O que fica depois que a onda passa?

Um faixa a faixa com o Matéria-Prima sobre seu recém-lançado disco em parceria com o produtor Barba Negra

O que fica depois que a onda passa?
Capa do disco "Depois que a onda passa". Arte por Gabriel Nast

“Depois que a onda passa” é um disco que nasceu da pausa e do respiro — um trabalho feito nas entrelinhas de outro, como uma reação espontânea e poética ao que batia na porta. É uma obra construída no intervalo, no descanso criativo que virou combustão, na batida que ecoava diferente e exigia outra escuta. Um projeto que, ao invés de correr com a maré, preferiu esperar a espuma baixar para mergulhar com mais profundidade.

Mais do que seguir tendências como o drumless ou esperar o eterno retorno do boom bap, o disco é uma afirmação da liberdade criativa: fazer depois, fazer do seu jeito, fazer quando fizer sentido. Com a caneta afiada, beats inspiradores do Barba Negra aka "O Terrível Ladrão de Loops" e influências que vão de MF Doom a Sérgio Sampaio, o álbum mistura cotidiano, lirismo e crítica com fluidez técnica e autenticidade rara.

É um som para depois — depois da onda, depois do hype, depois da pressa. Mas que chega na hora certa.

Entre videochamadas, mensagens de texto e de áudio trocadas via Whatsapp, encurtamos a distância que separa São Paulo de Belo Horizonte e falamos sobre o processo criativo do disco e de cada uma de suas onze faixas.


Se você tivesse que apresentar rapidamente pra alguém o “Depois que a onda passa”, como você faria?

Esse disco é um monte de coisa, mas no começo do processo ele foi um disco que é uma reação mais poética aos beats que chegavam para mim. Eu estava trabalhando no “novidadedasantiga” com o Jonas (Pheer), e aí para poder descansar do trabalho, para ele não ficar tedioso, eu ia fazer outras coisas, né?

Eu descansava do outro disco escutando novos beats. E as ideias que eu não tinha tido no outro disco, eu comecei a ter escutando as batidas do Barba Negra, entendeu?

E, na época, essa coisa do drumless estava muito quente. E como eu estava trabalhando num disco que era uma outra coisa, comecei a já pensar como que seria isso para mim e pensei que seria uma coisa que eu ia fazer depois que a onda do drumless passar. E, na mesma época, tinha já aquele papo no ar de que o boom bap ia voltar. E aí falei assim, “beleza, eu já tô aqui no boom bap, e vocês aí falando que o negócio vai voltar? Pra mim nem foi”. Por isso que no novidadedasantiga eu falo “ele voltou, mas ele nunca foi!”.

Nessa época eu estava trocando uma ideia com o Pedro Pinhel do Original Pinheiros Style sobre o disco do Barba Negra com o Akira (Presidente) e eu falei "Pô, esse disco tá cremoso, hein, velho? Gostoso pra caralho”. E daí surgiu essa vontade de fazer alguma coisa com o Barba, e o Pedro conhecia ele e fez a ponte.

Daí o Barba Negra mandou uma pasta cheia de beats e eu já fui canetando, na mesma época em que estava fazendo o novidadedasantiga. A caneta estava em chamas. Acho que no dia que os beats chegaram eu já comecei a canetar pra três, na primeira semana já tinha feito pelo menos uns dois sons. E tinha uma coesão na sonoridade, né? Fica mais fácil de criar assim…

Você se lembra qual a primeira música que você canetou?

Cara, não lembro. Se não me engano, foi a “Pro dia render” que originalmente era em outro beat, que era um beat muito mais foda. Mas aí rolou um negócio lá que o Barba tinha passado esse mesmo beat para uma outra pessoa, daí eu demorei pra bater o martelo nele e aí o beat voou.

Puts, que tenso, mas acontece, né?

Nossa, e como, velho, mas doeu, viu? Eu só sei que nesse beat aí eu vou te falar que a música ia virar outra coisa. Mas é isso, vida que segue.

Matéria Prima por Bernardo Guerreiro

Bom, bora começar esse faixa a faixa, então? Me conta um pouco sobre o som que abre o disco, “Não há nada melhor”.

Em “Não há nada melhor”, às vezes o nome da música vem com sample, quando ela já vem com um refrão sampleado, né? Daí o refrão sampleado sugeriu o tema. Eu comecei a escrever e ela já veio com uma cara de intro, daí falei “acho que essa vai ser a intro mesmo”. Comecei a escrever, tentar trazer um pouco da cidade pra coisa, mas tentar falar um pouco da vida de MC também. E segui nessa coisa meio abstrata de dizer que não há nada melhor que ser um MC, entre outras mensagens em torno dessa frase.

