A Estética Psicodélica de Mati Klarwein
Entre rituais, delírios e espiritualidade: cinco capas que redefiniram a estética da contracultura

Existem artistas cuja obra não apenas acompanha o espírito do tempo, ela o molda, o distorce, o amplia. Mati Klarwein foi um desses visionários. Entre pinceladas lisérgicas, ícones religiosos subvertidos e paisagens impossíveis, ele criou um universo paralelo onde o som encontrava seu reflexo mais alucinado. Nos anos 1970, enquanto a música negra atravessava as fronteiras do jazz, do funk, da espiritualidade e da revolta, Klarwein ofereceu um vocabulário visual tão ousado quanto as músicas que sua arte embalava.
Mais do que artista, Mati Klarwein foi um arquiteto de portais sensoriais. Suas capas não serviam apenas para proteger discos. Nelas, deuses dançavam entre satélites, corpos nus coexistiam com símbolos sagrados e desertos metafísicos abrigavam revoluções silenciosas. Cada composição era um manifesto onírico onde espiritualidade, erotismo, política e transcendência vibravam junto com a música.

"Bitches Brew" Miles Davis (1970)
A capa deste clássico do jazz elétrico representa o início da colaboração de Klarwein com Miles Davis e é talvez seu trabalho mais emblemático. Em “Bitches Brew”, o artista sintetiza os extremos do disco: o caos e a expansão, o místico e o erótico. Rostos africanos, elementos cósmicos e mares tempestuosos se entrelaçam num painel surrealista que anuncia, visualmente, o mergulho radical de Davis no desconhecido.

"Abraxas" Santana (1970)
Inspirado na espiritualidade gnóstica e no sincretismo latino, Klarwein transforma o álbum de Santana em um relicário de sensualidade e fé. A imagem da deusa negra montada em um tambor flutuante e rodeada por seres oníricos condensa a fusão de ritmos afro-caribenhos com o rock psicodélico. É uma das capas mais reconhecíveis da história da música.

"Last Days and Time" Earth, Wind & Fire (1972)
Nesta capa, Klarwein conecta ancestralidade e futuro. Em um cenário apocalíptico e futurista, vemos os membros da banda caminhando para uma nova era, uma alegoria visual para o som que une funk, soul, jazz e espiritualidade cósmica. É o afrofuturismo ilustrado em sua forma mais vibrante e profética.

"Heads" Osibisa (1972)
Celebrando a fusão sonora da banda afro-britânica Osibisa, Klarwein pinta os rostos dos integrantes integrados ao de um elefante, uma das grandes figuras míticas africanas. A capa é uma verdadeira viagem cósmica que amplifica a proposta sonora multicultural do grupo — afrobeat, jazz e rock sob um mesmo manto estético.

Jimi Hendrix (1970/não lançado)
Mesmo sem ter tido um lançamento oficial (Jimi morreu durante as gravações), a arte criada por Klarwein para um projeto de Hendrix com Gil Evans é impactante. Um retrato de Jimi como entidade cósmica, olhos flamejantes e natureza mística, resume tudo o que o guitarrista representava: um xamã psicodélico do rock.
Ao olhar para a obra de Mati Klarwein, entendemos que sua pintura não era só psicodélica, era ritualística. Ela não apenas acompanhava discos revolucionários: ela os convocava, os amplificava, os eternizava. Suas capas se tornaram não apenas ícones visuais, mas extensões sensoriais da música. Ao misturar referências místicas, políticas e afro-diaspóricas com uma técnica precisa e delirante, Klarwein ajudou a redefinir o papel da arte gráfica na cultura musical do século XX.

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