A reciclagem sonora de SANTA SUCATA vol. 1

Um papo sobre a trajetória de Sucateiro e o desenvolvimento do seu primeiro álbum

A reciclagem sonora de SANTA SUCATA vol. 1
Detalhe da capa de SANTA SUCATA vol.1 (foto: Crizan Leone)

SANTA SUCATA vol.1, lançado no final de 2024, é o primeiro álbum de Sucateiro, DJ e produtor nascido em São Paulo e que atualmente reside em Tatuí. O seu vulgo vem da prática de reciclar as "sucatas sonoras", e tem origem no nick que usava em jogos de computador, que foi ressignificado pelo seu interesse nos samples, desde quando fazia beats de boombap, até hoje, que vem encontrando o seu lugar na cena do grime.

É também produtor executivo e uma das mentes por trás dos RAGGACLUBBERZ, coletivo que organiza o CR1AGRIME e o Terra à Vista, duas das principais festas de grime que acontecem em São Paulo. Ele conta que tudo mudou na sua trajetória quando conheceu essa rapaziada: "Em 2023, a gente se juntou pra fazer os eventos lá no CR1A, isso foi o que abriu minha mente e meio que de todo mundo. Foi uma união que fez uma força absurda assim, que ninguém esperava."

RAGGACLUBBERZ (Foto: Crizan Leone)

O SANTA SUCATA foi a primeira realização de álbum do Terra à Vista, que além de vir movimentando o underground com as festas, está também focado no lançamento de fonogramas. Nesses últimos meses, as faixas do álbum tem sido tocadas pelo mundo todo, e sentamos pra trocar uma ideia sobre o processo criativo, influências, dificuldades e a recepção do disco.


De onde vem a sua relação com a música e o que te fez começar a produzir?

Desde o berço. Em casa minha mãe sempre colocou muito CD pra eu escutar, desde rock, até música eletrônica, música alternativa, samba, pagode, jazz, uma mistura. Conforme eu fui crescendo, fui absorvendo cada vez mais influências musicais, sendo com amizades, outros familiares e rolês que frequentava, me dando toda essa ecleticidade que eu tenho. 

Aí sempre tive muito esse lance de ouvido, desde criança, de ficar batucando as coisas, ouvia e ficava pensando, e acabei levando isso até pro meu processo criativo, tá ligado? Quando escuto uma música, ela fica tocando na cabeça como se eu tivesse de fone, de tão forte que é esse lance do meu ouvido, e começo a pensar sobre como fazer a música do meu jeito na minha cabeça — e daí quando eu vou sentar pra produzir, meio que já tava pronto, tá ligado? Raramente eu pego pra brisar na hora, e acho que isso foi essencial para a coesão do disco como um todo. 

Eu comecei a produzir na pandemia, mas na verdade minha relação com a música começou por volta de 2017/2018, quando era moleque ainda e comecei a ter muita vontade de tocar baixo. Fiz aula de baixo por um tempo, era o instrumento que eu mais brisava, tive até banda de cover — daí veio a pandemia, parei com as aulas e fiquei meio tocando sozinho. Aí um parceiro meu tava brisando em produção e me mandou um link do FL Studio crackeado. Eu baixei e comecei a brisar, tava ouvindo bastante hip-hop nessa época e tava começando a ouvir grime, os bagulhos que aconteciam aqui no Brasil com o Brime, Brasil Grime Show, etc.

Aí comecei a fazer uns beats sem saber nada, não fiz nenhuma aula e o que eu não sabia mexer no programa eu procurava no YouTube, mas foi 100% sozinho. A internet foi um meio essencial pra eu aprender e organizar todas essas referências que ouvia falar, passei a ter o costume de ir atrás de ver documentários e conteúdo no YouTube sobre as coisas.

