A música elétrica de Chediak

O disco mais íntimo da carreira do produtor chegou carregado de novidades e significados

A música elétrica de Chediak
(Acervo Pessoal / Chediak)

Pedro Chediak é um dos nomes de maior destaque no cenário de música eletrônica underground. Membro da Leigo Records e criador da SPEEDTEST RAVE e do selo Discos Flutuantes, o produtor é envolvido em grande parte dos projetos que acontecem na cena nacional.

Ele lançou, no último dia 15, o seu álbum Música Elétrica, que leva no nome o termo cunhado por ele mesmo como tentativa de definir o seu estilo musical. Batidas que reinterpretam ritmos como o jungle, drum and bass, footwork e dubstep se misturam com uma voz sensível, ritmos brasileiros e muita tecnologia.

Chediak já havia usado a voz em algumas de suas produções, mas agora ela aparece como elemento essencial na construção do disco, ampliando e construindo por completo o que ele vêm apresentando nos últimos anos como "música elétrica."

Trocamos uma ideia sobre o processo de produção, o conceito por trás do disco e as particularidades da sua identidade sonora no papo que segue.


Você já explicou algumas vezes o conceito de “música elétrica” durante a sua trajetória. A definição muda de alguma forma com o lançamento de Música Elétrica?

Cara, eu acho que ela não muda, mas agora, com o lançamento do álbum, eu consigo finalmente explicar direito o que é essa parada. Começou com um meme, anos atrás — tem aquela foto que é o cara com a tatuagem “música eletrônica” — e eu sempre tive muita dificuldade de encaixar o estilo de som que eu toco nos meus sets numa caixinha só. Acho que atualmente é o grande pulo para qualquer artista ser reconhecido, ficar numa caixinha só. Por conta das redes sociais, o mercado pede para que você seja um artista de tal coisa, e eu nunca me senti assim. 

Desde antes de estar explorando a sonoridade que eu exploro hoje, eu nunca senti que eu me encaixava num lugar só, justamente porque eu tenho todas essas referências que acabam transbordando na hora de produzir. E aí eu comecei a brincar que eu não sou artista de música eletrônica — eu sou artista de música elétrica. Justamente porque eu estava de saco cheio de me perguntarem o que eu toco e eu ficava três horas falando vários gêneros.

Só que tem um lance de personalidade que eu não conseguia explicar antes, e ficava até meio confuso para a galera, porque o disco é quase todo cantado. Eu estou colocando a minha voz, e por mais que eu já tenha usado ela no passado, agora é uma parada muito principal no disco. E eu acho que da mesma forma que eu usei esse termo como um guarda-chuva para  todos os meus gostos musicais instrumentais, eu acho que agora eu estou colocando a minha personalidade dentro desse mesmo guarda-chuva.

Foto: @mayagmrs

A música é elétrica porque eu gosto de todas essas referências, mas também porque a minha personalidade é um pouco elétrica. Eu vejo a eletricidade como uma parada que viabiliza coisas a existirem e funcionarem no mundo real. Se não fosse a eletricidade, não teriam os instrumentos que eu uso para fazer música, e eu acho que isso se liga muito com a forma que eu vejo criação e que eu escolho me expor, através da música e de outras coisas que eu faço ligadas à arte.

Então sempre foi essa parada, da “música elétrica” ser todos esses gêneros e subgêneros misturados com a minha personalidade — e isso vem através da mistura dos beats com as letras — e acaba se tornando essa brincadeira de ser um novo gênero, que na real é só a minha interpretação da música eletrônica. 

Acho que tem um choque maior quando você está falando na música também. Tem músicas no disco em que eu falo sobre meus pais, sobre relações com outras pessoas, e alguém que me segue há muitos anos pode ouvir isso pela primeira vez e ficar chocado que eu penso, que eu escrevo essas coisas. 

E de onde veio essa vontade de usar a voz no disco?

Esse projeto está sendo feito desde 2018, mas não é que eu sentei um dia e decidi fazer o álbum Música Elétrica.

