Trilha dos jogos do Tony Hawk: você também sofreu influência
O impacto das músicas dos primeiros jogos do Tony Hawk’s Pro Skater em várias gerações de skatistas, jogos e jogadores

29 de setembro de 1999 foi lançado o primeiro jogo de videogame que levava o nome do lendário skatista Tony Hawk, o Tony Hawk’s Pro Skater, desenvolvido pela Neversoft e publicado pela Activision. Esse jogo, que a princípio era mais uma aposta de jogos de videogame esportivos com grandes astros do segmento, veio se tornar um marco de como se fazer jogos com personagens reais e de como trazer a cultura daquele segmento em cada jogada.
Os jogos do Tony Hawk tinham tudo que a cena do skate sempre curtiu: skatistas de verdade como personagens, pistas que lembravam picos históricos, vídeos que rolavam com manobras reais e, um dos features que mais marcaram todos os outros depois foi ela: a trilha musical.
Enquanto outros jogos traziam trilhas próprias ou que tinham o elemento “radicalidade”, os jogos da franquia da Neversoft foram na raiz da cultura, pegando bandas e artistas que realmente faziam sentido para estarem na trilha sonora do rolê dos skatistas. Essa foi mais uma das preocupações que a galera desenvolvedora sempre teve com o jogo ser fiel à sua cultura.
Existe até um vídeo bem curioso dos desenvolvedores fazendo um campeonato de quem dava flip primeiro (lembrando que esses caras não eram necessariamente skatistas, enquanto desenvolviam o Tony Hawk’s Pro Skater, estavam desenvolvendo jogos de tiro e de fantasia e não necessariamente viviam esses universos). Mas fato é que, desde o primeiro jogo, existiu uma preocupação com a cena do skate muito grande.
Então desde a primeira edição você já tinha bandas e artistas icônicos: Goldfinger, Primus, Dead Kennedys, Suicidal Tendencies, The Vandals, entre outros. Uns mais conhecidos que outros, com certeza, mas depois do jogo, todas essas músicas viraram hinos para skatistas e pessoas que jogaram o jogo.

O impacto das trilhas sonoras do Tony Hawk também nas bandas
Depois dessa primeira edição, vieram mais de 15 até hoje. A mais recente foi lançada em 2025 e é uma reedição das versões 3 e 4 - e literalmente tem o nome Tony Hawk’s Pro Skater 3+4. Algumas foram mais marcantes que outras, tanto em termos de jogo quanto em termos de trilha. Outras mesclaram essas duas coisas tão bem, que moram no coração de muito jogador e a playlist está salva nos Spotify da vida de muito skatista.
As trilhas sonoras dos jogos mudaram não só a vida de quem ouvia, mas também de muitas das bandas envolvidas. A banda Goldfinger e a sua música Superman são sinônimas do jogo, tendo uma relação próxima de nostalgia - é ouvir a música e voltar à ser criança/adolescente jogando o primeiro jogo do Tony. A música não foi feita pro jogo, está no álbum de 1997 da banda, chamado “Hang Ups” e foi escolhida pela crew do jogo para estar nesse primeiro. Essa história fez a banda estourar e fez o jogo também ser popular por sua escolha musical, tanto que até um documentário do jogo leva o nome “Pretending I’m a Superman”, fazendo referência a essa música do Goldfinger.
Em um podcast chamado Hawk vs Wolf, o vocalista do Goldfinger, John Feldmann, comenta que “a música só estourou por causa do jogo; a gente estava em uma tour na Inglaterra e essa música estava no meio do set e quando a gente tocou a galera foi à loucura - isso foi por causa do jogo!”
“O Tony Hawk’s Pro Skater 1 mudou a minha vida, mas eu nunca joguei!” - John Feldmann
Tony Hawk cantando Superman com o Goldfinger
Outras bandas e artistas também beberam muito do sucesso das trilhas dos jogos do Tony Hawk: Rage Against the Machine, Millencolin, Lagwagon, AFI, Del the Funky Homosapiens, Lootpack, entre outros que, mesmo com seu sucesso próprio, foram impulsionados para o universo do skate fazendo parte dessas trilhas.
Tony Hawk’s Pro Skater 2
O segundo jogo do Tony Hawk foi um dos mais influentes em muitos âmbitos. Dos skatistas convidados, dessa vez com mais gente que o primeiro, incluindo personagens secretos como o Officer Dick e o Homem Aranha, marcas reais do skate, até sua trilha musical que contava com Rage Against the Machine, Bad Religion, Fu Machu, Lagwagon, Papa Roach, Anthrax e Public Enemy, entre outros.
Esse é um jogo que, se você tem mais de 30 anos, sofreu influência fortíssima porque o primeiro foi tão grande, que a expectativa para o segundo era alta - e o jogo respondeu à altura. Jogo foda e com certeza essa trilha te marcou de alguma forma. Para os caras do Papa Roach, ter uma música nesse jogo mudou tudo.
“A gente não pode deixar de tocar a música que está no jogo. É uma que faz sucesso até hoje nos shows e é por causa do Tony Hawk!” - Tobin Esperance, Papa Roach
Papa Roach apareceu no segundo jogo
Tony Hawk, em entrevista para a BBC, comenta que “uma vez que as trilhas sonoras também começaram a fazer parte, as pessoas estavam na expectativa também de quais músicas iam sair no jogo - era como um programa de rádio underground”.