Não tinha quase nenhum amigo que produzia também, foi meio de ouvido que eu fui fazendo. Eu criei um canal de type beat, comecei a postar uns beats lá, cheguei até a vender alguns, a ideia era da hora mas os timbres eram muito ruins. Aí eu fui moldando e quando eu comecei a produzir grime e experimentar mais para o eletrônico, foi quando eu comecei a me encontrar mais e acabou ficando mais fácil.

Você diria que o grime te puxou?

Mano, pra caralho. Porque eu sempre brisei nesse lance da energia do bate cabeça, principalmente no metal, que ia em show com minha mãe desde criança, misturado com outros ritmos de groove também que eu curto, que trazem essa parada corporal, de batucar, de ouvir e chapar no som. E esse lance de set de grime, com MC ou sem, me fez brisar muito. É muito eclético, muito groovado, e dá pra colocar qualquer coisa no grime que fica daora. Poucos gêneros são assim, né mano? Se você for um gênio você consegue misturar tudo, mas acho que no grime fica mais fácil.

Tem essa rítmica dele que é bem original assim, que lembra bastante funk, dembow, e como vem do dancehall, se você acelerar um dancehall acaba virando um grime. E acho que essa célula rítmica é o que caracteriza, mas você pode colocar o que você quiser em cima dela. É muito amplo, mesmo, e acho que é isso que fez principalmente o grime ter esse lance do refix, tá ligado? De pegar qualquer coisa e colocar nessa célula rítmica que vira um grime. 

Foto: Crizan Leone (@crizanleone)

O que é um refix?

Pelo que eu aprendi, estudei, e pelo que eu faço, sem ter a propriedade que os caras lá de trás tem [risos], é um lance que veio do dancehall, e era uma parada de pegar uma música famosa e transformar em dancehall, tinha de monte. Acho que quando foi pro grime, como era uma cultura muito semelhante, os caras acabaram levando. É o lance de você pegar uma track e só de ir picotando ela, mudar o gênero dela pra grime, tá ligado?

Vem da curiosidade de “como seria essa música no grime?”, daí o refix cai como uma luva. Tem o mesmo peso da música original, do cara que mixou originalmente, e usando a bateria desse jeito, você mantém a essência do bagulho mas muda a rítmica. Mas eu pirei muito que os caras faziam com esses gêneros que eu gosto pra caralho — r&b, dancehall, e aí eu comecei a ouvir e percebi que eles só picotavam a música, e comecei a fazer de ouvido. O primeiro refix que eu fiz foi a Conheço Um Cara, refix de Estilo Cachorro do Racionais.

Quem é produtor tá ligado, quem tem essa antena ligada o tempo todo de ficar prestando atenção em tudo. Eu que sou viciado em refix, quando ouço uma música, já visualizo como dá pra picotar ela, e quando eu sento e abro o Ableton, já sei como é e vou lá e já faço. A I Shot The Refix foi isso, ouvi I Shot The Sheriff do nada e brisei no baixo e já imaginei. Normalmente são os graves, mano, que me levam a querer fazer o refix. 

Sempre gostei muito de música instrumental e com refix não foi diferente. Botava refix pra ouvir no busão indo pra escola, Boss Mischief, Invader Spade, Meio Feel, de ficar ouvindo mesmo, antes de começar a produzir. Mas eu gosto de trazer referências de fora do grime também, tipo Neptunes, Pharrell, eu trago muito disso.

E de onde veio a ideia de fazer um álbum? O que te fez sentir que estava pronto?

Mano, eu acabei chamando de álbum porque eu achei que ficou muito bonito, tá ligado? Tem 13 tracks, eu tinha separado até mais, mas acabou não entrando, então 13 tracks, em vez de mixtape, EP, acabei chamando de álbum.

O lance foi que eu tinha muita música, muito beat que eu já tocava na pista, já tocava com MC e já batia, o pessoal gostava. Só que eu não sabia como ia lançar, aí conforme eu fui fazendo, — o Santa Sucata é meio que uma coletânea de 2022 até 2024 — eu vi que a sonoridade tava casando muito e que todas as tracks tinham uma brisa de sucata, aí eu acabei criando esse conceito aos poucos.