Capa de Música Elétrica (por @vncsmontr)

Eu acho que todo artista tem uma caixinha de músicas — imagina uma caixa mesmo, com várias divisórias — e a gente vai colocando ali, dentro de cada divisória, tipos específicos de arte que a gente vai criando. Desde que eu comecei a produzir, eu sempre tive uma caixinha de “músicas que eu não posso mostrar para ninguém porque eu acho que estou me expondo demais” — e hoje eu não acho que é isso mais.

Hoje, com o disco no mundo, é um sentimento muito doido, porque eu acho que me expus até pouco — escrevendo de agora para frente, eu quero me expor mais, explorar mais isso. Quase todas as músicas do disco eram músicas que eu não tinha coragem de mostrar para as pessoas, por vários motivos — por achar que eu estava me expondo demais, que a minha voz poderia causar estranheza para alguém. 

Eu comecei com um lance extremamente técnico, instrumental, eletrônico, ligado à síntese, sound design, e a voz é uma parada que você pode — como eu faço — colocar um bilhão de efeitos, mas ainda vai ter a imperfeição, ainda é uma voz, então eu sempre tive um medo de soltar essas músicas.

Foram passando os anos, eu fui lançando os meus EPs, a gente lançou o primeiro álbum da SPEEDTEST, com vários artistas, e eu comecei a organizar duas caixinhas, que seriam dois álbuns: o Música Elétrica — a ideia inicial era ser uma coletânea dos meus melhores beats, ia ser um álbum para DJs, mas acabou sendo o oposto — e um outro que chamava Aprendendo a Respirar, que eram essas músicas em que eu escrevo mais sobre a minha vida, falo, canto e tudo mais.

Chediak no Coala Festival (Acervo Pessoal / Chediak)

Eu comecei a ver que as coisas se entrelaçavam, e que às vezes um beat que estava no “Música Elétrica para DJs” era perfeito para eu cantar uma parada que eu tinha escrito para o Aprendendo a Respirar, e eu comecei a tirar uma pira nesse contraste — de às vezes ter um beat muito pesado, com muita textura, muita camada, e eu cantando sobre não ter coragem de falar com a minha mãe sobre um assunto do dia a dia e preferir fumar maconha.

O jeito que eu escrevo não tem muitas camadas, acho que é muito fluxo de pensamento — a maioria das músicas foram meio freestyle, eu botava para gravar e depois escrevia — então eu não estava com essa parada de contar uma grande história, só que eu comecei a ver que as ideias se conversaram e tudo meio que virou uma caixinha só, que eu achei legal chamar de Música Elétrica. Já que eu estava categorizando meu som instrumentalmente como “música elétrica”, eu achei que a minha voz também tinha que entrar como instrumento.

Contracapa de Música Elétrica (por @vncsmontr)

E mostrou um lado mais pessoal seu, que é legal porque surge no meio de tantos projetos colaborativos da SPEEDTEST, que tem esse senso de comunidade muito forte.

Eu sempre gostei muito de colaboração, de comunidade — pô, eu fui criado em fórum de internet e MMORPG, eu não jogava bola, eu entrava no WebCheats e ficava baixando hack de Grand Chase, a minha infância foi isso. E eu fico muito feliz de não ter caído num lugar errado da internet, de não ter tido a minha mente frita pelos ideais malucos que tem na internet, eu só virei um nerd de música, mesmo.

Eu nunca fui uma pessoa muito social — nos meus anos de adolescência, infância, eu tive poucos amigos, então eu sempre recorri muito a internet, o que me fez ter um canal no YouTube muito cedo, e querer comunidades online. Quando eu comecei de fato a sair para tocar, eu percebi que a comunidade que existe ao redor da música eletrônica, no Brasil, pelo menos, é muito diferente das comunidades que eu estava acostumado nesses espaços online, porque tem a galera que está ali pelo amor ao som, pela experiência auditiva e sensorial, mas tem muita gente que está ali pelo prazer da vida noturna, também. 

