícil achar essas fagulhas?
A história sempre tem, até porque uma história leva a outra, né? Eu acho que sempre que a gente ativa a memória de uma pessoa, ela se conecta direta e indiretamente à memória de uma outra pessoa do mesmo circuito, do mesmo rolê. Eu acho que são histórias que se complementam, revelam novas versões, novas camadas e nunca se esgotam.
2025 tem sido um ano que essa parte da história no podcast tem ficado um pouco bagunçada, porque é uma parada que demanda empenho e tempo, o que está um pouco esporádico, mas tem isso tem aberto outras oportunidades: encontros presenciais, discotecagens comentadas, atividades em parcerias com outros institutos etc.

E eu acho que isso tem sido a grande ou a principal novidade desse ano, que fez com que o Balanço e Fúria ocupasse um lugar que tivesse alguns tentáculos que abraçam outras coisas. As histórias estão sendo contadas em outras plataformas, né? Com a presença de pessoas, com a articulação com parceiros institucionais ou não… Tomamos a rua, sabe? Nos anos anteriores já acontecia, mas eu acho que 2025 foi entendido melhor que o Balanço e Fúria tem esse potencial de tomar a rua também.
Vejo que o Balanço e Fúria mora nas subculturas urbanas. Você vê assim também? Como é pra você essa temática?
Eu acho que a subcultura aparece muito porque é da onde a gente vem, né? Tem uma intimidade maior quando vamos especular algo que estamos perto há muito tempo e é mais arriscado quando a gente escolhe fazer sobre uma linguagem que a gente não está tão perto assim ou está perto há pouco tempo, mas o interesse é total.
Eu acho que tudo o que corresponde à produção cultural nos interessa. A arte contemporânea, a música mainstream também, mesmo que seja no lugar da crítica, como um episódio que fala sobre a música sertaneja. Acho que todas as expressões nos interessam, desde que haja camada pra gente olhar para elas e, cada vez mais, o olhar vem se abrindo para coisas que fogem desse repertório que no início era muito pessoal - eram coisas que eu consegui articular muito pautado na minha experiência. Eu acho que vem rolando no processo de descentralização, inclusive de quem toma o Balanço e Fúria para si. Cada vez mais parceiros chegando junto, propondo coisas e botando para rodar leituras de cultura e de mundo que não são só a minha.
Isso é um movimento muito importante na minha visão. Fazer tudo sozinho, você vai se desgastando, né? Por muito tempo era OK fazer tudo sozinho, mas depois de um tempo já para de ser. Então, além de ter diversidade dessa quantidade de material, mais gente produzindo junto, tem essa diversidade de visão. Então, se a gente pensar nas parcerias recorrentes, a gente tem a Malu de Barros, que é arquiteta, muito eh eh dedicada à pesquisa das expressões sônicas pretas e urbanismo; a Natália Grilo, que também é mais do jazz e isso é muito presente na pesquisa dela; a Thaís Regina, jornalista muito interessada nas expressões eletrônicas urbanas de periferia e muito próxima da gente também; a Vanessa Mendes, a Mamba Negra, que também tem essa articulação de arquitetura, de espaço, música eletrônica… Então isso já dá uma ampliada um pouco no nos objetos que a gente olha, né? Então, acho que é fundamental não ficar situado nas experiências pessoais para tentar pautar algo que diz respeito à experiência de muita gente. Então tem que se deslocar mesmo!





Algumas colaborações que já rolaram no podcast
O podcast de áudio somente ficou bastante forte na pandemia e hoje parece que as pessoas tendem a ver mais cortes de videocasts do que ouvir só o áudio. Existe uma preocupação do Balanço e Fúria com isso, você vê a necessidade de ter vídeo também?
Eu não chamaria de necessidade, mas de desejo. Tenho vontade de trazer o audiovisual em algum formato mas não como podcast. Algo que envolva, sei lá, um trânsito, que envolva acervo, arquivo, que envolva uma conversa. Tem alguns tem alguns vários exemplos assim, tipo o Discoteca Básica do Manos e Minas, que era ir na casa do DJ e ver ali a coleção dele, tá ligado?
O que não deixa de ser um podcast, né? Quase que toda a conversa registrada acaba captada, que vai virar um material para você ouvir. A gente pode considerar isso. Então, não vai fugir tanto dessa essência que já estamos fazendo, mas eu acho que o formato assim como uma coisa visual mesmo estética, como as pessoas vão se comportar no espaço, o que que elas vão ter em mãos, o que que a gente vai poder ver, como que a gente vai poder mostrar o que tá sendo dito, isso é importante, é um desejo.
Aí pra fazer acontecer, tem que pensar, né? pensar em como ter recurso, em como ter gente. Quem sabe ano que vem, fim desse ano, coisas já foram começadas, que meio que não foram terminadas, assim, tem umas captações, só que é isso. Infelizmente todo mundo na no voluntarismo ali, tempo para ver, tempo para editar, tempo para picotar, para decidir se ficou bom ou não, se perdeu um pouco assim o nosso cronograma. Mas já foi começado algumas ideias nesse sentido. Agora tentar começar ideias que terminem no próximo momento com algum recurso. Vai rolar, tem que rolar, é parte da vontade!