Capa de SANTA SUCATA vol.1 (foto: Crizan Leone)

Até as tracks que eu fiz no MIDI, que não é refix, tipo Abelha, Strabic Anthem, Sucatas Mínimas, que eu toquei os acordes, programei tudo, também têm a brisa da sucata, porque eu peguei os acordes de músicas que gostava muito e comecei a construir a partir deles. Essa dos acordes é uma forma de reciclagem, aí tem o refix, também tem simplesmente samplear do jeito convencional, de picotar sample. Eu vi que tava um monte de track lá, juntei e fiz um disco. 

Ajudou bastante no meu processo ter vindo pra Tatuí, as pessoas que eu conheci. Eu morei com o SUSTO!, e ele que tacou o Ableton na minha cara, e isso ajudou pra caralho a evoluir. Fiquei com uma cabeça mais profissional para produção, discotecagem, e acho que foi uma abertura de portas enormes. Ainda não terminei o curso (Produção Fonográfica), e fica a dica pra galera que quer fazer faculdade, brisa em produção, não precisa ser músico. É um perrengue, tem que mudar de cidade, mas vale a pena. E eu falo porque é um curso muito pouco conhecido, tá ligado? É gratuíto, do Estado, e tipo, é possível. Pra mim foi muito bom. 

O disco pode ser definido como um álbum de grime?

Sim, mano! É um álbum de grime porque a maioria das tracks são grime, tá ligado? Ocarina Crá Crá e Abelha são drill, System Of A Club é jersey club, de resto é tudo grime, o Sucatas Mínimas é meio que um pula pula, né. É tudo o mesmo BPM também, então é um álbum em 140 ali, mas pode-se dizer que é um álbum de grime com certeza.

E como foi a construção do conceito para além da sonoridade?

Sobre o nome do disco, eu queria botar alguma coisa relacionada a sucata, e perto da casa da minha mãe, lá em São Paulo, tem um pico chamado Santa Sucata. Eu passava lá na frente de bike, na ciclovia da Eliseu, do lado da Casa de Cultura do Butantã — é bom falar o nome pra galera passar lá e tirar foto, vai virar um ponto turístico [risos]! Um parceiro me deu a ideia de fazer um ensaio fotográfico lá, e eu fiquei pensando no nome, Santa Sucata, e decidi que ia botar esse nome no disco. 

Santa Sucata comércio de sucatas (foto: Crizan Leone)

Por que, mano, é uma sucata divina, e eu quis trabalhar pra ficar fino o projeto. Você como produtor quer saber o que o som quer passar, eu quis focar nesse lance mais finesse, assim, tá ligado? Uma sonoridade mais bonita, limpa. Lógico que tem track que é mais agressiva, mas eu quis trazer um bagulho mais mellow, mais focado nas harmonias e no flow da música, mas com muita batucada e bastante focado na rítmica também. Botei o “vol.1” porque vou querer fazer isso de novo — de demorar para ter essa coletânea de tracks — e quando tiver de novo, fazer de repente o “vol.2”. 

E eu fiquei com essa ideia na cabeça de fazer uma sessão de foto lá. Dei um salve no Arthur Crizan, parceiro que fotografa nossos rolês, e chamei ele para fotografar a capa do projeto. Falei do pico, e quando mostrei o som, ele deu a ideia de chamar uma amiga que trampa com ele, a Marcella Collorpaper, que faz uns trampos de colagem, e envolveu ela no projeto, com a ideia de fazer uma mistura de fotografia com colagem, bem analógico. Ele colocou ela na ligação na hora, e a gente começou a trocar ideia, o trampo dela casava muito com a ideia. 

Ela faz um trampo de colagem com revista, um monte de coisa, e eles trampam, os dois, na SPPARIS — um projeto que eles tocam o ateliê lá no Tendal da Lapa. Eles tem um lance de upcycling com moda, pegam coisa sucateada, do lixo, e colocam nas roupas. Tem bastante intervenção de pixo, e o trampo deles é tipo o meu álbum, só que no mundo da moda, então casou muito.