A partir da SPEEDTEST eu comecei a trazer esse lance da colaboração, da comunidade, mais para perto do meu trabalho com a música — porque antes eu explorava isso mais no YouTube, em outros lugares da internet. É a minha tentativa de criar uma comunidade real, porque a galera que está nos álbuns colaborativos, por exemplo, são pessoas que eu vejo nas festas que a gente faz. Em breve a gente vai fazer a primeira SPEEDTEST em Belém do Pará, e tem uma galera que eu conheço de lá que eu fiz música junto — é como se eu estivesse conhecendo alguém jogando um jogo online, ou no Twitter, só que a conexão acaba tendo uma profundidade maior porque tem essa parada em comum do amor pela música.

(Acervo Pessoal / Chediak)

Desde aquele projeto do volt mix, eu comecei a realmente focar em fazer mais coisas [colaborativas] — eu estava planejando vários lançamentos solo de outros artistas através dos selos que eu participo, mas girou uma chavinha na minha cabeça, e para ser sincero, eu acho que é porque eu me sinto menos sozinho fazendo as coisas assim. 

Porque cara, a gente está no Brasil, então já não vai dar tanto dinheiro, já não vai mudar a vida da galera do dia para noite, é uma parada que a gente faz porque a gente quer ter essa comunidade, quer fazer parte de algo. Da mesma forma que a galera que manda as músicas para gente lançar está fazendo isso porque não quer se sentir sozinho, não quer ficar com aquelas músicas guardadas, para mim é a mesma parada. Eu passo muito tempo em casa na frente do PC, e hoje eu tenho muitos amigos, moro com a minha namorada que é uma pessoa que me apoia muito na minha carreira, tenho família próxima, mas a galera que mais me impulsiona a continuar fazendo música é esse pessoal que colabora comigo de várias formas. É um lance de uma família compartilhada que a gente tem, por gostar muito de música.

Você falou muito da sua relação com a internet, e eu queria saber o que você acha desse momento atual, desse lance das IAs — alguns dos seus projetos recentemente caíram dos streamings por alegação de uso de IA, como você enxerga isso?

Cara, eu não sei na real até agora o que foi. O meu álbum, Música Elétrica, não saiu no Apple Music, eu achei estranho e fui perguntar o porquê, eu tinha visto que o de ambient [Música Ambiente Do Brasil] também não tinha saído, e a resposta que a distribuidora me passou da Apple Music foi que os releases foram identificados como feitos por IA, mas eles também não especificaram que música, que trecho que foi. 

É muito esquisito, mano, porque está tudo mudando muito rápido e eu sinto que ninguém tem um jeito certo de lidar, sabe? Esse exemplo mesmo, foi uma parada específica do Apple Music e a gente não sabe qual é o critério deles para identificar o que seria feito por IA. Está rolando toda essa discussão agora se a arte pode ou não ser feita com Inteligência Artificial — eu acredito que, independente do que as pessoas vão chegar em acordo em algum momento, a arte já está sendo feita usando IA, e aí tem as maneiras boas e ruins de se fazer isso.

O disco Música Ambiente Do Brasil conta com 61 faixas de artistas do país inteiro.

Têm ótimas ferramentas de IA que ajudam a gente a ser mais criativo, eu uso muito algoritmos de separação de voz — de pegar uma música que eu quero samplear, em que eu gostei muito só de uma guitarra que tem lá no fundo, e hoje em dia você consegue pegar só essa guitarra e samplear, antes não dava. Tem esse lado que é muito foda, e tem o lado que eu acho que assusta todo mundo, que tem gente ficando rica criando música em três segundos com site que gera música, e subindo no Spotify, que também lucra com isso.

Eu não achei errado o lance do Apple Music barrar, de não querer música feita com IA, porque mostra para mim uma valorização do humano, mas no caso, eles provavelmente devem estar usando algum tipo de IA para detectar isso, porque qualquer pessoa que ouvisse por trinta segundos entenderia que aquilo não foi feito por um robô. A gente está nessa zona cinza agora — ninguém sabe o que fazer, e cada empresa, cada marca, cada selo, tem a sua forma de tentar explorar isso. Dá um medo, para ser sincero. 

