Além do skate: o olhar de Guilherme Guimarães
De Wilder a Tarantino, conheça um pouco de suas referências e inspirações

Para criar algo relevante dentro do universo do skate, às vezes é preciso sair dele. É com essa mentalidade que Guilherme Guimarães construiu sua trajetória como um dos nomes mais respeitados da produção audiovisual da cena. Diretor de obras como CityZen e Veredas, além de dezenas de outros projetos com a Converse Cons, Gui entende que criatividade não sobrevive no isolamento.
“Se você só consome o que está dentro do skate, fica condicionado a ele e não consegue enxergar todo o universo que existe ao nosso redor”, diz. Para ele, é essencial beber de outras fontes, buscar novas referências e se conectar com outras linguagens — da literatura ao cinema, da música ao cotidiano.
A convite da ISMO, Gui compartilhou uma seleção de filmes que marcaram seu caminho como fã de cinema e diretor. Obras que moldaram sua visão de mundo, sua estética e sua sensibilidade.
Confira essa lista, pra cinéfilo nenhum botar defeito, e aproveita que o fim de semana chegou pra mergulhar em algumas dessas obras.

Solaris (1976), de Andrei Tarkóvski
“Um cientista vai investigar por que uma tripulação está enlouquecendo em um planeta chamado Solaris — e acaba confrontando a própria consciência. Vi esse filme em uma tarde chuvosa na Cinemateca, sem planejar. Saí caminhando na chuva, tentando absorver o que tinha visto. É um filme sensacional, com ritmo muito diferente do que estamos acostumados hoje. Muito bonito, faz a gente pensar.”

2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick
“O Kubrick é meu diretor favorito. A cena do osso que vira nave é, pra mim, a melhor da história do cinema — ele resume milênios em segundos. A perfeição dos enquadramentos, a meticulosidade, tudo pensado nos mínimos detalhes. E um final que até hoje eu não sei se entendi direito (risos)… mas acho lindo. Ele fez somente nove filmes em sua carreira e cada um deles é uma obra prima”

O Iluminado (1980), de Stanley Kubrick
“Mais uma obra prima do Kubrick e depois desse filme, nunca mais consegui ver o Jack Nicholson da mesma forma. Toda vez que vejo ele assistindo aos jogos da NBA, pra mim ele é o cara do Iluminado. Assisti de novo recentemente no cinema e é impactante até hoje. Kubrick sabia usar o mistério, a imaginação. Ele fazia o espectador pensar — algo que falta em muito filme atual.”

Psicose (1960), de Alfred Hitchcock
“Mudou a história do cinema. O personagem principal morre logo no começo! E aquela cena do chuveiro, com a trilha do Bernard Herrmann… você não vê nada, mas sente tudo. A trilha sonora e os enquadramentos criam a tensão. É sobre sugerir, não mostrar.”

A Prova de Morte (2007), de Quentin Tarantino
“Meu favorito do Tarantino. Vi numa sessão noturna do Belas Artes, sozinho. Saí intrigado, pensando nos erros de corte, na estética tosca… depois fui entender as referências aos filmes B, às perseguições clássicas de carros, como Vanishing Point e Bullitt. Genial!”

Testemunha de Acusação (1957), de Billy Wilder
“Baseado numa obra da Agatha Christie — que eu adoro por influência da minha mãe. Meu irmão, que trabalhava na Livraria da Vila, me apresentou o Wilder. Esse filme tem um final completamente inesperado. É cinema clássico na sua forma mais elegante. Recentemente fui ver uma mostra dele no MIS”.

O Auto da Compadecida (2000), de Guel Arraes
“Não podia faltar uma obra nacional. Vi no cinema com meu pai, e saímos rindo demais. O filme brinca com a cultura, a religião, o folclore e o absurdo com leveza e afeto. Me lembrou Sagarana, do Guimarães Rosa — ambos tem essa divisão da história em pequenos contos e resgatam a alma do sertão e da cultura brasileira com histórias que parecem sem pé nem cabeça, mas que dizem muito.”