Ela deu a ideia de fazer uma colagem com um monte de sucata e lixo em cima do muro, que é meio baixo. Tem também umas refs pequenas ali do lado, uma máscara do DOOM ali que eu que fiz, levei uns cds da minha mãe também pra deixar ali no canto, e ela deu a ideia de jogar o QR Code, que querendo ou não é tipo um lixo também. Não teve quase nada feito digitalmente no Photoshop, só minha logo que ela adicionou ali do lado, e o “vol.1”, o resto foi tudo analógico e colagens à mão. 

Teve o lance do styling também. Colei lá no ateliê, ela montou minha calça, que tem um patch que o Little Aug fez, aí ela buscou uns cabos, uns patchs, uns fios de cobres — rolou uma puta curadoria de sucata mesmo. Ela trouxe o discman também, ficou como se eu tivesse ouvindo os cabos do lixo, ele tá meio que ligado na minha calça. Esse lance do styling foi essencial, não tinha como eu não estar com a camisa do Corinthians, né, tudo que eu faço tem que ter Corinthians junto [risos]!

E aí na contra capa, a gente foi no Parque Chácara do Jockey, que é pertinho do Santa Sucata, em um pico da caixa d’água, que tem um trampo foda dos meus amigos grafiteiros e pixadores ali da Z.O. Eu tirei as fotos ali do lado de uma arte dos meus parceiros Brunão e Fael, e aí eu deixei a arte deles do meu lado, pra compor, casou as cores e tal. E escrevemos com uma letra meio que de caderno assim, de rascunho, como se fosse um lance bem de retratar como é o processo mesmo, de andar por aí ouvindo música e escrevendo no bloco de notas as ideias, para depois chegar em casa e fazer. Retrata como eu sou mesmo, num geral. 

Contra capa de SANTA SUCATA vol.1

Eu fiz questão também de fazer os visualizers no YouTube, porque eu já fui muito de ouvir música lá. A gente pensou eles antes de fazer a capa, e isso foi mais o Crizan que fez, que foi o lance de pegar todas aqueles rasgos e aquelas impressões que a Marcella usou na colagem e fazer o stop-motion, também 100% manual, bagunçando as paradas, e acho que ficou muito legal, retratou muito bem. Inclusive, ouçam no YouTube também [risos]!

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Como você enxerga a importância das faixas instrumentais dentro do universo do grime? Em um primeiro contato as pessoas podem achar que são só as bases pros MCs, mas quando você entende mais a fundo percebe que o instrumental tem seu valor independentemente, né?

Sim, mano, no hip-hop num geral — na música num geral — quando o instrumental bate foda, às vezes a pessoa nem precisa fazer uma letra tão elaborada assim pro bagulho bater nas caixas. Mas falando especificamente do grime, é uma cultura gigante de instrumental, desde a época dos vinis, das rádios piratas e até depois, com a internet, Bandcamp. 

Acho que no grime é um lance muito único dos instrumentais. A galera dá uma atenção, quem gosta de grime mesmo, gosta de ouvir set instrumental, de brisar no instrumental. Gosta de comprar, tem o lance de dubplate, de ouvir uma música foda que nunca vai lançar, e achar isso daora, ou ir atrás e comprar por mais caro, esse lance todo é muito foda. E é o que dita o ritmo para o que mais me fez me apaixonar pelo grime, que é o set com MCs. A parada do DJ lançar os instrumentais que ele tem lá na hora, e os MCs brisarem em cima, e em cada set é uma música nova, tá ligado? 

CR1AGRIME (foto: Crizan Leone)

Cada set é um bagulho completamente novo, como se fosse um jogo de futebol. Os caras brigando para dar rewind e o DJ jogando os bagulhos mais apelões, às vezes até judiando dos MCs, e quem não conseguir vai passar vergonha [risos]. Eu acho que os instrumentais tem um ponto muito forte, e para mim que sempre brisei muito em prestar atenção em instrumental foi um casamento perfeito com o grime.