Eu tento aproveitar a parte boa e também não me tornar um artista preguiçoso por causa da IA, porque cada vez mais a gente vai se rendendo ao ChatGPT e essas coisas — eu não sou a pessoa que rejeita a tecnologia, porque várias dessas coisas ajudam a gente, mas eu não quero que a IA tire a humanidade da minha arte, tire o acesso que a gente está criando, por exemplo, com essa comunidade de poder lançar a própria arte no mundo. Eu achei muito tosco o fato da gente ter conseguido juntar muita gente para fazer um negócio muito foda e ser barrado do Apple Music, e a justificativa deles ser: “vocês não são seres humanos, isso não foi feito por gente.”

E foi, porque eu tenho o nome, o endereço de todo mundo que está no disco. Tiveram músicas que as pessoas me mandaram que foram feitas com IA, e é uma coisa que dá para você ouvir — pelo menos atualmente, ainda tem uma característica sonora, eu consigo identificar uma música feita por IA — e de tudo que a gente lança, nos dois selos que eu tenho, a SPEEDTEST e a Discos Flutuantes, a gente não gera nada usando IA. A gente está criando músicas usando a tecnologia, sabe? Mas me assusta.

E não tem como não sentir a humanidade presente nas músicas, mesmo sendo digitais — a música eletrônica pode ser muito plástica às vezes, que é o contrário do que acontece nesses casos que a gente está falando.

Eu me esforço muito para sempre fazer a música que eu mais quero ouvir, não sei se faz sentido. Acho que tem vários approaches diferentes para produzir música eletrônica — tem gente que só quer ser um grande DJ, muito famoso, e existem caminhos para isso. Se você entrar no TOP 100 global de música eletrônica você vai entender que existe um caminho, e eu não sou contra isso. 

Palco da SPEEDTEST no Coala Festival 2023 (foto: @pedefeijoao)

Eu acho que é um jogo diferente do que eu estou jogando, eu comecei a fazer música eletrônica porque eu tive experiências muito cedo — com 15, 16 anos eu tive a sorte de ver o Skrillex no Lollapalooza, poder assistir um show do Disclosure, e aquilo explodiu a minha cabeça. Eu tento replicar para a galera que me acompanha o sentimento que eu tive vendo essas coisas moleque, sabe?

E às vezes isso vai vir com essa quebra do padrão, vai ser mais fácil para mim fazer uma música mais viajada do que fazer um house que poderia ser um hit, uma parada muito comercial, genérica — e é foda, porque às vezes eu me pego curtindo muito uma música muito genérica, por isso que eu falo que não acho errado.

As minhas playlists que eu ouço no dia a dia são uma bagunça, eu também acho muito legal a parada que é feita para tocar no provador da Renner, sabe? Mas quando eu sento para fazer, eu não consigo chegar no final, tem que ter um elemento empolgante ali para mim. É o caminho que eu estou fazendo, mas acho que é um pouco mais forte do que eu, não é uma coisa tão racional, se não for divertido eu não consigo fazer.

O disco saiu agora num momento com muitas coisas acontecendo, você acabou de voltar de uma eurotour, em que passou por várias rádios e shows — como que é voltar desse processo e lançar esse disco tão importante para você?

Cara, foi doido, porque eu nunca tinha saído do Brasil até dezembro do ano passado. Aí eu fui para o Japão, não para fazer uma turnê — eu fui presenteado com a viagem, foi uma parada muito foda — mas eu consegui fazer alguns shows, e consegui mostrar algumas demos do álbum para pessoas relacionadas à música que eu conheci lá, inclusive artistas que eu escutava do SoundCloud, uma galera que foi muito foda de eu conhecer. Foi muito doido estar do outro lado do mundo e conhecer uma galera que eu ouvia aqui em Minas Gerais.

