A 411VM era a internet dos skatistas em tempos analógicos

Como uma videomagazine foi o principal divulgador do skate mundial por mais de uma década

A 411VM era a internet dos skatistas em tempos analógicos

Em 1993, Josh Friedberg, Steve Douglas e Paul Schmitt criaram um polo de conexão entre videomakers e skatistas do mundo todo: a 411VM, uma videomagazine que mesclava imagens de vários videomakers e de vários skatistas em diferentes seções, de amadores a profissionais, de caras novas a lendas já conceituadas. 

Os fundadores com outros personagens muito importantes na história da 411vm

Desde sua primeira edição, a 411VM já trazia todos esses elementos em fita VHS com mais de uma hora de duração. Através dos vídeos, você conhecia skateparks, skateshops, picos do mundo todo e skatistas diversos. As marcas anunciavam antes, durante e depois das seções. Eram 6 edições regulares por ano e algumas outras especiais com campeonatos e viagens, mas de fato a 411 era um lugar para skatistas terem manobras em vídeo além dos que eram só apresentados nos vídeos das marcas de skate.

A primeira edição da 411, lançada em 1993

Foram 67 edições tradicionais e mais de 40 outras que eram focadas em uma coisa só, como capotes, skatistas do mundo todo, viagens e best ofs. 

A primeira manobra de um 411VM foi dada por Jeremy Wray

Frames de diversas edições lançadas pela 411vm

Edição brasileira 

Do meio pro final da vida útil das 411vm, eles começaram a fazer edições focadas em lugares. A edição 64 tinha a cor verde e amarela e focava em skatistas brasileiros. De Og de Souza a Bob Burnquist, era um mix de vários skatistas que, se não eram lendas, iriam virar nos anos seguintes. 

A trilha sonora tinha toda a ideia brasileira e sons locais, como KL Jay, A Filial e SP Funk, mesclando com músicas que tinham Brasil no nome de alguma forma, como Jets to Brazil e Rio de Janeiro, do Ugly Duckling. 

Uma edição histórica e muito celebrada no mundo todo

Uma biblioteca de música para skatistas se inspirarem

Ali começaram a ver que o uso de qualquer música nos vídeos não era permitido sem pagar os devidos direitos de licença então, diferentemente de vídeos anteriores de outras marcas, o 411vm pensava nisso, até pra não pagar rios de dinheiro para usar uma música do Skid Row ou um beat de uma música do James Brown. 

O que sobrava então para uma videomagazine nichada? Músicas alternativas, bandas pequenas, rappers que estavam começando e, sim, muita coisa de gosto duvidoso que era meio que “free-soundtrack” da época e que não necessariamente fazia sentido pra ser a trilha sonora do Tom Penny dando flip de front. Mas nem assim os skatistas deixavam de ir atrás daquela trilha sonora e, com certeza, cada música ali inspirava algum doido pra ir andar de skate depois.

Os 411vm traziam também videoclipes de artistas diversos que faziam sentido no mundo do skate. Na edição do Brasil, o clipe de “phony ride” do artista bumblebeez81 vem depois do fechamento do vídeo e era mais uma forma do skatista conhecer novos sons através da videomagazine. 

Isso sem contar a icônica música de abertura, que muitos skatistas reconhecem só de ouvir a intro de bateria. O artista era o Sol e a música é a Boxcar, que depois viria a ser relançada no disco Risen. Um ícone de nostalgia e que liga a mente de skatistas do mundo todo a esse sentimento core de pertencimento à comunidade do skate. 

Quem não pensa em skate com esse som deve estar maluco

Videomagazines brasileiras

A 411vm não foi a primeira videomagazine, mas com certeza foi a mais inovadora e mais proeminente da história do skate, influenciando outras ao redor do mundo. Aqui no Brasil, nos anos 90 a gente foi rapidamente impactado pela cultura de revistas em vídeo e em 1993 surge a Silly Society, do Cris Mateus e em 1995 a Chiclé VM, de Duda Santos. 

Segundo o Duda, em seu podcast, "a 411 foi uma grande influência, com certeza, mas os vídeos de skate, com parte e música, como os da Plan B foram muito importantes". Já para Cris Mateus, a ideia de criar uma videomagazine brasileira se deu depois de uma viagem para a Europa em 1993, onde viu a 411VM pela primeira vez e se inspirou pra fazer uma "versão brasileira".

Em 1993 já tinha videomagazine brasileira

Hoje em dia, a 55VM é um encontro de conteúdos criados de maneira autoral com a biblioteca de vídeos de skate nacional, inclusive com essas videomagazines em seu catálogo. 

Falando nisso, e como ficou a 411VM com a internet?

De fato, a vida útil das videomagazines foi vendo seu fim quando a internet começou a abraçar os vídeos nos Youtubes da vida e em outros sites. Tudo foi mudando: as câmeras, os formatos de reprodução, a qualidade e até mesmo o jeito que a gente, enquanto espectador, recebia esses conteúdos para assistir.

Com o tempo, nossa atenção foi ficando cada vez mais reduzida no emaranhado de muitas possibilidades de conteúdo, inclusive no skate. A 411VM durou até 2005 e foi tudo o que o skatista analógico precisava durante 1h20 aproximadamente de duração de cada um dos seus vídeos.

Hoje a Transworld Skateboarding (que vale lembrar que a revista não existe mais também muito por causa da internet) digitalizou todas as edições da 411VM e você pode assistir no Youtube.


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