Seguindo pra “Ideia de 1000”, como saiu essa? 

Cara, não sei, bicho. Os temas vão surgindo assim no final das contas, e o conceito dessa surgiu no final. Eu comecei a falar sobre essa coisa de 1000, começou a vir essa coisa da repetição e eu simplesmente segui o fio dessa coisa de 1000 fatos, 1000 coisas, 1000 situações. E aí no final veio essa coisa do 1000 ao contrário, que foi a cereja do bolo, né? A brincadeira dos três zeros a esquerda, de diminuir algo a ponto de se tornar só um CNPJ, só mais um número. Foi essa sacada que deu uma transformada no tema, porque essa coisa da repetição pela repetição estava meio sem propósito, um pouco vazio, eu acho. Essa essa brincadeira do CNPJ, dos três zeros à esquerda, trouxe um tom diferente pra música.

Indo pra “Multissilábica”, eu sei que esse é um recurso que você já vem experimentando em outros sons, né? E aqui você resolveu trabalhar como um tema... conta um pouquinho dela.

“Multisilábica, que cola mais que goma arábica, te deixa mais bobo que o strobo com a visão estrábica” é mais sobre o skill em si, né? Uma coisa de mostrar habilidade com a caneta. Estava gostoso de trabalhar com ela ali e fui deixando a caneta me levar… deixa a caneta me levar… (começa a cantarolar igual Zeca Pagodinho em Deixa a Vida me Levar). E aí eu fui cara, sem preocupação nenhuma para saber onde é que ia dar e tal, e fui fazendo esse ligue-os-pontos, aceitando que era só essa coisa de brincar com as palavras mesmo, tá ligado? Um exercício de escrita, mais do que qualquer coisa planejada ou que já tivesse algum rumo para tomar e tal, sabe? Foi uma grande aventura e eu acho que tem uma influência de (MF) Doom muito forte.

No lançamento eu fiz uma série de stories, falando quais foram as influências do disco, né? Você tem MIKE e Wiki, um disco que é produzido pelo Alchemist que chama “Faith Is a Rock”, bom pra caralho, aí tem Open Mike Eagle, que eu estava ouvindo muito, Homeboy Sandman que é maravilhoso, Aesop Rock, mano. Luis Tatit, Itamar, Sergio Sampaio…tem um som do Take 6 que chama “Come Unto Me” que é tipo um hino, uma passagem bíblica que eles cantam e é bonito pra caralho, eu colocava no talo pra dar uma desopilada do rap. Eu acho que eu fui reconfigurando o cérebro e, de repente, reorganizando as coisas que eu não consegui escrever pro “novidadedasantiga” e trouxe pra esse disco. Eu pulei de ponta nessa piscina aí de aliteração, tá ligado?

E que belo mergulho, hein? Bora pra próxima, então. “Plot twist!”

Tem músicas que você começa a escrever a partir do beat. Eu comecei a escrever essa letra e precisava encaixar e achei que faltava um storytelling nesse disco. Faltava esse elemento clássico de um disco de rap, que é uma crônica, uma contação de história, início, meio e fim, e tal.

Esse beat é bem cinematográfico, né? Ele tem uma coisa de suspense, aventura. E foi interessante porque todas essas coisas que eu narro na letra aconteceram no mesmo dia, velho. Aí cheguei em casa, falei: "Pô, mano, eu tenho que escrever isso aqui", aí fui ouvindo os beats e cheguei nesse beat aí que casou, então fui nessa, aparando as arestas. É muito louco, porque vários instrumentais desse disco me tocaram num lugar assim, de uma poesia sem limite, saca? Então eu estava tipo indomável, inclusive no flow, assim, não tinha muito dessa coisa de fazer um negócio que fosse muito quadradinho, tá ligado?

Matéria Prima por Bernardo Guerreiro

Você ter saído da sua zona de conforto mais do boom bap, te inspirou a fazer uma parada diferente, né?

Sim, de fazer uma coisa mais livre, poética, uma coisa que não precisasse ficar me preocupando com conceito, com direcionamento... E os beats me empurraram para esse lugar aí, para esse abismo de liberdade com a escrita, com tema, com flow, com a coisa toda.

Você acha que o o drumless tem essa característica, talvez de exigir mais do MC, da caneta, porque não tem aquela batida tão marcada, tão na cara? 

