A BAGUM em Coração; Batalha; Celebração

Gabriel Burgos e Pedro Tourinho falam sobre o processo do disco e as sensações por trás dele

A BAGUM em Coração; Batalha; Celebração
Bagum (foto: David Auster)

Coração; Batalha; Celebração é o primeiro disco da Bagum — banda instrumental alternativa de Salvador, formada por Pedro Leonelli, Gabriel Burgos, Pedro Tourinho e Pedro Oliveira — lançado em 29 de agosto de 2025, quase um mês atrás.

Depois de quase dez anos de existência, a banda traz para o estúdio uma espécie de tradução do que foi e segue sendo construído nos palcos. Com os shows instrumentais, em que a voz só aparece para dar o "boa noite", as sensações criadas e a narrativa contada se fazem muito importantes.

"Esse lance da gente sempre pensar em sensações — por ser uma banda instrumental, está muito presente no nosso show. Eu acho que todo artista de certa forma pensa isso, mas justamente por não ter o lance da palavra — da canção, da poesia, enfim, como quiser chamar — esse lance da sensação chega muito forte para a gente nessa questão sensorial, do que o som pode causar. E eu acho que isso não foi diferente no disco."
- Pedro Tourinho, baixista da banda

Esse caminho sensorial aparece no álbum com a variedade dos gêneros explorados — afrobeat, funk, soul, rock e disco são alguns deles — e é guiado pelas colaborações com cantores e produtores especialistas nos respectivos assuntos.

Capa de Coração; Batalha; Celebração

O disco começa com "Coração", uma faixa de um minuto e meio feita só com sintetizador — é apresentado o universo da Bagum, no qual iremos nos debruçar pelos próximos 28 minutos. A introdução nos leva à "Sol e Ares", o segundo single lançado, que já dá o ritmo do disco — seguido de "Triunfo", um afrobeat em colaboração com Jorge Dubman (do Ifá Afrobeat), baterista e produtor faixa preta em vivência e pesquisa.

As colaborações se deram de maneira muito natural, e refletem uma relação profunda com o trabalho dos outros artistas: "Com cada faixa, a gente viu os caminhos que elas podiam levar, sabe? A maioria a gente fez o instrumental primeiro — a maioria das coisas partiu da gente — mas é massa você escutar a música, sentir, e pensar: 'pô, o que cabe mais aqui, o que a gente pode trazer para agregar nisso?", conta Gabriel. A quarta faixa do disco é uma colaboração com Paulo DK (do Deekapz), "Noite em Tóquio", que transporta o ouvinte para a pista, com ares de disco music e vapor wave.

Por mais que a Bagum seja uma banda instrumental, não é estranho vê-los acompanhados de vozes — fazem shows com Livia Nery e VANDAL — e pessoas cantando sempre foram uma "extensão do núcleo da Bagum", conta Pedro Tourinho, que acrescenta: "o instrumental surgiu na Bagum por uma necessidade de se expressar. São pessoas que se conhecem há muito tempo e todo mundo que chega pra somar acaba tendo uma relação muito forte — não tinha como isso ser diferente no disco".

A quinta faixa, que foi o primeiro single, traz uma lovesong com feats de Fiteck e Liz Kaweria, uma espécie de "refrescamento" das colaborações com Livia Nery e VANDAL — uma tradução da grande admiração que a banda tem pela cena de Salvador, fonte das principais vivências e inspirações do grupo.

"O disco traz uma parada que é bem leal com o tanto de caminhada individual que cada um teve até aqui. Ele traz bem nítido essa questão das vivências que a gente teve aqui em Salvador e que levou a gente a formar a banda."
- Gabriel Burgos, o baterista da Bagum

Essas trocas com os cantores, como conta Gabriel, modificam o som da banda, trazendo uma mistura de influências: "o próprio lance que a gente teve ali nos shows de Livia Nery e VANDAL, que foram artistas com voz que passaram a ter a gente como banda, isso também acabou moldando um pouco a forma da gente enxergar o som e fazer, e acho que isso refletiu no disco".

Contracapa de Coração; Batalha; Celebração

VANDAL aparece em duas faixas. "FLORATTAH REDH" é a primeira, um rock que mostra mais uma das várias facetas do rapper. Presença unânime na cena de Salvador, pioneiro no grime, drill e trap no Brasil, colabora com a Bagum desde 2022, com o single "BIKINIH & CEROLH".

"FLORATTAH REDH" ganhou um remix assinado pela galera da Boogarins, banda goiana de rock psicodélico, mas que chegou com intervenções eletrônicas, distorções e elementos de gêneros como jersey club e drum and bass, fechando o disco com uma viagem para outro lugar.

"Quando a gente traz esse lance de importância no cenário nacional, é porque a gente se posiciona também como uma banda que está em diálogo com pessoas de outros estados. É mais no sentido de abranger isso mesmo, de tratar o projeto como uma coisa de Salvador, da Bahia, e Brasil também."
- Gabriel Burgos

Quando questionado sobre o nome do disco, Gabriel me explicou os três termos, começando com Coração: "É um projeto pessoal, né? Ninguém chegou a ser contratado por ninguém — é um lance de amizade, que a gente se bateu para fazer um som baseado no nosso gosto pessoal, no que a gente acredita mesmo em fazer. Batalha porque, por si só, o projeto instrumental alternativo já é uma coisa não tão tangível, é uma coisa mais segmentada. As questões de mercado também, são outros esquemas para fazer isso e todas as formas que a gente pensou de levantar um CD, que a gente começou a pensar há anos atrás, seja através de edital, de projetos que poderiam patrocinar, de instituições, a gente viu que não ia ser uma coisa tão fácil de fazer. Celebração porque, apesar de tudo isso, é sempre um ambiente muito familiar, que promove muitos momentos legais pra gente — de aprendizado ou de vivências, né? Fazendo música, pensando em música, querendo trazer isso e levantar essas possibilidades do 'fazer musical' mesmo. De você ouvir as coisas que você gosta, ir vivendo a música, a musicalidade que tá em você, a criatividade, e conseguir transpor isso da forma que for possível, seja se você vai produzir em um ano, 2 anos, 3 anos, 5 anos, eu acho que é o 'fazer musical' e acreditar no som. Isso é a parada que eu mais prezo com o projeto."

"A gente quer que cada pessoa tenha seu coração, batalha e celebração visível. A gente quer que cada pessoa pegue seu amuleto, se apegue a isso e que sirva como a motivação sempre, e que alimente sempre essa vontade da gente de criar, independente de fatores externos. A Bagum não tem uma pretensão de querer soar como algo. Acho que a gente só pode falar o que a gente é mesmo, e as coisas como elas são. Acho que o resto, quem escuta, quem acompanha, a gente vai dizer melhor com o tempo", completa o baterista.

Foto: David Auster

O disco terá o seu show de lançamento no dia 04 de outubro, no Sesc Pelourinho, com participações de VANDAL, Livia Nery e Fiteck: "a gente tá bem animado, porque vai ser uma oportunidade que a gente vai ter de mostrar o disco cabo a rabo, da primeira faixa até a última — vai ser um dia de celebração de música instrumental alternativa", reflete Gabriel.

Ouça agora Coração; Batalha; Celebração, primeiro álbum da Bagum, já disponível nas plataformas de streaming.


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