Um Terno Rei mais maduro no álbum novo
Greg Maya fala sobre “Nenhuma Estrela”

O Terno Rei lançou em abril de 2025 seu quinto álbum, intitulado “Nenhuma Estrela”, pela Balaclava Records. Os primeiros singles foram as músicas “Nada Igual” e “Viver de Amor” e os caras já até lançaram alguns clipes do álbum.
Para falar sobre o processo criativo e as influências que estão no álbum novo, o Greg Maya, guitarrista e multi-instrumentista da banda, trocou uma ideia com a gente e você sabe de tudo agora pelas falas dele mesmo:
Processo Criativo de “Nenhuma Estrela”
Estávamos dois anos em tour com os álbuns Violeta e Gêmeos, que aconteceram um pouco juntos por causa da pandemia. Então decidimos realmente fazer uma pausa, congelar a agenda para fazer o álbum novo. No meio das tours não dá pra fazer muita coisa, dá pra pensar em alguma ideia ou outra, mas você tem que parar mesmo para poder focar. Chegam um monte de proposta boa, de grana e de lugar, mas você tem que congelar a agenda pra fazer isso acontecer, não tem jeito.
Para esse processo criativo, tivemos um ano, foi bem corrido. Estávamos três anos sem lançar álbum novo e nesse tempo tem fã que pede som novo, pessoas perguntam sobre novos lançamentos e a gente mesmo querendo fazer coisa nova, querendo se puxar.
A gente começou a se reunir na minha casa, que tem um estúdio legal. O Ale também tem um home estúdio pequeno e tinha umas prés gravadas, então juntamos tudo isso. O Bruno trouxe uns riffs e algumas músicas saíram deles, tipo umas 3 músicas das 13 que estão no álbum. Então foi esse o começo, se reunindo em casa, fazendo prés, tivemos ajuda do Rob, que estava morando em casa e também trampa com produção e nos ajudou, foi um adianto. Muita coisa que gravamos nessas prés a gente usou no álbum, tipo sintetizadores, porque já tinha ficado muito legal! Quando chegamos em umas 10 músicas, levamos para o produtor do Terno Rei, o Gustavo Schirmer, que fica em Curitiba. Lá foi fritação, imersão total. Alguns dias de só ir pro estúdio de manhã, focar no álbum o dia inteiro e ir embora de noitão. Fomos umas três vezes pra lá e passamos uns quatro dias cada vez.

Novos clipes
A gente queria aparecer de um jeito diferente nesse álbum. Não queríamos mais ter a skin de skatista, de moleque indie, tá ligado? Igual ao Mac DeMarco, sabe? (risos). Começamos a pegar referência tipo “Trainspotting” e no primeiro clipe a gente teve a ideia de ser um pouco tipo “Cães de Aluguel”, referência que veio do diretor.
Queríamos fazer algo de terno de noite e ele falou “não, vamos fazer de dia, com vocês se fudendo de terno no sol” (risos). A gente abraçou a ideia na hora e foi muito legal. Essa ideia de trazer uma roupagem nova também nos clipes, nas fotos, foi massa.
São três clipes e, não necessariamente, eles tem uma sequência. Os dois primeiros tem um mood parecido, vestido de social, meio trambiqueiro, meio filmezinho. O terceiro já é a gente tocando, sendo mais indie, porque a música é a mais indie do disco. Mas olhando os três até existe uma unidade, sim!
Mixagem
Uma coisa que foi nova pra gente nesse disco foi fazer uma mixagem com um cara francês que mora em Nova Iorque, o Nicolas Vernhes, que já trampou com Bjork, War on Drugs, uma galera muito foda.
Um fato curioso foi que a gente mandou a proposta pra ele e ele nos devolveu com um preço um pouco mais caro e a gente meio que deixou quieto. Aí ele ouviu nosso som das prés e retornou dando um salve que iria fazer porque tinha curtido o som! Ele falou que tinha umas milhas e decidiu colar no Brasil pra fazer com a gente!