Há quem diga isso assim, há quem diga que pelo fato de você não ter o elemento kit de bateria, o drum kit, o sample, ele vai realçar o que você escreve, né? Você vai ter menos coisas para poder te distrair do que é dito. O elemento palavra, poesia, letra, conceito, o que quer que seja, ele fica mais evidente e então é bom se tiver com mais caneta. Se tiver uma caneta legal para poder conversar bastante com aquela textura ali, porque se sua caneta for boa, o sample vai ser realçado e a sua caneta vai ser realçada se o sample for legal também.

Vamos falar um pouco agora da “Veja Eu (Fim de Festa)”, talvez essa seja uma das faixas desse trabalho que te levaram pra um lugar mais diferente, né?

Ah, “Veja Eu”, esse beat sugeriu isso, já estava dentro do beat. Sabe quando você coloca uma moeda debaixo da página, aí você rabisca com o lápis em cima e tá lá o número? Foi tipo isso, cara. Eu ouvi o beat e já comecei a cantarolar uma coisa meio Nelson Gonçalves. Comecei a viajar nessa coisa de uma situação assim, tipo, na baixa e saiu isso. Porque esse beat ele é muito isso, né? esse sample é muito isso, e aí eu já comecei a pensar numa situação que fosse inusitada e cômica, tipo algo tragicômico, comecei a pensar bastante nisso.

É um cenário que dá para todo mundo se relacionar, né? E é muito louco que, esse disco, ele tem uma textura antiga, talvez pelos samples e tal, mas se você prestar atenção nas letras, todas elas estão trazendo situações do agora. É interessante trazer esse relato de uma situação que é do agora com essa textura e com essa referência do brega antigo, do brega véiaco, eu achei interessante fazer isso.

Eu gosto de pegar e trazer um gênero que não tem nada a ver com a composição, com a intenção, com a linguagem que o beat é e jogar para dentro, saca? Acho que todos os meus discos tem isso, tem pelo menos uma música assim… e no próximo, que já estou trabalhando vai ter também!

Eu acho louco porque tanto você quanto o Barba Negra tem um ritmo de lançar coisas novas, que é meio frenético, né? O Barba é meio que um Alchemist brasileiro, nunca vi alguém que lança tanto disco e tracks assim, né? E nenhum decepciona, né, cara? Todos são fodas...

Ah, não, pelo amor de Deus, cara. O Alchemist é muito bruxo. E o Barba vai nessa linha, né? E ainda tem toda uma energia real por trás de fazer as coisas, ele tem um esoterismo, ele pesquisa, ele tem a espiritualidade dele enquanto enquanto criador e tal e aí impregna tudo dessas forças, então o negócio fica mais impactante ainda.

É, e o bicho não para, né? É um grande serviço que ele faz aí pela pesquisa e pelo ofício de fazer com que o o artista que está dentro da moldura dele, saia da caixa e faça outras coisas, se desafie, se reinvente, se renove, isso aí é bom para caralho. O produtor pode te inspirar a ser um cara além do que você sempre é, e isso é o que ele faz muito bem.

Barba Negra, aka o Terrível Ladrão de Loops (Acervo pessoal / @oterrivelladraodeloops)

Legal demais, isso. Vamos seguindo aí pra próxima que é “Pro dia render”. Ela me passa uma vibe meio de aurora, de recomeço. Conta como foi o processo criativo dessa track.

Essa surgiu de um momento em que eu tinha acabado de voltar pra rua, depois de fazer um monte de função, e fui tentar descrever a sensação daquilo da forma mais poética possível. O beat original tinha um sample que tinha uma frase que era (começa a cantarolar) “hoje é mais um diaaa” e daí eu emendava com o “pra fazer o dia render”. Só que eu acho que eu demorei pra usar esse beat e o Barba (Negra) confiscou o beat (risos). Mas nos shows eu vou usar esse outro beat, não quero nem saber (risos). Daí quando eu escolhi esse outro beat que foi pro disco eu tive que criar um outro refrão. Mas no geral a ideia foi essa, foi bem simples, de querer emoldurar esse momento de correria, de função. 

O tema da "Solilóquo" - sobre falar sozinho - veio através do sample que abre ela, ou o Barba negra foi atrás do sample depois que você canetou a letra? 