E sobre essa relação dos instrumentais com os MCs: vai rolar uma versão deluxe com voz?

Tá em produção [risos]! Tá em produção, vai demorar, mas já tem umas 3/4 faixas prontas já. 

Estou nesse processo do Deluxe, tá sendo uma curadoria dessa relação com os MCs, porque isso me ajudou pra caralho a construir, tanto como DJ, tanto como artista num geral. Quando chega uma voz ali na hora eu já penso o que pode combinar, tá ligado?

Tem o set que eu lancei no Soundcloud e no YouTube, do dia da audição do EP do Rua 06 no CR1A, que eu fico ouvindo e indo nos minutos certinhos que teve esse casamento entre a vibe do MC e do instrumental. Tipo quando o instrumental é mais meloso e a pessoa veio com um bagulho mais reflexivo, gosto muito disso. E quero trazer isso pro álbum, tentar fazer esse lance de ser tipo uma experiência de set assim.

Então vem desse lugar do set mesmo, inicialmente?

Com certeza, tipo, eu quero captar essa energia. Mas é difícil né, mano, porque você tá com o cara no estúdio, depois tem a mix, aí o cara quer colocar delay no adlib, reverb, e fica uma estética de som, mesmo, eu acho que vai acabar ficando com essa estética mais de fonograma.

Mas o que me fez fazer esse casamento do beat com os artistas foi essa energia de set. Gosto muito de fazer set com MC, conheci muita gente foda nessa vivência do CR1AGRIME, do Terra à Vista, tá ligado? E já podem esperar aí que vai ter uns nomes fodas no Deluxe! 

E deve ser muito foda ver gente rimando em cima das suas produções, né?

Sim mano! E ainda mais gente que eu acabei conhecendo e ficando próximo, acaba trazendo um peso maior do que só juntar uma coisa ou outra. Ter essa conexão assim, e esse afeto aos artistas. E acho que vai ser meio que uma festa assim, uma comemoração de geral. Cada música vai ter seu tema, vai ter sua parada — mas o intuito geral é meio que isso, fazer essa união dos artistas e vir música boa. Eu bato muito nessa tecla de que é um lance de um apertar a mão do outro e vamo se ajudar, tá ligado?

Aguardem o deluxe que tamo fazendo aí. Tem esse lance de como os MCs ajudaram na minha história, é meio que essa troca também, de eu deixar eles contarem a história deles também em cima dos instrumentais. 

Eu não rimo, mas gosto de apreciar, trazer isso vai ser do caralho, mas dá trabalho [risos]! Um salve pro WALTEREGOS e pro JPEGO que estão disponibilizando o estúdio, e não posso esquecer do Matesu, que fez a mix e a master do disco, moleque monstro.

As faixas são todas remixes. Como ficou pra subir elas nas plataformas? Acho que hoje só no YouTube ele tá completo. 

Assunto polêmico [risos]! A real é que eu não tava nem aí quando eu fui fazendo, porque sou muito a favor do estilo livre. Como diria o mestre Speedfreaks: “se o estilo não é livre, você vegeta, não vive”, tá ligado? 

Porque mano, se você vai fazer música e vai ficar se limitando a essas paradas, não dá certo. E eu quis fazer do jeito que eu fiz mesmo. Mas eu acho triste, imaginava que ia acontecer, tá ligado? Quando eu lancei nas plataformas, a distribuidora que eu usava na época, Distrokid, eles tinham esse lance de ser a distribuidora mais rápida, e realmente, acabaram lançando, brecou só umas 3 faixas. Mas é chato porque precisa ficar indo atrás, às vezes é um lance de Sony, Universal, bagulho da gringa — você manda email e os caras nem respondem. E tipo, antes de fazer isso eu já pensei que se fosse ficar nessa, não ia rolar.