O impacto em skatistas, campeonatos e na cultura do skate
Apesar da trilha musical dos jogos do Tony Hawk beberam da fonte da cultura do skate, depois de um tempo as coisas foram influenciadas pelos dois lados e o jogo também começou a morar na trilha sonora da vida dos skatistas sem, necessariamente, ter vivido em uma pista de skate antes. Bandas como Nebula, The Distillers, Aceyalone, Blind Iris, Deltron 3030, Aesop Rock e até outras mais famosas e estabelecidas como Kiss e Johnny Cash começaram a fazer parte do dia a dia do som dos skatistas por causa dos jogos lançados quase todos os anos.
Muitas bandas foram muito mais ouvidas nos jogos do Tony Hawk do que em suas próprias discografias. O jogo ia mais longe do que a própria banda e suas músicas ecoavam além do seu público.
Cole Nowick, autor do livro “Right, Down, + Circle”, que é uma história oral dos jogos do Tony Hawk, comenta que talvez o sucesso do jogo não seria tão grande se fosse outro skatista central: “Tony tinha acabado de dar o seu primeiro 900 e era um ícone de esportes radicais”. Para ele, Tony era o cara certo também por ser mais polido, mais atleta, mais educado, na visão dele, do que outros skatistas da cultura do skate.
“Se fosse Chad Muska’s Pro Skater seria tão grande?” - Cole Nowick
Para ele, vale lembrar também que o skate era mais “cool”, mais barato e acessível do que outros esportes radicais e, talvez, por isso também foi uma cultura mais popular e mais fácil de ser cooptada por jovens da época.
Para Silvio Porretta, lead artist dos jogos do Tony Hawk, o lance da trilha musical com bandas reais foi incomum, mas fez total sentido para a série de skate. Para o Tony Hawk, depois dos jogos, não era estranho um moleque conhecer o skate por causa do videogame. “Essa não era a intenção original, mas em algum momento percebi que isso estava começando a acontecer”, ele comenta.
“Quando fiz jogos, quis pegar parte da cultura e comecei a colocar várias bandas neles. Era algo que estava nas pistas, era algo natural para skatistas”. - Tony Hawk em seu podcast
O impacto em outros jogos - até nele mesmo
Essa escolha de ter elementos musicais da cultura presentes no jogo também influenciou outros jogos que vieram depois, até de outras franquias. Jogos que levavam os nomes de outros atletas e seus segmentos, como Dave Mirra Freestyle BMX ou Kelly Slater’s Pro Surf também tinham músicas relacionadas com seus universos nos jogos. Os jogos de skate que fizeram grande sucesso depois, como a série EA Skate, Session e Skater XL também seguem essa fórmula, colocando hits da cena em sua história.
No jogo EA Skate 3, o que fez mais sucesso na série, tem até música que já apareceu em jogos do Tony Hawk que vieram antes: Bloodstains, do Agent Orange, aparece nele e no Tony Hawk’s Pro Skater 4, de 2002.
Agente Orange na trilha do quarto jogo
Esse impacto cultural nos jogos foi tão grande que influenciou até a série Tony Hawk, mesmo. Nos remakes dos jogos, como 1+2 e agora o 3+4, a equipe se preocupou em trazer os clássicos nos sons, além de novas bandas para a galera continuar conhecendo o que rola na cultura atual.
Tony Hawk ainda é parte da curadoria de sons para seus jogos. Nessa entrevista para a BBC, ele comenta que no 3+4 deu a dica de ter o Fontaines D.C., Idles e X-Ray Spex: “definitivamente foram minhas sugestões”. No 3+4, você ouve Motörhead, AFI, KRS-One e CKY, que ficou muito famosa com a música 96 Quite Bitter Beings, presente no jogo 3 original e volta para esse sendo uma das músicas principais.
Os jogos do Tony Hawk foram e são um dos exemplos mais fortes de como a música também influencia nos jogos, sejam eles de uma cultura nichada ou de alguma fantasia que explode a bolha. Tony Hawk e seus jogos influenciaram a cultura e expandiram o skate de uma forma que nenhum outro jogo conseguiu fazer com seu nicho e é por isso que suas músicas são tão influentes e importantes até hoje.