Então, nesse som eu não sei se eu já estava com essa ideia de explorar esse hábito de falar sozinho, mas quando esse beat chegou, trouxe uma certa densidade, uma complexidade, profundidade digamos assim pra poder abordar esse tema. E eu comecei a desenhar isso, a princípio seria uma música mais melódica, cantada, daí eu fui gravar em São Paulo, no estúdio Track Cheio do nosso mano Cabes - que também fez a mix e a master do disco – e nesse vai e vem pra São Paulo você vê muitas cenas. Eu vi várias mulheres que são da fé muçulmana, e uma delas, uma imagem ficou presa na minha cabeça, e eu criei uma narrativa pra ela. Foi algo de última hora, tipo dois dias antes de gravar me veio um verso pra colocar no meio dessa música e eu gosto bastante desse verso porque é uma imagem muito bonita, muito coerente com o tema, tá ligado? Mas esses dois samples da música fui eu que busquei, eu precisava de uma âncora pra essa música, daí achei dois vídeos com especialistas falando sobre o tema que era o gancho que faltava.

"...ela não era turca mas também usava burka, vi tudo isso atravessando a rua com o sol batendo forte na minha nuca, pelo jeito não estava reclamando, ela olhou pro céu rapidamente, eu entendi, ela estava orando"

Irado. Vamos passar pra "Deus abençoe seus Pés (Ode a Cesária Evora)". Tem uma coisa nesse beat, nessa guitarrinha e na sua levada que pra mim soa muito nostálgico. Fiquei até tentando cavar para lembrar pra onde esse som estava me levando mas não consegui. Fala um pouco sobre ela.

Ela me lembra muito Simone, esse sample me lembra a Simone, pra caralho. “Deus abençoe seus Pés”, digamos que seja uma podolatria poética (risos). Eu estava fazendo massagem nos pés da minha parceira depois que ela chegou do trampo e ela estava bem cansada, depois tomamos uma breja juntos, ela foi dormir e eu fiquei viajando no lance dos pés, no trajeto que ela fez durante o dia, no caminho que os pés dela guardavam e da força que eles tem para viver o dia e seguir em frente.

Ela tem esse 4X4 (começa a cantarolar) que é bem confortante, né? E tem uma estrutura mais quadradinha, daí fiz um flow mais “certinho”, na preocupação de deixar ela mais fácil (de assimilar). Porque ela é mais gostosinha mesmo… E o lance da homenagem a Cesária no título, isso foi uma ideia do Barba e tá mais presente ali no sample que ele usou dela na construção do beat mesmo.

E a "Kerouac", surgiu mesmo só da sonoridade da palavra como você cita na letra ou você tem alguma conexão maior com a obra dele?

Então mano, eu não conheço muito a obra de Kerouac, não. Uma época eu li alguma coisa, pesquisando sobre jornalismo gonzo, Hunter Thompson, algumas coisas do Bukowski e cheguei em dois livros do Kerouac, que foram Vagabundos Iluminados e o On the Road. Mas eu estava lendo algo do Leminski quanto eu esbarrei novamente no Kerouac e daí eu comecei a repetir o nome dele brincando com outras palavras e comecei a ficar doidão de fonética (risos). E daí comecei a ir atrás disso, explorar esse exercício de escrita que deu nessa história aí.

O beat tem essa atmosfera que representa muito bem o que o Kerouac propunha, essa coisa da liberdade de escrita, de vivência, tem um elemento boêmio ali num sample desse beat que é a frase (cantarola o sample “…aos copos nos bares”). Daí todos esses elementos foram se encaixando, e tem um trecho que eu gosto muito da letra onde eu falo “...uma das influências de Big Daddy Kane era Janis Joplin, só porque eu falo de Kerouac vão me transformar num Goblin?”, porque são dois elementos brancos da cultura alternativa, né? E sabendo que pode soar problemático pra algumas pessoas eu falando de Kerouac com essa vontade, eu pego esse exemplo pra mostrar que não, que é normal, e que às vezes as pessoas tem influências que são surpreendentes. Eu gosto muito de mostrar que esse ícone do hip-hop pra nós, que é gigantesco, tem uma influência que é muito surpreendente.

"Fora da fôrma", não fora de forma. Finalmente chegamos nela, que é uma das minhas favoritas do disco. O som já começa com aquele beat sinistro do Barba, aquele clima tenso e você gastou a caneta nela, hein mano? E depois ali pro final entra a Killa Bi pra fechar com chave de ouro…

Essa aí é um xodó, viu? Tem um MC que ele me influencia muito, que é o MF Doom, que deus o tenha, e que vai ser reverenciado, respeitado, glorificado e estudado pra sempre por nós. E esse beat me levou muito pras coisas que ele fazia em termos de produção, e daí eu tive que dar uma encarnada nele (risos). Estava uma escrita mais solta, dentro dessa leva de batidas do Barba e aí já começou a vir, cara, umas coisas assim de fonética, de aliteração…

E estava tudo muito tenso na época também, eu estava acompanhando os desdobramentos políticos, sociais, raciais, enfim, tudo isso que a gente está sempre ligado pra entender como é que essa máquina do mundo tá funcionando, e comecei a escrever coisas ligadas a percepção do que estava mais próximo, dessa galera “bolsonarenta” que estavam na época planejando explosões, naquele desdobramento do 08 de janeiro. E aí eu falo um pouco disso, né? Um pouco de homofobia, falando um pouco de como eu me enxergo nesse jogo (começa a rimar)...