Mas eu não tinha ido para fazer uma tour, foi outro tipo de viagem, então eu aproveitei pouco em relação à música. E a Europa foi totalmente diferente — foram dois meses, vários países, e a gente estava ali todo santo dia focado. Era eu, o Crosstalk e o ANTCONSTANTINO, focados só no lance da música, então se a gente não tinha um show no dia, a gente estava indo para um estúdio com alguém, para alguma rádio, conhecer alguém importante. Foi muito doido, porque em todos os países que a gente passou, a gente fez sessões de estúdio com quem tinha interesse em trabalhar com a gente, e eu acho que em todas elas eu tive um momento de parar e dar play em alguma música do álbum.

Chediak e ANTCONSTANTINO na Europa (Acervo Pessoal / Chediak)

Geralmente as com vocal, porque a galera não entende português, então eu pegava tipo “VOLTA” e botava para o cara ouvir, porque ele pensava que ia ser uma bossa nova e entrava um drum and bass. Eu comecei a ver a reação da galera no estúdio e eles ficavam muito impressionados, mesmo. Me deixou muito surpreso, porque como eu falei no começo, eram as músicas que eu mais tinha medo de mostrar, então eu me senti mais à vontade mostrando para a galera que está lá em outra cultura, imersa em outra parada.

Porque o jungle, o drum and bass, o UK garage, o dubstep, são muito mais comuns para galera que está na Europa do que para quem está aqui. Mas o lance de você cantar com voz e violão, uma bossa nova, é nosso, e essa parte do trampo me deixa nervoso se eu for mostrar para um outro artista brasileiro que eu admiro. Mas lá fora, o cara entende em três segundos um drum and bass, e demora anos para entender uma bossa nova, um baile funk.

Então eu mostrava, e essa mistura é o que deixava a galera muito de cara. Essa era a peça que faltava para eu chegar no Brasil e terminar o disco. Eu não planejei voltar da eurotour e lançar o álbum, na real eu voltei da tour e falei: “tá, cadê os projetos do álbum, preciso encontrar esses arquivos”, e foi um mês só para recuperar um monte de samples que eu tinha perdido, estava tudo meio largado no meu PC. 

Faltava essa confiança, e acho que a tour me deu muita confiança num geral. Todas as situações, boas e ruins — o fato de ser brasileiro e estar lá fora como artista é uma parada muito doida, porque quando eu estava num evento, numa balada, num show, eu era tratado como artista, mas quando eu estava em outro lugares, eu era tratado só como um brasileiro. Foi muito doido entender a relação que a Europa tem com os imigrantes, cada país é bem diferente, mas como um todo existe um preconceito, ao mesmo tempo que uma valorização muito grande da cultura de quem é imigrante, tem os dois lados muito fortes. 

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ANTCONSTANTINO B2B Chediak B2B Crosstalk LIVE @ The Distillery - 28.03.25 - Singularity x Speedtest (YouTube / Killahertz)

E acho que passar por tudo isso requer um pouco de força, que eu não sabia que eu tinha, então foi meio que no modo “fodasse”. A gente foi, e eu sinto que eu saí mais forte dessa experiência. Foi muito foda todas as datas da tour — a gente deu uma sorte de que a galera abraçou a ideia da SPEEDTEST, então os eventos lotaram, a galera gostou dos sets, eu consegui conversar com uma galera muito importante da nossa cena de igual para igual. Não era tipo: “sou muito seu fã”, era mútuo.

Eu voltei para o Brasil e tive esse estalo, de que por mais que fosse desconfortável, eu precisava lançar esse disco, agora, é o que eu precisava colocar no mundo. E foi isso, eu juntei o Vinicius, que é o meu designer, e falei: “cara, eu quero fazer isso de um jeito que não seja forçado, não quero colocar a minha cara na capa, não quero que seja ‘ah, agora ele vai cantar e vai ser um artista de outra bolha’” — eu quero ser um mano da música eletrônica mas que estou fazendo coisas diferentes.