A música é música independente se ela tá no Spotify ou não, tá ligado? Queria que tudo tivesse lá? Queria! Estava? Estava. Vai voltar? Vai voltar, mas não todas. A que mais me deu problema foi a Eles Mudam, saiu de tudo, menos do YouTube, lá acabou ficando, mas saiu até do Bandcamp, a gravadora do Thundercat foi atrás e deram strike, mas só. E a do Sono, que eu tive que tirar a dedo, porque ele pediu, foi um lance muito louco essa (Outro).

Porque assim, álbum de grime, instrumental, refix, que porra é essa? Eu soltei no Tiktok do nada, e o bagulho explodiu! Fui ver a noite, mais de 99 notificações, bagulho tava bombando, tinha virado trend! A galera começou a fazer fit check, vídeo andando de skate, montando look, e aí teve esse boom, e achei muito foda! Daí comecei a pensar que ia chegar no Sono, e eu não tinha dado um salve nele, só lancei. Podia ter dado, mas acabei não dando [risos]. Aí depois de mó cota, acabou chegando nele, e ele não curtiu, me deu um salve e eu tirei ali do Spotify. Ele não quis banir do YouTube, do Soundcloud, deixou eu vender no Bandcamp, mas falou pra tirar das plataformas. Foi um aprendizado foda, foi muito louco chegar no SonoTWS.

Acho que isso mostra como é difícil fazer o que você faz, muita gente não entende ainda também, mesmo dentro do underground.

É! E é muito foda, porque podia ter quebrado uma barreira muito foda do underground. Porque tem esse lance de que é coisa de louco, rolê insalubre — e a gente gosta de rua, de sujeira, mas se pudesse ter um patrocínio da Heineken no rolê, uma página foda ali de rap falando sobre, explicando sobre, ia ser daora, porque é um bagulho novo no Brasil, querendo ou não, de ter uma cena. Mas não tem, tá ligado? 

E as vezes é por conta disso, de artistas grandes não abraçarem. Mas podia ter sido um bagulho muito foda, o Sono abraçar o refix, e ganhar também a nossa fanbase, porque não é muito diferente, muita gente que ouve pumapjl e Febre90s também consome grime e deu um salve que curtiu. 

E como foi o reconhecimento do trampo? Suas músicas tocaram em vários lugares…

Mano, isso foi muito louco, tipo assim, lance de eu ter chorado. No dia que o Antônio tocou lá na BBC, a gente comemorou lá em casa: “Mãe! Tou na BBC!”, foi muito foda. O Sir Spyro ouviu o bagulho, o Antônio brisou muito e botou pra fuder o I Shot The Refix lá fora. O que eu mais fiquei de cara foi o Elf Kid, porque na época que eu comecei a ouvir grime, eu ouvia muito Golden Boy, a música lá que tem o sample da Amerie, e ele cantou essa letra em cima de I Shot The Refix, eu achei muito foda. 

Foi uma emoção muito louca, muito louca mesmo. Só faz eu perceber o quão daora foi tudo. O cara da Nospeakworld, a página de grime lá, comprou e deu um salve. O Kush Jones tocou a I Shot lá na The Lot Radio em NY, foi doidera também. Teve a galera do Brasil, a Apropri4damente abraçou pra caralho, tocou no programa dela na Rinse France, e com os MCs eu acho muito louco, quando outros DJs vão tocar com MC.

Mas é, acho que o reconhecimento na gringa, em um tempo tão curto, foi muito louco. E o daora também o reconhecimento de uma galera que não sabe muito de grime, conhecidos meus, que gostaram também.

Talvez se o bagulho fosse tão raiz assim, eletrônico, puxado pro dubstep, talvez a galera não falasse o que falou. O bagulho é gostoso de ouvir, é bonito, porque eu briso muito nisso, e acho que isso ajudou.


Escute SANTA SUCATA vol.1, disponível no YouTube, Soundcloud e Bandcamp, e conheça mais sobre o trabalho de Sucateiro em suas redes sociais.


ISMO
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