“fora de fôrma, não fora de forma, sou do tipo que não orna com a norma, rima interna que entorna tipo cisterna, se interna se quem não é cis te transtorna”

Puts, eu gosto muito desse pedacinho, cara, porque né, vai tomar no cu dessa galera que fica incomodada com quem quer ser o que quer, essa patrulha escrota que a gente tá vivendo, e aí eu tentei falar um pouco disso também e fui costurando vários assuntos sem perder o fio da fonética que eu acho que é o carro-chefe desse trabalho.

E eu tive a sorte da Gabi (Killa Bi) ter aceitado o convite pra poder fazer parte dessa música porque, porra cara, que presente que é a Gabi, viu? Que preseeente! Toda vez que você tiver a chance de ver um show da Gabi, vocês que estão aí em São Paulo ou por onde ela passar, se tiver a chance de estar na presença dela, por favor estejam. Se não na presença (física), na presença musical, então ouçam a Gabi Killa Bi porque puta que pariu, estamos abençoados, viu? Tive a chance de ter essa track com ela e espero ter a chance de estar fazendo parte de outras, porque ela fechou essa com chave de ouro como você mesmo disse.

Gabi Killa Bi (Acervo pessoal / @gabi_killabi)

Curiosamente, a track que fecha o disco é a que deu o nome a ele. Fala um pouco sobre a mensagem por trás dessa track - "Depois que a Onda Passa" - por que escolheu ela pra batizar o disco e como é a sensação de ter passado por várias ondas, e ter deixado algumas ondas passarem, ao longo de mais de 20 anos de carreira.

Enquanto estava todo mundo fazendo drumless, eu estava fazendo o “novidadedasantiga”. Estava todo mundo numa onda de drumless pra cima, drumless pra baixo, eu lá fazendo o “novidadedasantiga” com o Jonas Pheer quando eu recebi os beats do Barba. E aí eu comecei a pensar nessa questão da onda, né? Está todo mundo nessa onda aqui, então eu vou fazer esse trampo, que tá todo mundo fazendo agora, depois, vou esperar, vou deixar essa onda passar pra poder fazer o trabalho com essa estética. Porque aí eu quero ver como é que vai chegar, porque geralmente quando todo mundo está falando de uma coisa, eu deixo pra ver depois, pra não ter a minha opinião sobre a coisa afetada pela opinião de outra pessoa. Lembro quando saiu o disco DAMN, do Kendrick, eu só fui ouvir um mês depois que foi lançado, aí bateu do jeito que eu acho que tinha que bater, sem eu ter sido contaminado pela opinião emocionada de algumas pessoas, sabe? Saca quando é o primeiro disco que saiu no ano e já tem gente falando “caralhoooo manooo, melhor disco do ano"? (risos).

E na mesma época dessa onda que estava rolando forte o drumless tinha uma história de que “ai, porque o boom bap vai voltar, está todo mundo fazendo boom bap”, e "boom bap isso, boom bap aquilo" e eu falei “ué, onde o boom bap foi? Eu tô vendo ele aqui… Eu sou boom bap" (risos). No “novidadedasantiga” tem aquela frase “ele voltouuu, mas ele nunca foi”, tá ligado? Voltando a fazer boom bap, como assim?

Enfim, foi daí que surgiu o título do disco, “Depois que a onda passa” e passei a incorporar outros sentidos para essa frasa, saca? Tipo, e depois que as ondas passam, né velho? Depois que tudo passa, porque esse beat amarra muito bem esse conceito, né? Ele é muito sugestivo pra poder questionar mais coisas e se aprofundar, é um beat profundo, um beat denso. E é isso.

"depois que a onda passa, eu penso no que eu posso, sentado na praça em meio aos destroços de um tsunami que levou o meu apego, depois que a onda passa fica o caos e o sossego"

ISMO
Cultura em movimento

Assine nossa newsletter e receba
as últimas notícias em 1ª mão!

Assine agora