O Balanço e Fúria já foi e é produto, como nessa já clássica camiseta na temática da relação entre o punk e o reggae
O Balanço e Fúria partiu muito de uma experiência individual para vários tipos de troca, não só das pessoas que colaboram, mas para as trocas presenciais. Você acha que a troca de experiências é realmente o futuro do Balanço e Fúria?
É o que eu desejo. Se é o futuro, eu não sei, mas é o que eu desejo agora. Se houvesse recurso, sei lá, um edital, acontecer alguma coisa em que a gente pudesse escolher o que fazer, eu escolheria isso - ter um lugar que pudesse acomodar materialmente pessoas e ideias.
Tem um problema no Balanço e Fúria que eu sei que é que que é crítica de algumas pessoas e eu reconheço que é muito os temas e tales são muito focados em São Paulo.
Sei que tem parcerias interessantes fora da cidade, como o Tony Araújo, que é uma pessoa muito muito importante, um historiador do Maranhão que pesquisa jazz, mas eu reconheço que são poucas as articulações que fogem daqui. E eu sei também que o espaço físico às vezes pode tornar uma experiência ainda mais em si ao invés de expandir. Eu sei que tem esse risco, mas ao mesmo tempo é sobre um exercício de criar um uma cena, de certa forma, de extrapolar um limite dado pela virtualidade e potencializar tudo isso. Eu acho que vale a pena, tá ligado? Vale a pena.
Vale a pena também olhar para esses vícios de estar sempre muito focado nas linguagens que acontecem aqui perto da gente e mudar isso justamente a partir de um lugar físico às vezes, sabe? Às vezes são desses encontros que a gente vai gerando mais e mais ritmo para deslocar para outro lugar. Então é tentar usar essas essas possibilidades que parecem estáticas para um movimento maior. É essa a ideia, trazer um movimento, assim como a gente faz com o Sobinfluência, que tem um espaço físico que, mesmo sendo limitado no seu alcance, funciona muito melhor às vezes do que numa insistência diária em produção na internet que a gente depende de algoritmo, depende de alguém captar informação no meio de um ruído gigantesco.
5 anos depois, como está o projeto hoje?
Esse lugar da soma foi sendo intensificado no passado, tanto de gente que entendia o que que era o Balanço e Fúria, quanto de gente que entendia a ponto de incorporá-lo numa forma de trabalhar percepções, leituras, projetos e tudo mais. Eu acho que o futuro vai estar nesse lugar de articular melhor essas interações entre forma e conteúdo, no caso do audiovisual, em encontros presenciais para discotecagem comentada, para estudo, para debate...
Eu gosto da ideia de, tentar efetivar o Balanço e Fúria como algo multiplataforma, mais organizado, com uma recorrência maior nas produções, com uma articulação mais refinada com os parceiros para que isso se transforme em algo maior, em algo que a gente consiga usar de fato assim. assim, né? Aprender com a parada, encontrar as pessoas, ouvir os sons… Meu sonho é ter um lugar físico com uma biblioteca, um toca disco, eh, um estúdio, tá ligado? Isso pode ser que demore, mas os próximos passos são micro ações que vão nos levar cada vez mais para ter um lugar, para chegar no Balanço e Fúria um lugar em que a gente possa acessar, descobrir, aprender, se conectar com atividades presenciais e com possibilidades de se criar coisas. Eu acho que por aí.





Os vários encontros do Balanço e Fúria - mais frequência e mais trocas para os próximos anos