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Trailer de divulgação (por @vncsmontr)

E agora o disco vai também sair em vinil pela Amplifika, como é a sensação?

Eu nunca lancei nada em vinil, a única mídia física de música minha que teve foi o CD da SPEEDTEST que a gente fez para promover o evento que teve em São Paulo, que eram uma músicas exclusivas, mas não tinha um projeto do Chediak em mídia física, sabe? E aí o pessoal da Amplifika, que é uma distribuidora, produtora de discos lá de BH me convidou — eles fizeram um projeto com o VHOOR recentemente, do Resenha, eu tenho esse disco, acho o encarte, tudo, muito foda.

E aí o Tulio, que é uma das pessoas que cuida da Amplifika, veio com um convite para lançar um outro projeto meu para fazer um compacto, mas não rolou o lançamento. Nesse período a gente se conheceu, ele entendeu a SPEEDTEST, e eu mostrei o álbum para ele — a ideia ainda era que fosse um álbum para DJs. Quando eu terminei a versão que saiu (o Música Elétrica “final”), ele já não é um álbum que é tanto para DJs. Tem músicas que eu sei que a galera vai tocar, mas é um álbum mais de ouvir, ouvir dançando, mas ouvir mesmo.

E quando rolou essa mudança na tracklist, eu tive que apresentar para a galera da Amplifika e eu fiquei com muito medo, achava que não ia rolar mais o vinil, que eles não iam curtir. E na real foi o oposto, eles falaram: “cara, é isso! Porque isso aqui é diferente, eu acho que isso vai falar com a galera que gosta de você ou que pode te conhecer por esse disco.” Acho que o lance das letras torna essas músicas um pouco mais atemporais, porque quando você está falando cria uma conexão maior, você consegue relacionar o que você está ouvindo, com outra pessoa cantando, com o que você está passando na sua vida individualmente.

O projeto materializado em mídia física

Acho que isso virar um vinil é uma forma dessa memória ir mais longe ainda. É uma emoção muito grande para mim — eu coleciono vinil, muito nessa ideia de ter objetos que simbolizam as músicas que eu amo. É muito caro para fazer disco, principalmente no Brasil — eu achava que não ia rolar — mas a gente conseguiu fazer 100 unidades, que para mim já é absurdo, eu achava que seria bem menos, e já vendeu quase tudo. Então se isso der certo e a gente conseguir fazer uma outra prensagem — a minha ideia é que a galera compre essa porque eu não tenho certeza — eu posso lançar com outra capa, posso botar outra música bônus, ir alimentando o universo dessa parada de um jeito que não é: “e aí galera, ouçam Música Elétrica Deluxe no Spotify”, sabe?

É um objeto que só quem comprou aquilo e tem em casa sabe a experiência que é ter aquilo, é tipo um livro, né? O vinil é o livro da música, é uma parada que você segura e consegue viver essa experiência. A gente conseguiu colocar o encarte duplo e ele vem com um pôster, de uma arte alternativa que poderia ter sido a capa do disco, e uma página com todas as letras das músicas, com os BPMs, os nomes de quem escreveu — porque tem outras pessoas que colaboraram e que não estão no nome das faixas, porque geral que trabalhou nele concordou que esse era um momento muito meu, então não quiseram botar o nome nas faixas.

Mas o Crosstalk participou, o Adieu, o Maffalda, Enzo Dicarlo, teve o NMS que foi engenheiro de master, então está todo mundo creditado no vinil, e é um objeto que você pode pegar com a mão, acho isso muito incrível.

Chediak - Música Elétrica
"O que o underground faz, principalmente no Brasil — talvez por todo mundo ser mais pobre e precisar lutar muito mais para a coisa ir para o mundo — é porque a gente quer muito ser visto, quer muito ser ouvido, para não se sentir sozinho" — Pedro Chediak

Ouça Música Elétrica, disponível nas plataformas de streaming, e para compra em vinil. Acompanhe o trabalho de Chediak, da SPEEDTEST e da Discos Flutuantes.


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