Ele ficou 10 dias em casa mixando a parada e ficou uma mix muito boa, uma mix que a gente gostou de verdade, parece que deu uma elevada no som. E é diferente você trabalhar com um cara de fora, tem um modus operandi diferente, não teve muito pitaco de produção, é mais no sentido de ouvir nossas ideias, tentativa e erro mas levando em consideração o que gostaríamos, sem muito ego.
Capa do álbum
A capa e a identidade do álbum é também de um artista de fora do país, um português de Lisboa que mora em Nova Iorque, o Braulio Amado.
Geralmente era eu quem fazia e eu fiz todas. Se era foto, eu ia com o fotógrafo dirigir a foto, tá ligado? Mas dessa vez tentamos achar alguém que curtíamos e esse cara todos da banda curtiam, unânime, e isso é raro de acontecer! Aí falamos com ele, que é conhecido por fazer capas de disco, e foi legal.
Mandamos o disco pra ele e ele topou! A gente mandou um pdfzinho de mood, queríamos uma capa mais escura, que é diferente dos moods de capas anteriores, mais claras, e mandamos também umas referências tipo Rainbows do Radiohead, entre outras capas, mais o trabalho dele e ele mandou essa.
Uns pontos que, se você ligar, quase forma uma estrela. É até engraçado, formava uma estrela antes, quando tínhamos 14 músicas e quando tiramos, ele teve que tirar o número 14 e até melhor porque agora realmente não forma uma estrela e combina com o nome do álbum - Nenhuma Estrela. Aí deu boa!
Mas tem cores atrás do álbum também, porque não é só escuro, tem cores nas músicas também.
Produção
Uma diferença de produção desse álbum para o Gêmeos, o anterior, é que a gente voltou a ter um produtor só. No último a gente foi com dois, Gustavo Schirmer e Janluska - e também tinha o Amadeus, que auxiliou o Gustavo - e no Nenhuma Estrela a gente foi só com o Gustavo.
A dinâmica é diferente, a gente teve uma troca bem grande, o Gustavo é muito monstro, toca de tudo, e conseguiu adicionar bastante camada boa. Tem dois sentimentos quando você faz um som: um que você tem que saber a hora que tá bom, não adicionar mais nada; outro é quando você sabe que pode ir além, então tem que dar uma fritada no som, pra chegar naquele lugar que você sabe que vai bater.
A gente fez 14 músicas e lançou 13. Então num futuro pode ter um lançamento de um bônus track desse álbum. Pode ter mais coisa pra falar dele.
Um Terno Rei mais maduro
No Gêmeos a gente estava numa pira anos 2000 e nesse novo quisemos voltar para o que fazíamos anteriormente. Teve uma influência de bastante coisa que estávamos ouvindo, umas bandas mais diferentes, não só The Smiths, que todo mundo sabe que a gente se inspira (risos). Teve influências de Mark Willians Lewis, Alex G, Bar Italia, AG Cook, essas coisas.
Esse foi um disco que a gente acredita que seja mais maduro, a gente sabe o que quis fazer com ele. Queríamos ter umas nuances mais maduras, chegar em lugares mais obscuros também. Nas letras a gente fala bastante de mudar de fase, de amadurecer mesmo. É meio que um Terno Rei 2.0, mas com coisas que a gente gosta e que quis fazer melhorado.
Pô cara, vou fazer 38 esse ano, tem que sair um pouco da síndrome de Peter Pan (risos). É também um reflexo da vida, de encarar a vida de outra forma. De ter mais responsabilidade, de não ficar de risadola por aí em todo canto. Foi algo bem natural pra banda, para todos.
Existe sim uma pressão externa, de pensar no que as pessoas vão curtir e de pensar no que elas estão pedindo, mas a gente sempre fez o som primeiro pra gente gostar. Tem alguns fãs que ficam esperando um segundo Violeta, sabe? Mas o artista sempre vai fazer o próximo, o Violeta já está lá, ele já existe! (risos)
Um disco não nasce um instant classic, tem que digerir, você precisa ver as músicas ao vivo, tá ligado? Tem gente que não curtiu na hora, mas depois cria uma conexão, uma história com a música e começa a gostar.
Ouça o Nenhuma Estrela na íntegra