Como a literatura influencia o skate dos Flanantes

Entre picos e livros, indicações de Murilo Romão

Como a literatura influencia o skate dos Flanantes

Já falamos por aqui na ISMO, que para criar algo no universo do skate é importante olhar para outras referências. E se tem alguém que leva isso muito a sério é Murilo Romão, skatista profissional, videomaker dos mais prolíficos, e idealizador do coletivo Flanantes que, com recorrência, utiliza o universo da literatura como referência para os vídeos que produzem.

Andarilhagens, vídeo inspirado na vida e obra do pedagogo e filósofo brasileiro Paulo Freire

Já são dezenas de vídeos, entre filmes completos e séries que discutem temas como a ocupação do espaço urbano, arquitetura hostil, e aparatos de violência do Estado. Vale o mergulho na videografia do coletivo.

Pra ajudar a esclarecer os temas e dar um gostinho do que te espera na videografia, convidamos Murilo pra indicar 7 livros importantes na sua formação como criador. Em um país que lê em média 2,04 livros por ano, a lista é um excelente caminho pra aumentarmos esse número.

Percorrer a cidade a pé (Appris - 2022), de Verônica Veloso

"Esse eu conheci quando participei de uma conversa com a Verônica Veloso, que é mais das performances, das danças. Só que ela tem uma pesquisa cabulosa de caminhada, então tem bastante a ver com o rolê dos Flanantes. As referências se cruzaram bastante, eu fui lendo e conheci um monte de coisa que eu não conhecia também, mas tinha algumas coisas em comum das pesquisas dela com os vídeos que a gente fez nesse tempo."

TAZ (Autonomedia, 1991), Hackim Bey

"TAZ, que é o nome em inglês, mas que a gente se baseou pra fazer o vídeo ZAT, que é Zona Autônoma Temporária. É do Hakim Bey, anarquista, e ele fala sobre essas zonas autônomas que elas surgem, desaparecem, são temporárias. Como ocupações, que a gente relacionou com skate também. Lugares que surgem e somem. Então, um pouco nesse sentido, dessas comunidades que vivem meio nômades assim, fala bastante de cigano também. É nessa pegada. "

Orfeu Extático na Metrópole (Companhia das Letras - 1992), de Nicolau Sevcenko

"Esse eu fui conhecer através de um vídeo, uma aula sobre esse livro, do Nicolau Sevcenko, que é um historiador da cidade, que já morreu... Ele é das épocas dos anos 90, mais ou menos, mas ele pesquisa bastante coisa da semana de 22 em São Paulo. Então, essa coisa também de especulação imobiliária era um tema que ele gostava bastante.

Ele consegue fazer um resumão assim de uns bairros do Centro, mas histórias que não contam muito, como o bairro da Liberdade, que era o antigo bairro da Glória. Coisas de cidade mais mocada, sabe? Coisa que está dentro da cidade, mas que não falam muito. A relação da história da população negra no bairro da Liberdade... coisas do tipo."

Estética da Ginga (Casa da Palavra, 2001), de Paola Berenstein Jacques

"Essa Paola Berenstein é uma mestra lá na UFBA, na Bahia, e a gente usou bastante coisa que ela fez para os vídeos. Ela participou de uma banca de uma amiga nossa de arquitetura. Uma vez a gente acabou conhecendo ela ali na FAU-USP.

É gente fina, velho, gosta de skate. E vários assuntos que ela já pesquisou há muito tempo a gente acabou usando nos vídeos. Ela fala de rizomas, ela tem um livro que se chama Elogio aos Errantes, que a gente se baseou bastante para fazer os primeiros, falar das deambulações, essas coisas."

No Enxame (Vozes, 2018), Byung-Chul Han

"No Enxame é sobre rede social, no que está transformando a gente. É um livro que faz um tempo que saiu, então com certeza já foi bastante atualizado, tudo que tem acontecido com rede social. Mas é esse coreano, Byung-Chul Han, ele mora na Alemanha e dá aula lá de filosofias, eu acho. E ele está sempre analisando a sociedade contemporânea, essa relação com internet, é bem foda."

BH Anos 10 (2024), de Artênius Daniel

"Esse BH Anos 10 fala sobre as insurgências que aconteceram em BH nos últimos anos. Faz uma relação com os anos 10 [1910] e os anos de 2010, que foi quando começou esses rolê, tanto as batalha de rap, quanto o Viaduto Pedro de Santa Teresa... Tem vários movimentos que aconteceram de rua ali que lutam por uma cidade mais justa, coisas desse tipo. Gente que fica na rua e que tem uma truculência também em BH, por parte da polícia.

Então conta um pouco sobre essas coisas, assim como eles seguem resistindo. Praia da Estação também, que é um rolê lá que eles faziam uma festa na rua e a polícia começou a dar uma tesourada… É nesse sentido de direito à cidade, o assunto principal desse livro."

Distraídos Venceremos (Brasiliense, 1987), de Paulo Leminsky

"Então esse do Paulo Leminski é um clássico, né? Tipo, Distraídos Venceremos é livro de poesia que eu curto e acho que não tem muito o que falar sobre esse, na verdade, é bem classicão."

Murilo Romão em seu habitat natural Foto: Guilherme Veloso - Tupode

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